O sol ameaçava romper um nublado fim de manhã de quarta-feira quando o vice-prefeito de Araquari, Clenilton Carlos Pereira, abriu a porta da sala do seu gabinete, localizado no modesto prédio de dois andares que abriga a Prefeitura do município, para receber a reportagem de “Negócios & Cia.”. De imediato, um detalhe chamou a atenção de nossa equipe: ele vestia uma camiseta polo que tinha bordada a logomarca da BMW.
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– É marketing – justificou.
Não poderia haver exemplo melhor para ilustrar o “efeito BMW” que atinge o pequeno município vizinho de Joinville, hoje beirando os 30 mil habitantes. Clenilton se empolga, mas não chega a exagerar ao falar das transformações pelas quais Araquari vem passando. Praticamente desconhecida até pouco tempo, a cidade entrou de vez na mira de investidores nacionais e internacionais depois que a multinacional alemã anunciou que lá ergueria sua primeira fábrica de automóveis de luxo na América Latina – e cuja pedra fundamental será lançada nesta segunda-feira.
– O dia 8 de abril (de 2013) é o mais importante da história da cidade – diz o vice-prefeito, que também acumula o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico de Araquari, ao se referir à data em que a montadora assinou o contrato que oficializou a construção da unidade no Norte catarinense.
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A confirmação da vinda da BMW, porém, apenas consolidou um cenário que já vinha se desenhando nos últimos anos. Não é de agora que Araquari tem despertado a cobiça de grandes indústrias.
O município é cortado por duas rodovias federais (BR-101 e BR-280, esta em vias de ser duplicada) e por uma ferrovia, fica próximo a quatro portos (São Francisco do Sul, Itapoá, Itajaí e Navegantes) e três aeroportos (Joinville, Curitiba e Navegantes) e integra um dos maiores polos do setor metal-mecânico do País, que dispõe de uma qualificada mão de obra.
Com este conjunto de fatores, aliado a incentivos fiscais, Araquari conquistou a BMW e por pouco não fisgou outra grande montadora. O prefeito João Pedro Woitexem chegou a oferecer um terreno para a Mercedes-Benz, que estava à procura de um local para a sua nova fábrica no Brasil. A isca não funcionou – a empresa anunciou no início de outubro que a cidade escolhida foi Iracemápolis (SP) -, mas foi uma mostra de que o município passou a disputar grandes grandes investimentos em pé de igualdade com qualquer um.
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Araquari também se vale da agilidade na hora de abrir empresas. Todo o processo costuma levar, em média, um mês para ser concluído, mas em algumas situações a papelada é liberada em apenas 15 dias. Em Joinville, a espera pode ser até quatro vezes maior.
Geografia seduz indústrias
A geografia privilegiada é um dos principais trunfos que a Prefeitura de Araquari tem usado a seu favor nas negociações para atrair investimentos industriais, que vêm se multiplicando nos últimos anos. A Franklin Electric, uma das principais fabricantes de motobombas do País, já mantém uma unidade de fundição na cidade.
Outras empresas tradicionais, como a Durín, do setor de plásticos, e a Global Housing, do ramo da construção civil, também têm unidades na cidade. A Fort Lev, uma das líderes na fabricação de reservatórios de água no Brasil, já emprega cerca de 500 funcionários no município – e tem planos de ampliar sua atuação.
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Em 2011, a multinacional sul-coreana Hyosung iniciou as operações de uma fábrica de fios de elastano que demandou investimentos de R$ 176 milhões e abriu 200 postos de trabalho. Quem também está de malas prontas para Araquari é a Ciser, gigante do setor de porcas e parafusos.
A empresa está transferindo as linhas de produção espalhadas em Joinville para o município vizinho. Para isso, vai desembolsar R$ 160 milhões em um novo parque fabril, que vai dobrar a capacidade diária de produção – de 250 para 500 toneladas. A maioria dos funcionários será realocada para a nova planta.
A decisão é estratégica. A Ciser iniciou suas atividades no atual endereço, no Centro de Joinville, há 50 anos. Hoje, a operação no espaço está comprometida por causa de dificuldades logísticas.
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– A cidade cresceu e “abraçou” a fábrica, impedindo sua expansão, que já atingiu o limite – explica Vinicius Marcos Allage, diretor de internacionalização da companhia, revelando um entrave comum ao crescimento de negócios instalados em Joinville – e do qual Araquari tem tirado proveito.
Indicadores refletem evolução
Não são apenas os terrenos transformados em canteiros de obras e os galpões instalados às margens das BRs 101 e 280 que evidenciam o crescimento de Araquari nos últimos anos. Os números também revelam a expansão do município. E ela não se restringe à economia.
Hoje, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Araquari tem 29,5 mil habitantes, um crescimento de 19% em relação a 2010. O produto interno bruto (PIB) saltou 77% em dois anos: passou de R$ 297,1 milhões, em 2008, para R$ 526,2 milhões em 2010.
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A economia do município registrou a terceira maior expansão de todas as cidades do Estado entre 2009 e 2010, de 59,86%. Já o PIB per capita subiu de R$ 13.250,76, em 2008, para R$ 21.206,37 em 2010, uma variação de 60%.
Atualmente, o município conta com cerca de 1,5 mil empresas, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Só de janeiro a novembro deste ano, considerando a diferença entre contratações e demissões, foram abertos 960 novos postos de trabalho com carteira assinada. Já são em torno de 8,2 mil no total, com a expectativa de mais 5 mil até 2016.
Graças aos investimentos dos últimos anos, Araquari, pelo segundo ano seguido, está na lista das cidades que tiveram o maior crescimento no índice de participação dos municípios (IPM) no repasse constitucional de ICMS. O incremento é de 16,6%, o que representa quase R$ 2 milhões a mais para 2014, ano em que a Prefeitura espera arrecadar R$ 9 milhões.
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