Depois da aparição silenciosa do bicheiro Carlinhos Cachoeira na CPI, na terça-feira, um verdadeira celebridade do submundo dos escândalos políticos de Brasília deverá ir ao Congresso nesta quinta-feira: ao lado de outros seis depoentes, o ex-agente do serviço secreto da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo – o popular Dadá – é aguardado pelos parlamentares para detalhar suas relações com o contraventor.
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Não se sabe se, à exemplo do que fez Cachoeira, Dadá vai dar respostas aos parlamentares. Se resolver falar, deverá ser perguntado sobre suas atividades como espião para o grupo do bicheiro. Sua experiência nas Forças Armadas, aliás, sempre o conduziram para as atividades de araponga. Teria sido ele o responsável por adquirir os aparelhos de telefones supostamente imunes a grampos.
A tecnologia usada, porém, foi devassada pela Polícia Federal – o que permitiu uma série de flagrantes de conversas comprometedoras entre Dadá, Cachoeira e políticos, como o senador goiano Demóstenes Torres (ex-DEM). O próprio Dadá era um habitué das chamadas suspeitas registradas pelas Operações Vegas e Monte Carlo. Em um dos diálogos, diretos e irreverentes, Dadá incentiva Cachoeira a supostamente pagar propina a um funcionário de empresa de telefonia para que ele facilitasse a instalação de um grampo:
– Bicho, é o seguinte: a gente tem que molhar a mão de alguém lá, entendeu? Os caras não fazem no amor, tem que dar um café pros caras.
Além de viabilizar grampos, Dadá auxiliava Cachoeira ao arregimentar um braço policial para a quadrilha. Ele esteve por trás, por exemplo, de frentes de fechamento de bingos rivais. A exemplo de Cachoeira, Dadá está preso desde a Operação Monte Carlo.
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No passado, outros escândalos célebres tiveram as digitais do araponga. Em 2010, provocou confusão na campanha da então candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT). Ao lado do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo de Souza, Dadá foi apontado pelo jornalista gaúcho e então chefe de comunicação da campanha petista Luiz Lanzetta como autor de uma oferta de espionagem para monitorar políticos tucanos, entre eles, o principal adversário José Serra (PSDB).
Voltando ainda mais no tempo, Dadá é figurinha carimbada na Operação Satiagraha, de 2008. Na investigação, ele teria auxiliado as investigações da Polícia Federal atuando também como araponga. A operação, que levou à prisão de banqueiros na oportunidade, acabou sendo invalidada – inclusive pelo auxílio ilegal de espiões como Dadá, ligados à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ironicamente, o responsável pela Satiagraha foi o delegado Protógenes Queiroz: atualmente deputado federal (PC do B-SP), um dos integrantes da CPI do Cachoeira.