Talvez o que mais caracterize a obra de Arthur Casas, arquiteto dono de um dos portfólios mais incríveis do país, seja a paixão pelo modernismo. É curiosa, portanto, a localização da nossa entrevista: Jurerê Internacional. O bairro com suas obras neoclássicas é a própria antítese da incansável busca de Casas pelo diálogo dos projetos com as cidades onde estão inseridas e sua busca pela identidade brasileira. Ele é referência em escalas horizontais e mansões integradas e profundamente influenciadas pelo entorno.

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Embora esteja aumentando a atuação do escritório no Sul, encontrar o traço do arquiteto com 30 anos de experiência em Santa Catarina ainda é coisa rara. Neste momento, o único projeto em andamento por aqui é um empreendimento residencial na Praia Brava, em Itajaí. Durante um almoço no Cafe de La Musique, um dos arquitetos mais respeitados do país, trazido a Floripa pela Mac Design para lançar o livro Studio Arthur Casas, Works 2008-2015, que traz detalhes de 29 projetos assinados pelo arquiteto neste período, conversou com a coluna sobre estilos de morar, cidades que admira, projetos da vez, o entorno da entrevista e defendeu:

— O Brasil não é neoclássico, o Brasil é modernista.

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Estilos de morar, de Norte a Sul

O pessoal do Sul é mais tradicional na forma de morar e prefere construções clássicas. O Nordeste é mais arrojado, eles sempre gostaram de design, de arte popular. No entanto, a concentração de tendências de design ainda está em São Paulo seguido pelo Rio de Janeiro. Mas a nova geração do Sul é diferente. Estamos com muitos projetos em Curitiba e alguns em Porto Alegre. Em Curitiba temos vários, prédios, casas e até a faculdade de arquitetura. Sinto que temos espaço com essa nova geração que saiu, viajou, tem algumas referências e desapegou da tradição.

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Momento de arquitetura

Nos últimos 15 anos demos uma guinada. A arquitetura tinha parado entre o final dos anos 70 e os anos 2000. Desde o começo do século vivemos em um momento muito interessante. Há uma procura muito maior por uma arquitetura com autoria, mais enraizada com padrões modernos brasileiros. O que não é legal é agora com essa crise. Ela afeta a construção civil e atinge todo mundo.

Jurerê Internacional

Me lembra muito Alphaville (SP). Também lembra os projetos americanos, só que aqui os terrenos são pequenos quando comparados com os EUA. Parece que você compra o projeto na revista e manda fazer. Mas é o que é. E estamos falando da classe alta da cidade. Cheguei no hotel (em Jurerê Internacional) e me senti nos Estados Unidos, as casas parecem Alphaville (SP), mas daí a praia é Brasil. Nada tem uma cara própria, uma identidade. Se fosse fazer uma casa aqui, seria algo que não aparecesse tanto, meio mimetizada com a vegetação, eu ia olhar para vegetação, ver as espécies e me inspirar nelas.

Clientes

O cliente que chega no escritório já sabe o que vai encontrar. Ele está lá para me ensinar ou para aprender. Mas a gente sempre fala que quem mais pode acabar com seu projeto é o cliente. Você faz um projeto que você acha que é legal e o cliente vai mudando aqui e ali. Hoje eu posso me dar ao luxo de parar um projeto na hora. Até um certo ponto a gente afina dentro da expectativa desde que não agrida o projeto. Se agrediu, a gente enterra o projeto.

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Cidades-exemplo

Na maioria das cidades europeias, os projetos têm um diálogo com o entorno. Você não consegue fazer um projeto em Londres ou Paris ignorando o vizinho, o bairro. Em Paris, você inclusive tem que pedir uma autorização para um arquiteto, e tem um a cada quarteirão. É ele que vai dizer: ¿olha, você não pode colocar esse toldo vermelho no seu café porque não vai ficar legal¿. Estou fazendo um projeto em Londres e não pude mudar a cor do frame do caixilho porque todos têm de ser brancos. Isso faz as cidades serem bonitas. Isso que faz você ter vontade de ir para a cidade. Esse tipo de respeito com o passado e a história é o que as pessoas buscam quando elas vão viajar e que nós não temos aqui no Brasil. Talvez só em Paraty (RJ) e Ouro Preto (MG).

Estilo de vida

Eu viajo muito. No final de semana vou com minha esposa e meu filho para a praia, temos uma casa em Iporanga (litoral de São Paulo). Sou totalmente familiar. Com o escritório em Nova York, também vou bastante para lá.