Conversar e conhecer melhor todos os 30 atletas do Figueirense que estão em Atibaia-SP, na intertemporada, é a oportunidade que Argel está tendo nesses dias em São Paulo. Nesses primeiros dias quem mais comandou os treinos foi o preparador físico Eduardo Shoeler, mas o técnico não ficou de fora, participando inclusive de algumas atividades.
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Argel chegou em um momento complicado do time, depois da derrota para o Avaí na final do Estadual. Essa é a primeira chance dele de ficar totalmente focado na preparação do grupo e de poder entrosar o grupo. O estilo não mudou, mas um Argel mais brincalhão é possível ver em Atibaia.
Unir e ser fiel ao grupo são coisas que o treinador aprendeu com a vida. Ele é uma pessoa de família, que aprendeu com José Mourinho, que gosta de jogador “gringo” e que dá todo o crédito, sempre, para os jogadores que são, nas próprias palavras do técnico, “as verdadeiras estrelas”.
Confira a entrevista com o técnico alvinegro
Diário Catarinense: Porque você decidiu parar tão cedo, com apenas 33 anos? Hoje tem jogadores que atua até 38 anos.
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Argel Fucks: A minha decisão não foi tomada com 33 anos, ela foi tomada com 20 anos. Eu decidi jogar futebol profissional por 16 anos e joguei. E o futebol me deu tudo, me deu sucesso me deu fama e me ajudou na parte financeira. Em novembro de 2007 quando eu fui para a China eu fui para lá com a intensão de ser meu último clube, porque eu parei por opção minha, não fui forçado. Até acho que eu poderia jogar uma Série B ou C, por uns dois anos. Mas como a gente é acostumado a jogar em alto nível então você começa a perder esse alto nível e não se encaixando nesses grandes clubes e você perde a motivação. Então eu tinha um sonho e projeto de jogar até os 33 anos e depois me tornar um treinador profissional, até para ver se a gente tinha capacidade e conhecimento para ser treinador. E foi o que aconteceu parei em dezembro de 2007 e em fevereiro de 2008 comecei no Mogi Mirim.
DC: Como foi sua preparação par ser treinador?
Argel: Desde 20 anos de idade já pensavas nisso e fazias cursos. E até por eu jogar numa posição que é privilegiada, sempre fui líder, fui capitão nas equipes que passei. Então isso me deu uma tranquilidade. Por causa dessa experiência toda, trabalhei com grandes treinadores do futebol mundial. Trabalhei com José Mourinho, José Antonio Camacho, Giovanni Trapattoni, com Felipão, Abel Braga, Leão, enfim grandes treinadores. Então você usa isso como escola, pegando o que tem de melhor desses grandes treinadores.
DC: Você foi zagueiro e trabalhou com treinadores famosos por montar defesas intransponíveis. Mas você não monta retranca, por que isso?
Argel: Eu sofri muito com atacante, minha carreira foi correr atrás deles. Existe um lema no futebol que a gente pode levar a risca: a melhor defesa é o ataque. E eu levo isso a risca, como jogador e treinador. Então quanto mais tempo eu pressionar o adversário, menos tempo a bola vai estar na minha defesa. E eu aprendi uma coisa muito importante com o Camacho, que foi treinador do Real Madrid, Benfica e hoje está na seleção da China. O Camacho falava uma coisa muito importante quando nós íamos jogar uma partida. Quando o juiz apitava o primeiro chute, o primeiro gol, a primeira dividida, o primeiro passe certo tinha que ser nosso. Então você tem que ter essa agressividade e mostrar que o seu time está ali para ganhar o jogo e que não vai esperar nada.
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DC: Eu vi você jogando bola com seu filho lá no CFT do Cambirela, o menino tem jeito de jogador. Você incentiva ele?
Argel: Eu vou incentivar ele em qualquer profissão, porque eu só fui jogador por causa do apoio do meu pai. Eu fico muito contente porque a fruta não cai muito longe do pé, e o meu filho é tem uma coisa especial porque ele é fissurado em futebol. Ele quer estar em dia de chuva, quando está frio. Ele gosta de ser goleiro, tem nove anos e eu na idade dele também gostava. Mas daqui a pouco ele gosta de ir para a linha e chuta bem, é canhotinho e geralmente os canhotos tem uma qualidade diferente. Em todos os clubes que passei eu sempre levei ele. Ele gosta de estar no vestiário e de estar junto. Ele gosta de sair do campo todo sujo de lama.
