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Os fatores arquitetônicos de interação, privacidade, flexibilidade e conforto são importantes para um bom ambiente de trabalho e, em conjunto, interferem na satisfação que as pessoas têm do local onde exercem sua atividade profissional.

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– As pessoas de fato percebem a arquitetura do lugar onde atuam – declara a arquiteta Érika Bataglia, autora da pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP intitulada Arquitetura de centros de pesquisas: um estudo de caso múltiplo quantitativo.

A ideia de que o espaço de trabalho pode ser um meio de gerar conhecimento motivou o estudo, que avaliou quatro centros de pesquisa europeus.

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– Três ambientes são essenciais em centros de pesquisa: os escritórios, os laboratórios (com os equipamentos específicos) e as áreas de encontro, já que a interação entre as pessoas é muito valorizada – explica Érika.

Prédios com muitos pavimentos, onde a área comum é muito distante dos escritórios, não favorecem a integração. Por outro lado, paredes transparentes e espaços amplos aumentam a visibilidade das pessoas e são positivos para que elas percebam o ambiente de forma mais favorável.

Ao mesmo tempo em que a interação é valorizada, a privacidade, principalmente nos centros de pesquisa, também é um aspecto importante no ambiente de trabalho.

– O pesquisador, por exemplo, precisa de um tempo para pensar e estudar. Ter um espaço e um momento só seu é essencial – relata a arquiteta.

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Assim, o local profissional deve oferecer condições para a comunicação e integração das pessoas, mas também condições para escolherem se querem estar sozinhas.

– Nos centros de pesquisa estudados, a quantidade de copas e pequenos estares encontrada é enorme. Ao mesmo tempo, a privacidade de cada pesquisador é respeitada.

Sobre a flexibilidade, Érika conta que, ao longo da pesquisa as pessoas não demonstraram ter essa questão muito nítida em relação a percepção favorável de seu local de trabalho.

– É como se este aspecto não interferisse tanto na satisfação – observa.

Ainda assim, em algumas ocasiões, como no momento de acrescentar um novo equipamento ao laboratório, a flexibilidade oferecida pela arquitetura é considerada.

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Por fim o item conforto, que segundo a pesquisa é tão ou mais importante que a possibilidade de integração.

– Ambientes com iluminação natural, com vista para o lado externo e com temperatura agradável são muito valorizados e influenciam na satisfação – descreve Érika, que completa: – Em casos em que isso não acontece as pessoas ficam menos satisfeitas.

Objetividade

Para realizar o estudo, Érika avaliou a percepção dos usuários dos quatro edifícios selecionados, utilizando um modelo de equações estruturais, uma ferramenta estatística para correlacionar fatores difíceis de medir, como os analisados na pesquisa.

– Com esse modelo eu meço numericamente, por exemplo, a relação de interação com a satisfação do ambiente de trabalho e torno isso mais objetivo.

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Sobre a importância da pesquisa, a arquiteta acredita que saber a relevância dos itens interação, privacidade, flexibilidade e conforto é válido para um melhor planejamento do ambiente de trabalho e para propor soluções mais eficazes em sua melhora.

– Se as pessoas se sentirem satisfeitas elas tendem a ficar mais criativas e produtivas – afirma e conclui: – Todos os fatores devem, em conjunto, ser levados em consideração e não isoladamente, porque juntos tiveram mais impacto positivo na percepção favorável das pessoas.

Os quatros centros de pesquisa analisados na pesquisa são: Instituto de Biociência, na Inglaterra, Instituto Max Planck de Ecologia Química, Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva e Instituto Max Planck de Biologia e Genética de Célula Molecular, todos na Alemanha. A tese foi defendida em maio deste ano e orientada pelo professor Paulo Julio Valentino Bruna, da FAU.