Atleta desde a adolescência, aos 41 anos, o comerciante Fernando Vaz Miranda é jogador de tênis e squash. Até aí nada demais, não fosse pelo fato de, em dezembro de 2017, depois do diagnóstico de leucemia mieloide aguda, ter passado por um transplante. Recuperado, em poucos dias, ele participará de uma competição internacional.

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Agora, o morador de Florianópolis se prepara para representar o Brasil nos Jogos Mundiais para Transplantados em Newcastle, na Inglaterra, de 17 a 24 de agosto.

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Embora treine até três vezes por semana e faça academia diariamente, para ele, o evento vai além da atividade física e da competição.

– Ele divulga a importância de doar órgãos, de salvar vidas, que tem gente que por causa de uma doação está bem. Agora, está praticando esporte, mas poderia estar na fila, a espera de um órgão, que às vezes não chega – disse.

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O evento simboliza esperança para o líder da delegação brasileira Haroldo Costa.

– Para as pessoas que hoje estão em uma fila de transplante ou passando até por uma situação difícil de saúde, queremos mostrar que é possível vencer. Da mesma forma que nós passamos por isso e estamos nessa condição, praticando esporte em uma competição, qualquer um também pode – afirmou.

Em Florianópolis, Fernando sempre teve uma vida ativa até perceber, ao praticar esporte, que algo estava diferente.

– Comecei a me sentir mais cansado, com menos performance. Como não tinha doador na família, foi acionado um banco de dados nacional, depois internacional. Sei que foi uma mulher da Alemanha que doou (a medula óssea). Eu sinto por ela muita gratidão por saber que se propôs a ajudar alguém que não sabe nem quem é – contou.

Mudança

A experiência o fez olhar a vida por uma nova perspectiva.

– Mudou minha relação com o tempo. Antes, eu ficava planejando muito, até evitava fazer algumas coisas. Esta viagem para a Inglaterra, por exemplo, eu pensaria em economizar… Mas, não. Vou fazer isso agora. Você está se sentindo bem e quer fazer tudo, não dá para perder tempo – ponderou.

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Oito meses depois do transplante, ele retomou a atividade física aos poucos, na esteira e na bicicleta. Após um ano, voltou a jogar tênis.

– Ainda não estou liberado para natação, pra areia, não posso entrar no mar. Tenho que esperar dois anos depois do transplante, porque preciso fazer toda vacinação de novo, como se tivesse acabado de nascer– relatou.

– Passado o transplante, o paciente vai ganhando uma vida cada vez mais autônoma e normal. Aposentar compulsoriamente pacientes que passaram por um transplante está cada vez mais questionado porque as pessoas ganham condições de vida muito boas – explicou o coordenador da SC Transplantes Joel de Andrade.

Fernando joga tênis desde adolescência e agora vai para evento internacional
Fernando joga tênis desde adolescência e agora vai para evento internacional (Foto: Diorgenes Pandini/Diário Catarinense)

Recorde nacional

Depois da primeira edição na Inglaterra em 1978, os Jogos Mundiais para Transplantados ocorrem a cada dois anos sempre em um país diferente.

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Este ano, são esperados 1,5 mil atletas de 69 países para competir nas modalidades atletismo, arco e flecha, corrida, badminton, basquete 3X3, boliche, ciclismo, dardos, futebol, golf, natação, petanca, tênis de mesa, tênis, triatlo, squash e vôlei.

Em 2019, o Brasil terá 22 atletas, dos quais 19 são transplantados e três são doadores, dois de medula e um de rim.

Este número é inédito, supera os seis brasileiros que representaram o Brasil em Málaga, na Espanha em 2017. Nas duas edições anteriores, foram apenas quatro representantes.

A maioria dos participantes passou por transplante de coração ou fígado, pulmão, rim, pâncreas ou ainda medula óssea. Há também doadores entre os atletas.

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Aumento de doadores

Promovidos pela World Transplant Games Federation, os jogos são considerados a olimpíada dos transplantados, com cerimônia de abertura, encerramento e premiação no pódio.

– Alguns estudos mostram que nos países onde são realizados os jogos há um interesse e um incremento nas doações de órgãos – explica o líder da delegação brasileira Haroldo Costa.

Ele próprio passou por um transplante de rim em 1997 em Brasília, onde mora, e desde 2011 representa o país na competição jogando tênis.

– Num momento, você está fazendo hemodiálise, como é o meu caso, ou você está em uma fila para transplante de coração ou de pulmão, e no momento seguinte, você está representando o teu país numa competição internacional. É emocionante – comentou.

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Doação de medula óssea

– A doação de medula se restringe, na maior parte dos casos, a um procedimento muito parecido com a doação de sangue. Exceto que na doação de sangue temos uma bolsa de sangue de uma veia periférica e na doação de medula o paciente é conectado no equipamento que recolhe as células e as concentra, mas o produto final é o mesmo,uma bolsa de células sanguíneas do doador – explicou Joel de Andrade, coordenador da SC Transplantes.

Embora tenha 179 mil doadores de medula óssea cadastrados em 23 anos, o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc) faz um apelo para que os doadores mantennham seus dados atualizados, para facilitar a localização no momento em que um paciente precisar de transplante.

Até maio de 2019, foram realizados em Santa Catarina 10 transplantes de medula, enquanto 56 pacientes estavam na lista de espera pelo procedimento, conforme a SC Transplantes.

Exigências

– Procurar o Hemosc

– Ter entre 18 e 55 anos

– Estar em bom estado de saúde

– Não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue (como infecção pelo HIV ou hepatite)

– Não apresentar história de doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune (como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide).

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Fonte: Inca