DC: Você trouxe sua família para Florianópolis?
Argel: Não, mas a minha família todo final de semana vem para Florianópolis. Eu sou muito apegado a minha família, tenho 20 anos de casado. Eu conheci a Tatiana com 16 anos e ela tinha 13. Então minha esposa me conheceu jogando no Internacional e dormindo na arquibancada. Eu sempre digo que eu achei que tinha dado o golpe do baú nela, mas depois que assinei meu primeiro contrato eu vi que quem deu o golpe do baú foi ela (risos). A gente é muito unido, até porque a nossa família não é muito grande. Eu tenho minha mãe, meu irmão, que é cardiologista e foi com o meu futebol que ele se formou. Meu pai faleceu e perdi uma irmã em um acidente de carro. A minha esposa é filha única então tenho só os meus sogros e meus filhos Andressa, 11 anos, e o Andres, de nove.
DC: Você não deixa ninguém de fora dos treinos. É sinal que você gosta dessa união também na sua equipe. Não é isso?
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Argel: Eu tenho um respeito muito grande pelo jogador de futebol, até porque eu fui jogador. Então você jogar futebol é muito difícil, parece fácil, mas não é. Tem uma cobrança muito grande. A gente sabe que o futebol não é tênis. Tênis você pega a raquete vai lá e resolve, futebol é um jogo coletivo. Você precisa de todo mundo e quando você está em uma competição longa como o Brasileiro. O importante não é motivar o jogador que joga, esse está jogando, participando. O mais importante é o jogador que não joga. Esse a gente vai lá acorda, e dá treino para ele que não foi convocado. E ele é muito importante porque hoje ele não está jogando, mas amanhã ele vai fazer o gol da vitória do título. A gente tem que preparar esse atleta para o momento que a gente precisar a gente poder contar com ele.
DC: Isso quer dizer que não existe titular absoluto no time?
Argel: Na nossa equipe não existe cadeira cativa, titularíssimo, quem estiver bem vai jogar. Isso cria uma disputa muito boa, e sadia. E isso dá uma qualidade boa no grupo, porque quem tá dentro corre para não sair e quem está fora corre mais ainda para entrar.
DC: E você gosta do seu grupo aqui no Figueirense?
Argel: Eu estou muito satisfeito com os jogadores, ele tem uma transpiração muito forte e mudando um pouco a característica do Figueira, que era de muita qualidade técnica. E vamos continuar, mas vamos colocar em campo essa atitude, esse comprometimento e essa agressividade. Esse modo um pouco argentino de jogar com a qualidade e técnica que a nossa equipe já tem.
DC: Você gosta muito de sul-americanos? É o que parece para quem assiste aos treinos.
Argel: Eu tenho uma identificação muito boa com argentino, paraguaio, chileno, porque eles jogam um futebol de um jeito diferente da gente, com uma alma diferente. Até porque minha cidade é muito próxima a Argentina, eu sou de Santa Rosa (interior do Rio Grande do Sul), então me criei jogando com os gringos né. Gringo é uma forma carinhosa de chamar o pessoal do Paraguai, Argentina e Uruguai. E eles têm uma forma de trabalhar diferente, mais aguerrida. Por isso que a gente gosta de jogador estrangeiro na equipe porque ele agrega perseverança. Esse espirito de fúria e de ter um algo mais. E quando eles contagiam a equipe a coisa pega e o time muda.
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DC: E a intertemporada aqui em Atibaia, o que você espera dela?
Argel: Nós estamos em um lugar que é o que tem de melhor no mercado. O melhor do Brasil. Então isso é um investimento do clube, é caro, então temos que aproveitar ao máximo. Ninguém vai tirar o couro de todo mundo, água demais também mata a planta. Mas sem água a planta morre. Então a gente vai trabalhar com equilíbrio.
DC: E como tem sido o trabalho até agora?
Argel: Já trabalhamos bem ontem (quinta), trabalhamos bem hoje. Aqui vai dar a base para a gente jogar o ano inteiro, na parte física e técnica. Esses dois jogos (Náutico e Fluminense) nos fizemos o mínimo que se esperava. Eu vejo que tem um espaço muito grande para a gente crescer, como equipe, como time, como coletivo e individual. E é em cima disso que a gente vai trabalhar. A gente não veio aqui para descansar, ou passear, estamos aqui para trabalhar. Temos muito comprometimento com o clube.