Argo é um filme com roteiro original. Esse já é um dos melhores elogios que se pode fazer a uma produção – afinal, é só olhar os filmes em cartaz nos cinemas e a sensação de déjà vu é frequente. Se o filme é uma comédia romântica, um rapaz conhece uma moça, no começo se odeiam, depois se apaixonam, enfrentam dificuldades, quase se separam e no final ficam juntos. No caso dos espiões, o agente secreto que fala 328 línguas e seduz as mulheres mais lindas sem nenhuma dificuldade, salva o mundo com um pé nas costas. O thriller com direção de Ben Affleck vai muito além disso.
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É um filme baseado numa narrativa bem elaborada, com edição mais lenta e a melhor atuação da carreira de Ben Affleck no papel do agente da CIA Tony Mendez. O roteiro aborda a situação política entre Irã e Estados Unidos entre 1979 e 1980. Depois de deposto, o aitolá Reza Pahlevi fugiu do país e se exilou no EUA, causando a revolta da população, que queria julgar o ditador pelos seus crimes. Iranianos invadem o consulado americano e fazem dezenas de reféns. No meio da confusão, seis funcionários do governo americano fogem e buscam refúgio no consulado canadense. A questão é: como tirar do país essas seis pessoas que correm o risco de serem enforcadas por uma multidão em fúria se colocarem o pé na rua?
O enredo tratou com profundidade o momento um momento histórico intenso mostrando os dois lados da questão. Sem julgar ou demonizar os iranianos e nem desmerecer a tentativa americana de proteger seus cidadãos durante uma revolução. É um filme sobre espionagem de verdade, sem agente-secreto-mestre-do-universo e sem nenhum erotismo barato.
A atuação de Ben Affleck é o grande destaque do filme. Tony Mendez é um homem comedido, atormentado por questões pessoais, com grande senso moral e carisma, forte e desamparado ao mesmo tempo. Affleck transmite tudo isso com delicadeza. O caráter do personagem está no olhar, no andar, na maneira de fumar e na caracterização impecável, que vai desde as sutis mechas de branco no cabelo até o corte anos 1980 dos ternos.
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Aclamado pela crítica, o filme merece os elogios recebidos e é uma das apostas do Oscar 2013. O enredo prende o espectador, causa expectativa e, ao mesmo tempo, alterna a tensão com momentos de futilidade, como a vida. Uma exploração delicada de planos de detalhe, que revelam o olhar de um menino assistindo televisão ou o movimento de um carimbo sobre um passaporte, revelam o cuidado com a fotografia do filme.
Com produção de George Clooney e Grant Heslov, que trabalharam juntos em Boa Noite e Boa Sorte, existe uma semelhança entre as duas produções, um desejo bem realizado de fazer cinema como antes, e não como agora. Fica a certeza de que se o cartaz traz o nome de Clooney, e agora o de Affleck, que está dando uma virada em sua carreira, vale a pena assistir.