Certa vez, uma rajada de tiros de fuzil AR-15 passou logo acima do carro que Cláudio Duarte, 54 anos, dirigia no Rio Janeiro. O impacto produzido pela arma usada por exércitos provocou 12 furos em fachadas das construções. Mais um capítulo de violência na vida do funcionário do jornal O Globo. Cansado de ver assaltos, tiroteios e de se preocupar a cada vez que parava num sinal, ele mudou para Florianópolis em setembro de 2008.

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Encontrou uma cidade muito mais tranquila. E nem os episódios ocorridos em novembro de 2012 e neste ano o fizeram mudar de ideia. Duarte acredita que no Estado os ataques parecem algo menos coordenado do que no Rio e que são cometidos por um bando de moleques inconsequentes.

Para ele, o fato de em Florianópolis ainda existirem pessoas que deixam a bolsa em cima da mesa quando vão buscar comida na praça de alimentação do shopping é a materialização da diferença. Duarte comemora a inocência, mas teme que se nada for feito a população pague caro por estes hábitos.

Confira a entrevista com o ilustrador:

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Diário catarinense – Em que momento o senhor decidiu trocar o Rio por Florianópolis?

Cláudio Duarte – Trabalho na redação de O Globo há 27 anos e quatro anos atrás meu filho tinha 13 anos. A violência era muito forte e eu saía do jornal tarde. Deixava o trabalho tenso com as coisas que eu via. Assaltos, assassinatos e trocas de tiro. Consumiu um estresse e propus que trabalhasse em casa.

DC – Houve algum fato que pode ser apontado como estopim para esta decisão?

Duarte – Nunca fui assaltado ou vítima de violência. Mas presenciei vários assaltos quando voltava do jornal. Certa vez, dois carros trocavam tiros e passei no meio. Um rajada de 12 tiros de fuzil AR-15 passou acima do carro e fez buracos na parede. Quando bandidos incendiaram um ônibus e não deixaram os passageiros descer, pensei na minha família.

DC – E o senhor percebe algum paralelo com o que acontece em SC e o que viu no Rio?

Duarte – O que acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro é diferente do que acontece aqui. Em São Paulo e no Rio foram muito mais violentos e orquestrados. Aqui há tentativa de violência, mas feita por um bando de moleques inconsequentes queimando qualquer coisa – carro, loja, ônibus. Não penso em sair por conta da violência. Ainda é pequena em relação ao que vi no Rio.

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DC – Então o senhor não sente a insegurança que tinha no Rio e nem pensa em mudar de novo?

Duarte – Não. Não me mete medo sair à noite. Claro que com a experiência, em qualquer cidade grande reparo quando saio, espero o portão fechar. Aqui, na praça de alimentação do shopping, a pessoa vai pegar comida e deixa a bolsa na cadeira. Floripa preserva certa inocência.

DC – É o que se procura ao mudar para uma cidade menor?

Duarte – É bom e não é. Se vierem pessoas mal intencionadas, encontrarão pessoas não acostumadas com a violência urbana, Ou seja, o que é bom pode ser perigoso, porque bandido chega em quem está dando mole.

DC – O que o senhor pensa quando dizem que Florianópolis está virando o novo Rio de Janeiro?

Duarte – Acho engraçado. Florianópolis está crescendo e começando a ter problemas de grandes cidades. Assaltos, engarrafamentos. Problemas que são consequência de crescimento desorganizado.

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DC – E quando sugerem as mesmas soluções do Rio, como o Exército invadir morros com tanques, como ocorreu no Complexo do Alemão?

Duarte – Aqui em Floripa não precisa de Exército subindo morro. A cidade tem uma saída, por ser Ilha, e é mais fácil de controlar. As prefeituras precisam trabalhar em parceira com o governo estadual. O Beltrame (José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro) se uniu às prefeituras e levou o problema a sério.