Pelas ruas argentinas, começa a se formar um rugido, inicialmente agendado para retumbar no próximo dia 20, que pretende ser o mais alto já dado contra o governo de Cristina Kirchner. E será um rugido em coro, como raras vezes tem ocorrido na história do país: reunirá, pela primeira vez em muitos anos, as duas principais centrais sindicais argentinas: a Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA) e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). Trata-se de uma organização mais “de base” do que a promovida pela classe média, via redes sociais, na noite da última quinta-feira, com milhares de pessoas ressoando suas já tradicionais panelas vazias.

Continua depois da publicidade

Por trás do movimento que unifica o urro das bases trabalhistas, está, principalmente, a figura do secretário-geral da CTA, Pablo Micheli. Foi ele quem propôs uma agenda à esquerda do governo e que convidou a se sentar à mesma mesa o líder da CGT, Hugo Moyano, alinhado ao governo poucos meses atrás.

Depois de se reunir, na sede da CGT, os dois partirão para as ruas. Em entrevista a Zero Hora, Micheli adiantou que a pauta será basicamente econômica. Não que ele seja contra o debate de temas políticos, mas diz que a busca da presidente por modificar a Constituição para se reeleger novamente, por exemplo, não foi deliberada internamente.

Preocupado em ressalvar que é uma opinião pessoal, Micheli se diz contra a “rereeleição”. Assim como opina de uma forma bastante autêntica a respeito das desavenças entre o governo e órgãos de comunicação, especialmente o Grupo Clarín. Critica os dois. De um lado, o privado. De outro, o público, que diz ceder espaço para organizações sociais, mas que deixa de lado grupos que lhe são refratários, como a própria CTA.

– Há uma briga entre dois grupos poderosos, o grupo multimídia do governo e o do Clarín – afirma.

Continua depois da publicidade

Ou seja, não se trata apenas de um “monopólio” privado. Mas, também, do “monopólio público”.

A reunião histórica entre as duas centrais ocorreu no dia 22 de outubro, em Buenos Aires. Desde os anos 1990, não ocorria um encontro desse tipo – as duas organizações costumam ser rivais. E, neste momento, alinham-se na oposição, com dissidências, nos dois lados, que se perfilam ao lado do governo.

O poder de fogo das duas é inegável, e a unidade celebrada no quarto andar do prédio da CGT teve aperto de mão, sorrisos e coincidências de ideias. Além de terem as máquinas das centrais, Micheli representa os professores e funcionários públicos com seu poder de ecoar protestos, e Hugo Moyano os caminhoneiros, capazes de cortar estradas país afora e profundamente contrariados por terem sido relegados a segundo plano por Cristina quando ela optou pelo grupo La Cámpora (cujo principal líder é seu filho, Máximo Kirchner) para servir como esteio social.

ENTREVISTA – Pablo Micheli – Secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA)

Continua depois da publicidade

“Estão previstas mobilizações em todo o país”

Mentor da unidade sindical oposicionista que se esboça na Argentina, o secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA), Pablo Micheli, adiantou que uma greve em novembro será acompanhada de bloqueios nas estradas e outros protestos. Será, diz ele, a maior paralisação de todo o período kirchnerista.

Zero Hora – Há uma greve geral prevista para ocorrer até o fim do ano na Argentina?

Pablo Micheli – Estão previstas mobilizações este mês (na segunda ou na terceira semana), em todo o país, especialmente em Buenos Aires, na histórica Praça de Maio.

ZH – O que se diz é que a greve deve ser a mais ampla ocorrida até hoje durante este governo. Vocês têm essa pretensão?

Micheli – Será a mais importante de todo o período kirchnerista.

ZH – Quais são as reivindicações?

Micheli – A principal é a exigência da eliminação do imposto sobre a renda dos trabalhadores que estão sob convenção coletiva do trabalho. Não nos impomos ao imposto ao salário, mas devem ser sobre aqueles que têm cargos públicos elevados, gestores nacionais, deputados, senadores. Não dos trabalhadores. Estamos reclamando que se possa pagar salário familiar para todos os trabalhadores.

Continua depois da publicidade