A moeda argentina teve sua queda acentuada nesta quinta-feira (30), com uma desvalorização de 3,66% na abertura do mercado e de 12% nesta semana, sem que o governo do presidente Mauricio Macri consiga recuperar a confiança apesar do apoio explícito do FMI.
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Uma hora e meia depois da abertura, a taxa de câmbio chegou a 39,33 o dólar, o que equivale a uma depreciação de 12,33%.
O Banco Central reagiu elevando para 60% a taxa básica de juros, que já era de 45%, uma das mais altas do mundo. Ao mesmo tempo, aumentou os depósitos compulsórios dos bancos para assim reduzir a liquidez de moeda na praça.
Afetada pelo contexto internacional, a Argentina, que ocupa a presidência pro tempore do G20, luta contra a depreciação de sua moeda e a inflação, mas desde que o ano começou o peso já se desvalorizou em 50% e não parece que seu valor vai parar de cair.
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Na quarta-feira, a moeda recuou 6,99%, em um dos piores dias do mercado cambial neste ano, logo depois que Macri anunciou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) adiantará desembolsos do programa de ajuda de 50 bilhões de dólares acordado em junho.
Com esses adiantamentos, Buenos Aires garantiria o pagamento de seus compromissos da dívida até o final de 2019, segundo o governo.
“Não estamos diante de um fracasso econômico. É uma mudança profunda (do país), estamos bem encaminhados”, disse o chefe de Gabinete, Marcos Peña, antes da abertura do mercado.
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“Estamos muito convencidos de que há um caminho claro, de que dessa crise vamos sair fortalecidos”, acrescentou.
– Cenário internacional –
O cenário internacional não ajuda. As moedas das economias emergentes sofreram pelo aumento dos juros nos Estados Unidos para onde os capitais migraram em busca de mais segurança. Argentina e Turquia foram os mais prejudicados.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse nesta quarta-feira que as condições internacionais se tornaram “mais adversas” e não teriam sido contempladas no momento de assinar o acordo de ajuda à Argentina em junho. Por isso, expressou sua disposição em fortalecer o programa de ajuda a Buenos Aires.
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– Dívida e déficit –
O governo de Macri recorreu ao FMI em busca de apoio quando em abril começou a corrida cambiária que ainda não chegou ao fim.
O organismo lhe deu a mais alta ajuda de sua história. Do total de 50 bilhões de dólares, o país já recebeu uma primeira parcela de15 bilhões.
Em troca, a Argentina se comprometeu a reduzir seu déficit fiscal para 2,7% do PIB em 2018 e 1,3% em 2019. Mas para isso, é preciso fechar um acordo com a oposição, maioria no parlamento, para o orçamento do ano que vem.
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Além disso, a dívida argentina é calculada em 45% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo a empresa Capital Economics, e boa parte se encontra em bônus e letras do Tesouro com vencimentos próximos.
“Os investidores nos Estados Unidos estão rejeitando os títulos argentinos”, disse à AFP o economista Héctor Rubini da Escola Superior de Administração.
“Não se acredita no programa econômico, há incerteza sobre seu cumprimento”, explicou.
O próprio Peña reconheceu nesta quinta-feira que é difícil recuperar a confiança.
“Somos o país que mais vezes violou contratos internacionais no mundo, que mais vezes mentiu e enganou o resto e que demonstra uma vez ou outra, até agora, que não está disposto a buscar o equilíbrio fiscal para depender de seus próprios recursos”, lamentou.
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Além disso, o governo teve que modificar várias vezes suas metas este ano e já se projeta que a economia terá uma queda de 1% e que a inflação superará 30% em 2018, um panorama que coloca em risco a reeleição de Macri em 2019.
“Nesses tempos, a incerteza abarca tanto o plano da economia como o da política”, apontou Víctor Beker, diretor do Centro de Estudos da Nova Economia, da Universidade de Belgrano.
* AFP