O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pediu demissão à presidente Dilma Rousseff durante reunião no início da noite deste domingo. Em nota oficial, o chefe da pasta por quase cinco anos se disse vítima de perseguição política.

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“Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence”, informou em comunicado publicado no site do Ministério do Trabalho.

Lupi é o sétimo ministro a cair na Esplanada dos Ministérios em 12 meses do governo Dilma – sexto por denúncias de irregularidades. O secretário-executivo, Paulo Roberto Pinto, deve assumir a pasta interinamente até janeiro, quando a presidente Dilma pretende fazer uma reforma ministerial.

Um mês na corda bamba

O pedetista não resistiu a uma sequência de denúncias de irregularidades que começaram a ser divulgadas no início de novembro. Embora lideranças do próprio PDT tenham defendido publicamente a saída de Lupi, ele optou por se manter no cargo durante este período de forte exposição pública.

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No entanto, na semana passada, a situação dele ficou insustentável. A Comissão de Ética da Presidência da República recomendou a presidente exoneração do chefe da pasta do trabalho.

No relatório, o órgão chamou de “insatisfatórias” as explicações dadas por Lupi e classificou como “inconvenientes e irresponsáveis” as declarações do ministro. Às vésperas de viajar a Caracas, na Venezuela, na última sexta, a presidente pediu mais detalhes para a recomendação à comissão antes de tomar qualquer atitude. Ela disse que tomaria uma decisão nesta segunda-feira.

No entanto, no início da noite de deste domingo, Lupi encaminhou um pedido de demissão para a presidente Dilma. Ainda nesta noite, ele deve divulgar um comunicado sobre saída da pasta.

Entenda as denúncias contra Lupi

05/11 – Reportagem da revista Veja aponta um suposto esquema de extorsão no ministério do Trabalho. Assessores do ministro Carlos Lupi, todos ligados ao PDT, estariam cobrando propina para liberar pagamentos a ONGs suspeitas de irregularidades. Lupi determina o afastamento do assessor especial Anderson Alexandre dos Santos, coordenador-geral de Qualificação, apontado como operador do esquema.

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07/11 – A Comissão de Ética Pública da Presidência da República fixa prazo de 10 dias para que o ministro preste esclarecimentos sobre as denúncias.

08/11 – Em entrevista à Rádio Gaúcha, Lupi se defende e diz que todas as acusações são contra funcionários do ministério, não contra ele. Ao se defender no Congresso, Lupi diz que só saíra do governo abatido à bala”. Após a declaração, Dilma diz que Lupi se excedeu.

09/11 – Nova denúncia diz que Ministério do Trabalho teria beneficiado associação fantasma com R$ 3,75 milhões.

10/11 – Lupi presta esclarecimentos à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. Na audiência, ele diz que não quis desafiar Dilma. “Presidente, desculpa se fui agressivo. Não foi minha intenção. Eu te amo”, diz ele.

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12/11 – Em nova reportagem, a revista Veja publica que Lupi conhecia o empresário Adair Meira, responsável por duas ONGs cujas irregularidades em contratos com o Ministério foram apontadas pela Procuradoria da República e pela Controladoria-Geral da União. A reportagem diz ainda que Lupi teria viajado com em uma aeronave providenciada pelo empresário para cumprir agenda do ministério no Maranhão.

14/11 – Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo diz que Lupi permitia a atuação de lobistas dentro do ministério para negociar a liberação do registro sindical.

15/11 – O dono da entidade Pró-Cerrado, Adair Meira, diz ao jornal O Estado de S. Paulo que viajou com Lupi em um avião particular durante visita oficial a cidades maranhenses em dezembro de 2009, desmentindo a declaração dada pelo ministro à Câmara dos Deputados, de que não conhecia o dono da Pró-Cerrado nem voara com ele.

16/11 – Lupi se reúne com a presidente Dilma e assegura a ela que tem como se defender e que vai buscar as provas para apresentar a sua posição. O presidente do diretório regional do PDT do Maranhão, Igor Lago, diz que o partido no Estado não pagou transporte aéreo para a viagem do ministro do Trabalho.

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30/11 – A Comissão de Ética Pública da Presidência da República recomenda a presidente Dilma a exonerar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, alvo de denúncias de irregularidades na pasta. Segundo o presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, a recomendação se dá por “explicações não satisfatórias” dadas por Lupi.

02/12 – Lupi foi funcionário fantasma da Câmara dos Deputados por seis anos, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. O pedetista foi lotado na liderança da sigla de dezembro de 2000 a junho de 2006. Contudo, neste período, ele exercia atividades partidárias como vice-presidente da legenda. Funcionários do partido em Brasília confirmaram que Lupi não aparecia no gabinete da Câmara e se dedicava exclusivamente a tarefas partidárias.

Confira a nota divulgada por Lupi

Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética da Presidência da República – que também me condenou sumariamente com base neste mesmo noticiário sem me dar direito de defesa – decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável.

Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo.

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Foram praticamente cinco anos à frente do Ministério do Trabalho, milhões de empregos gerados, reconhecimento legal das centrais sindicais, qualificação de milhões de trabalhadores e regulamentação do ponto eletrônico para proteger o bom trabalhador e o bom empregador, entre outras realizações.

Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence.

O carteado dos ministros de Dilma

Desde o início do governo Dilma, no dia 1º de janeiro, sete ministros deixaram a Esplanada. No carteado dos ministros, saiba quem está no jogo, quais são as cartas que já saíram do baralho e os trunfos da presidente: