“Já chega. Não dá para viver sempre com sacrifício. O preço da carne aumenta todos os dias”, denuncia Ezequiel González. Como muitos argentinos, ele deixou de confiar no governo, que não consegue conter a crise a financeira.
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A queda da moeda argentina – de mais de 50% desde janeiro – estimulou a inflação, que fechará perto de 40% em 2018.
Diariamente, González viaja duas horas de ônibus de Ciudad Evita, no subúrbio oeste da capital argentina, para trabalhar no hospital Pirovano, onde é encarregado da manutenção.
“Tudo é muito complicado. Cada dia é pior. Não sei aonde isso tudo vai parar”, acrescentou.
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Ele faz o máximo de horas extras possível e ganha cerca de 20.000 pesos (450 dólares) mensais. A quantia é insuficiente para o tradicional “asado”, o churrasco dos domingos da família.
“Os ‘asados’ são para os aniversários, a carne está muito cara”, lamenta.
– ‘Fora FMI’ –
Nas ruas de Buenos Aires, multiplicam-se as pichações que pedem “Fora FMI”.
As manifestações contra a política econômica do presidente de centro-direita Mauricio Macri acontecem quase todos os dias.
Em vários bairros de Buenos Aires e em outras cidades do país, já foram feitos “panelaços” contra sua política de austeridade.
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Embora essas mobilizações sejam bem menores do que as realizadas na crise de 2001, o descontentamento é generalizado.
“Estou desesperada. Me sinto impotente, tenho medo de passar fome e não poder mais pagar meus remédios quando me aposentar, daqui a um ano”, diz Graciela Pérez, professora de 64 anos.
– Crise de confiança –
“As pessoas esperam uma melhora depois de dois anos. A paciência acaba, fica a impressão de que quem nos governa não está à altura dos desafios econômicos”, comenta Antonio Buffo, de 50 anos.
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Depois de fechar, em junho, um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para emprestar 50 bilhões de dólares em três anos, o governo agora negocia uma antecipação desses desembolsos em troca de um ajuste mais rigoroso.
Edith Zaida trabalha à noite. Cuida de uma idosa e ganha 12.000 pesos por mês (300 dólares), além de criar seus quatro filhos de entre 5 e 14 anos durante o dia.
“São empresários, governam para os ricos”, acusa a mulher de 42 anos. “Cristina (Kirchner) cuidava mais dos pobres. Talvez tenha roubado, mas comemos bem com ela”, afirma, referindo-se aos governos da ex-presidente, entre 2007 e 2015.
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“Estou muito nervosa. Às vezes, começo a chorar de raiva”, confessa.
A popularidade de Macri despencou consideravelmente neste ano.
“Mais uma crise”, lamenta Imelda Rodríguez. “O dia a dia é cada vez mais difícil”, completa.
A assistente de direção de 43 anos declara que é de direita, votou em Macri em 2015 e detesta Cristina Kirchner.
“Me decepcionou, mas não há alternativas políticas melhores. Com todos os sacrifícios que ele nos pede, espero que pelo menos esta política dê resultados a longo prazo”, resigna-se.
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* AFP