Os passos não podem ser sentidos, ouvidos e nem mesmo vistos, graças à multidão. Mas sabe-se que eles estão ali. Acompanhando um andar lento, bem lento, 12 homens vestidos como monges carregam tochas em seus braços. Os olhos atentos do público acompanham o fogo que ilumina e protege um barril de carvalho francês, que por sua vez guarda o líquido mais precioso do décimo mês do ano. Embora o que esteja lá dentro não tenha sido produzido em um mosteiro trapista belga, como manda a epopeia cervejeira, o barril simboliza toda a mística que envolve o mês de outubro para Blumenau.
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O som do bumbo ecoando pelo pavilhão dava ares medievais à cena. Nem mesmo as centenas de celulares tentando registrar o momento eram suficientes para quebrar o clima épico que se desenrolava. O ambiente, embora longe de se parecer com uma planície costeira belga, ou de um mosteiro construído à românica francesa, podia facilmente ser transformado ao ar da imaginação de cada um. As luzes apagadas e as chamas erguidas complementavam a cena teatral que deixava bem claro: começou a Oktoberfest.
Há um antagonismo, é claro, mas permitido em uma época do ano onde a cidade vive momentos alternativos. Austeridade, silêncio, pobreza, castidade e obediência, pré-requisitos para estar entre os monges em um mosteiro, não são lá as palavras que melhor resumem a abundância de cerveja, fartura de alimentos e misturas de sons que fazem parte da rotina da festa mais alemã das Américas. Não que isso seja um problema.
Alemã mesmo. E o tom do canto do hino germânico por parte dos presentes não deixa mentir. Não chegava a ser uníssono como foi o “ouviram do Ipiranga” instantes depois, mas chamava a atenção dos desavisados. As notas, empolgantes, motivadoras, cantadas por muitos, destacavam uma Alemanha “brüderlich mit herz und hand” (fraternamente com coração e mão). Uma estrofe que se torna uma grande mensagem daquilo que Blumenau viverá e proporcionará àqueles que aqui estiverem durante os próximos 19 dias.
Entre uma batida e outra dos tambores surge “onga” Rigo – ou Rikobert Döring para os menos íntimos. Fundador da Banda Cavalinho Branco, é um nome tão forte quanto Helmut Högl para a Oktoberfest de Blumenau. Ele está de mãos vazias e rosto preocupado. Talvez nervoso. Logo, porém, um caneco chega em suas mãos e toda a apreensão se transforma em sorriso. Sorriso de alguém que sabe que é tão importante para a história da festa quanto o próprio líquido que dá a ela razão para existir.
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Esses pequenos detalhes antecediam o que as pessoas queriam ver e a frase que queriam ouvir. E foi o “declaro aberta a 33ª Oktoberfest“, proferida pelo secretário de Turismo de Blumenau, Ricardo Stodieck, aliada à sangria do barril e à chuva de chope em frente ao palco que deu o clímax do momento.
Ein prosit! É oficial! Começou!