Os três apresentadores do podcast “Canal dos Hipócritas” foram indiciados por racismo na última sexta-feira (15). Em um vídeo, publicado há oito meses, eles fizeram analogia entre pessoas não vacinadas contra a Covid-19 e os judeus, vítimas de genocídio na 2ª Guerra Mundial. Eles associam, ainda, os campos de concentração, onde 6 milhões de judeus foram assassinados por nazistas, aos estabelecimentos que exigem passaporte da vacina.
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O episódio “Corrida das Vacinas” foi publicado em novembro de 2021 pela empresa que tem sede em Itajaí, em Santa Catarina. Participaram do programa os sócios e apresentadores Augusto Pacheco, Bismark Fugazza e Paulo Souza. No vídeo, Pacheco e Souza criticam, entre outras coisas, o passaporte da vacina.
— [Os não vacinados] São aqueles que eu gosto de chamar de “novos judeus”, os não vacinados que já não podem frequentar os mesmo lugares da raça ariana vacinada — fala Pacheco.
No episódio, eles se colocam como os representantes das marcas de vacina, ironizando a corrida entre os laboratórios para produção de imunizantes.
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— Em breve, os judeus não vacinados não poderão comprar comida sem o passaporte sanitário, o esporte tá sempre se reinventando. Olha, eu não vejo a hora dos novos judeus serem mandados para o campo de concentração dos não vacinados, onde eles vão poder morrer tranquilamente em um novo holocausto, tipo mais moderno, repaginado, sabe — continua Pacheco.
De acordo com o delegado do caso, Arthur Lopes, o inquérito apurou que os três sócios são responsáveis pelo crime, já que o roteiro e conclusão do vídeo passa pelos três produtores.
O crime foi denunciado pela Confederação Brasileira de Israelitas (Conib) e a Associação Israelita Catarinense, representação da Conib em SC. Para o presidente da AIC, Eduardo Gentil, o vídeo tem discriminação, preconceito e violência contra a comunidade judaica.
De acordo com Gentil, não é possível afirmar que o canal Hipócritas é antissemita, mas não se pode banalizar um evento que ceifou a vida de mais de 6 milhões de judeus.
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— A ciência comprovou que existem apenas oito tipos de sangue. Não tem sangue judeu, você acreditar que um ser humano é melhor ou pior pelas crenças religiosas, isso não existe — pontuou.
Até esta terça-feira (19), o vídeo contava com 187 mil visualizaçãoes e 55 mil curtidas. Em novembro, Associação solicitou a retirada do vídeo do ar:
— Nós não podemos permitir que um vídeo que se arvora pelo pretexto de fazer sátira. com algo que ceifou a vida de tantas pessoas. Então entendemos por bem, que ele presta um desserviço à comunidade, é um abuso ao direito da liberdade de expressão.
Conforme a Polícia Civil, o processo segue para a Justiça, onde é solicitado novamente a retirada do programa do canal.
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O DC entrou em contato com os indiciados na sexta-feira (15) por e-mail e redes sociais. Na segunda-feira (18), a reportagem recebeu o retorno de que a solicitação do jornal foi encerrada, sem resposta do canal sobre o assunto.
A publicação do vídeo ocorreu no mês em que o Brasil enfrentou um surto da Covid, com a alta de contaminação pela variante Ômicron. Apenas em janeiro, Santa Catarina teve um aumento de 3.000% dos casos em um mês. Em 14 de fevereito, após a escalada de confirmados, o Estado tinha uma média de 31 vítimas fatais por dia pela doença.
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