Dos 25 mil inscritos no vestibular unificado da UFSC/UFFS, um deles solicitou prova em braile e conseguiu aprovação. Aline Vieira, 25 anos, que não enxerga devido a um tumor maligno chamado de retinoblastomia, que afetou sua retina, vai cursar Letras Português/Espanhol, na Universidade Federal da Fronteira Sul, em Chapecó.
Continua depois da publicidade
Ela recebeu a notícia na casa de sua mãe – o pai já é falecido – em União do Oeste.
– Até levei um susto. Fiquei sabendo quando o rapaz que é assessor da universidade me ligou. Fiquei muito feliz. Não imaginava que iria passar pois a prova era difícil. Tinha alguns conteúdos que não tinha estudado – disse Aline.
Natural de União do Oeste, caçula de quatro filhos de um casal de agricultores, Aline só começou a estudar aos 14 anos, na Escola de Educação Básica São Luiz, em São João do Oeste. Ela aprendeu braile em Pinhalzinho e os livros ela conseguiu graças ao Núcleo de Apoio Pedagógico e Produção Braille, da secretaria de Educação de Chapecó.
Continua depois da publicidade
– Eu sempre quis estudar, mas no interior a gente não tinha muita informação. Até que eu consegui cursar dois anos em União do Oeste e depois fiz mais dois anos na Escola Municipal de Educação de Jovens e Adultos Paulo Freire, em Chapecó. O Ensino Médio fiz em menos de dois anos, no Ceja de Chapecó – explicou.
Posteriormente, em 2015, ela fez um processo seletivo para cursar Letras numa universidade comunitária de Chapecó. Na universidade enfrentou algumas dificuldades com conteúdos que não eram adaptados e com professores que não estavam preparados para repassar esse conteúdo para uma estudante cega. Nas pesquisas na internet também enfrenta alguma dificuldade, principalmente em língua estrangeira. Além disso, na metade do curso perdeu a bolsa que tinha do artigo 170, por problemas na documentação.
– Faltou um documento, foi muito complicado. Tive que trancar o curso e parei dois anos para quitar as pendências. Pretendia retomar quando surgiu a oportunidade do vestibular na federal. Fiquei sabendo pela internet, por meio de um programa que faz a leitura de telas por voz – explicou.
Ela fez a prova em Chapecó e ficou em quarto lugar na classificação geral do curso. Além de solicitar a prova impressa em braile ela também solicitou ledores e transcritores. A comissão do vestibular também disponibilizou uma reglete, que é um instrumento para escrita em braile, embora Aline tenha levado a sua também.
Continua depois da publicidade
– Apesar de a prova ser cansativa foi bem tranquilo pois a comissão de vestibular me deu todas as condições de acessibilidade. Nas questões objetivas eu ditava a resposta para um ledor e ele anotava no gabarito. Nas questões discursivas e a ledora ajudou a transcrever para ir mais rápido – disse.
Enquanto aguarda o início das aulas, no interior de União do Oeste, Aline começa a fazer planos. Ela pretende dar aula de português e quem sabe aulas particulares. Também aguara as portas que vão se abrir na universidade. Em apenas 11 anos, ela venceu algumas limitações saltou do analfabetismo para uma universidade federal. Mesmo antes de se formar, Aline já tem muito para ensinar.