O governo da popular Dilma Rousseff enfrenta a sua primeira grande crise. Tanto, que o conturbado cenário econômico brasileiro foi pauta de uma das mais respeitadas revistas do mundo, a The Economist.

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Diante do crescimento do PIB de 0,6%, no terceiro trimestre deste ano, a publicação chegou a descrever o país como uma criatura moribunda. A principal crítica à política econômica foi o intervencionismo.

A matéria sugere que a presidente Dilma, que se diz pragmática em relação à economia, demita o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por causa de suas previsões exagerademente otimistas, que acabam com a confiança dos investidores.

Mas, como defende o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada, doutor em Teoria Econômica pela USP, uma substituição no cargo não mudaria os rumos da economia brasileira. Para ele, Mantega apenas reflete uma posição de Dilma.

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Para o economista da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Grisi, o desgaste do governo começou na discussão sobre o Código Florestal, no imbróglio com os ruralistas, e seguiu com uma série de pressões sobre os bancos públicos e privados para redução dos juros, sobre as empresas de telefonia, Petrobras, concessionárias de energia, e no embate com os municípios na questão dos royalties.

– A presidente tomou decisões unilaterais e precipitadas, sem diálogo. Podíamos ter reduzido juros sem transformar os bancos nos inimigos número 1 do país, assim como o governo federal podia ter evitado a intervenção na Petrobras, que despencou as ações da estatal. A presidente está usando a máquina pública para fazer média com o povo – opina Grisi.

Segundo mandato

com tom econômico

Para Grisi, a matéria da The Economist é apenas uma manifestação de como os investidores estão enxergando o Brasil. O intervencionismo da presidente aumenta a insegurança jurídica e dá a entender que contratos não serão honrados.

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Grisi acredita que a intervenção do Estado na economia é principal elemento que diferencia o Brasil de países como México, Peru, Colômbia e Chile. Estes, inseridos em um mesmo cenário de crise internacional, registram taxas de investimento de quatro pontos percentuais acima da brasileira entre 2005 e 2011. Jensen destaca que, enquanto a inflação brasileira mira os 5,6%, a taxa desses países não passa de 3%.

A The Economist afirma que a reeleição de Dilma depende da mudança de sua equipe econômica. Para Jensen, a garantia do segundo mandato depende mais de um mercado aquecido, o que, segundo ele, é possível mesmo com o baixo crescimento do PIB.

Os principais alvos de crítica

1. A polêmica das concessionárias de energia

A medida provisória que prevê reduzir as tarifas de luz para empresas e usuários domésticos em 2013 esbarrou na rejeição das concessionárias Cemig, Cesp, Copel e Celesc que, juntas, representam mais de 25% da energia do país.

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Segundo cálculos das quatro companhias que recusaram a concessão, as regras estabelecidas pelo governo trariam perdas de pelo menos R$ 8 bilhões.

Na análise do economista Celso Grisi, da Fundação Instituto de Administração (FIA), da USP, a polêmica das elétricas mostra um dos principais motivos de críticas ao governo Dilma: a unilateralidade das decisões, impostas através de medidas provisórias, sem que haja, antes, abertura ao diálogo.

2. Estagnação dos investimentos

Para os especialistas, a política intervencionista da presidente está afastando investidores, que temem a falta de segurança jurídica e a quebra de contratos. O economista da Tendências Consultoria Integrada, Juan Jensen, observa que as medidas recentes para atrair investimentos, como a desoneração da folha de pagamento das empresas e a desvalorização do real, ainda devem dar resultado, mas apenas a curto prazo.

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3. Medidas paliativas de incentivo à economia

Uma reclamação recorrente e antiga no mercado é o adiamento das reformas estruturais, consideradas essenciais para a consolidação econômica do país. Economistas consideram as medidas de estímulo ao consumo, como a expansão do crédito e a redução dos juros nos bancos, paliativas, que funcionam, mas que não tem efeito a médio e longo prazo.

4. Intervencionismo

A intervenção do Estado na economia pode ser considerado o principal problema do governo, hoje. Além da medida sobre as elétricas, a The Economist, assim como os especialistas, destacam a pressão sobre os bancos e sobre as empresas de telefonia. Para Jansen, nem o incentivo para a entrada de capital privado nos aeroportos foi suficiente. Para ele, a Infraero deveria deter menos de 49% dos terminais, por exemplo.

5. Guido Mantega

A matéria da Economist sugeriu, com todas as letras, que Dilma deveria demitir o ministro da Fazenda, uma vez que as suas previsões super otimistas – e nunca comprovadas – estão acabando com a confiança dos investidores no Brasil. Jensen acredita que a presidente poderia nomear um novo ministro, mas não conseguiria mudar os rumos da economia. A não ser que promovesse mudanças em uma série de ministérios, o que é pouco provável.

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