Um dos maiores desafios do jornalismo, aquele que descabela até os repórteres grisalhos e faz tremer os novatos que voltam para a redação sem conteúdo para colocar no papel, consiste em conversar com seres com menos de um metro e 30 de altura.

Continua depois da publicidade

Não estamos nos referindo aos anões – eles são ótimos – mas sim às crianças. Por vezes muito tímidas, em outras expansivas demais, é difícil tirar delas respostas que rendam entrevistas que não sejam limitadas a “acho legal” e “gostei muito”.

No caso do novo personagem a ocupar um espaço na tirinha da página seis do Anexo, a repórter desligou o telefone depois da entrevista sem entender muito bem o que acabara de acontecer. A única certeza era: nosso novo contratado, o menino Armandinho, ficará de castigo.

Que o leitor não entenda mal: não apoiamos o trabalho infantil. Armandinho vive livremente suas peraltices e faz as perguntas que lhe der na telha, sem cobranças nem prazos a cumprir. Quem cuida de registrar sua rotina questionadora é o ilustrador Alexandre Beck, que já as enviava para o jornal Diário Catarinense, onde ele nasceu, e as publica na internet, fazendo com que o menino cabeçudo de cabelo azul, coração gigante e língua afiada chegue ao Anexo famoso no Brasil inteiro, mesmo tendo pouco mais de três anos de aparições regulares em tirinhas.

Continua depois da publicidade

Pela entrevista, o menino não parece se dar conta deste sucesso ainda. A torcida é que ele vire um Peter Pan, se mantendo um irmão de alma de personagens como Mafalda e Calvin – e nunca cresça.

Entrevista

Anexo – Armandinho, como é crescer com tanta gente curtindo você – só no Facebook são mais de 450 mil pessoas – e, agora, suas histórias aparecerem em mais um jornal?

Armandinho – Eu gosto de ler os quadrinhos do jornal! Meus pais não me deixam usar o Facebook porque precisa ser mais velho. Como é que a voz passa por esse fio?

Continua depois da publicidade

Anexo – O que você espera que aconteça com as pessoas que leem suas tirinhas cheias de perguntas? Você acha que, além de se divertirem, elas também começam a fazer estas e outras perguntas sobre o mundo e a sociedade?

Armandinho – Quem não pergunta não aprende, né? E quem contou da sociedade? Era segredo! Meu pai não pode saber que eu quero comprar um pônei com o Lucas. Posso usar o microfone?

Anexo – Qual é a parte mais legal de ser personagem de tirinhas? Você gosta que as pessoas te procurem e te escrevam?

Continua depois da publicidade

Armandinho – Gosto quando me escrevem, mas só posso responder depois que acabo os deveres. Alô? Alô?

Anexo – Revela para a gente: quanto tempo do seu dia você passa pensando nas “armações” que aparecem nas tirinhas?

Armandinho – Umas oitenta horas por dia. As outras horas eu fico de castigo. Pra que serve esse botão?

Continua depois da publicidade

Anexo – Você ainda é um menino, principalmente em comparação ao antigo personagem que ocupava o espaço da sua tirinha no Anexo, o Cão Tarado. Ele já vivia por aqui há 20 anos. Acha que terá vontade de contar suas histórias nas páginas dos jornais por tanto tempo?

Armandinho – Meu tio tem um cachorro de 12 anos. Quase não enxerga, o coitado. Ele anda batendo nas coisas. Dizem que cada ano pra gente vale sete anos pra um cachorro. Então esse deve ser o cachorro mais antigo do mundo! O que é “tarado”?

Anexo – O Cão Tarado e o autor dele, o Sandro, andaram se desentendendo. Como é sua relação com o Alexandre Beck?

Continua depois da publicidade

Armandinho – É ótima! Eu nem conheço ele. Cadê o sapo? Pra que serve esse pino aqui?

Anexo – Agora você está no segundo ano da escola, certo? O que espera que aconteça em 2014 (e que vamos acompanhar durante o ano)?

Armandinho – Desculpa! Quebrou, mas acho que dá pra colar. Não precisa ficar triste. Meu pai tem uma cola bem boa! Alô? Alô?