São tempos difíceis para os mentirosos. Pelo menos, para os loroteiros gaúchos. O engenheiro civil e professor de inteligência policial da Academia Superior de Polícia, Thompson Cardoso, treina pessoas comuns para detectar os farsantes através de técnicas de observação e entrevista.
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– Mentimos por proteção. O que varia são as razões para isso. Pode ser para proteger uma fraqueza, esconder uma fraude perpetrada ou defender uma imagem irreal. O problema é convivermos com as consequências por acreditar em mentiras face à incapacidade de detectá-las quando diariamente nos atingem no trabalho e na vida pessoal – explica o especialista.
Autor dos estudos que baseiam Lie To Me, Paul Ekman cita mentirosos famosos
A pedido de ZH, o professor listou três dicas para detectar a provável presença de mentiras num discurso:
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1 – Preste atenção nas emoções – Quando as emoções demonstradas na recuperação de memórias mostram-se incompatíveis com aquelas vividas no fato narrado, a pessoa pode estar mentindo. Memórias verdadeiras fazem-nos reviver as mesmas emoções. Exemplo: se alguém está descrevendo a morte de alguém presumivelmente querido, a emoção que deve permear esta narrativa é de tristeza. Se não for, há um forte indício de que tenha alguma mentira escondida.
2 – Ausência de gestos – Desconfie quando os gestos não acompanham o discurso. Fatos, gestos e emoções foram armazenados juntos nos blocos de memória e interrelacionam-se sempre em narrativas. Inconsistências entre eles são fortes indicadores de mentira. Ninguém pode descrever um ambiente em que teve alguma vivência de mãos no bolso.
3 – Monitoramento da realidade – É preciso verificar se a narrativa é admissível como tendo sido vivenciada de fato pelo narrador, ou é apenas uma história criada (mentira). É preciso checar a presença de processos perceptivos, vivenciais, sensoriais, de quem narra uma vivência, ou seja, que houve a vivência descrita. Exemplo: quando uma testemunha, ao responder um questionamento sobre uma cena de crime que tenha presenciado, descreve o comportamento do autor e refere não somente o que ela presenciou, mas emite parecer próprio sobre isto, tipo: “Pergunta: ele estava descontrolado? Resposta: não, parecia que estava aliviado”. A testemunha apresenta processos perceptivos, de rara inserção natural em uma narrativa inverídica.
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Cardoso reforça que não existe uma fórmula pronta para pegar um mentiroso. Cada sinal ajuda a compor um quadro sobre o perfil específico do entrevistado, em que o encadeamento das questões e atitudes do entrevistador poderão facilitar a identificação da mentira.
O especialista, que teve aulas com o FBI e com o Dr. Ray Bull, consultor da New Scotland Yard e uma das maiores autoridades na Europa em entrevistas e interrogatório. Em Porto Alegre, seu curso já treinou mais de dois mil alunos desde 2007.
Segundo Cardoso, o senso comum supervaloriza a leitura da linguagem corporal na hora de desmascarar mentiras.
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– Muito se difunde sobre a importância da linguagem corporal para identificação de uma enganação. Apesar de importantíssimo fator de análise, eu chamo de “tempero”, o que dá qualidade à avaliação, mas não pode constituir-se em uma análise por ai só. O fator mais importante é a análise do discurso, esse sim o cerne para detecção de mentiras. Todas informações extraídas devem ser contextualizadas e isso só o olhar técnico do entrevistador é capaz.