Enfrentar a perda de dois familiares para a Covid-19 em menos de 24 horas é uma dor “irreparável”. Foi assim que a jornalista Denise Maurício Silva, 35 anos, descreveu o sentimento de ter que se despedir dos dois avós ao mesmo tempo, em dezembro de 2020. 

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— A lei natural da vida a gente sabe que é perder os avós e, pra minha mãe, perder os pais. Mas a gente nunca imagina que vai perder os dois em menos de 24 horas e, muito menos, para uma doença assim — descreve Denise.  

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Moradores de Laguna, no Sul de SC, Norma dos Santos Maurício, 74 anos, e Ailton dos Santos Maurício, 81, sempre recebiam os parentes na casa deles. Agora, a família precisa lidar com o vazio das festas e tenta manter a tradição das reuniões familiares, mesmo sem os responsáveis por essa união.

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Norma e Ailton começaram a ter sintomas de Covid-19 em novembro. Em um primeiro momento, a avó testou negativo e usou medicação para tratar uma pneumonia. Depois de recuperada, no entanto, a aposentada refez o teste que apontou que ela já havia criado anticorpos para a Covid. 

Ao contrário de Norma, o marido logo testou positivo e precisou ser internado. Durante a primeira semana de dezembro que passou no hospital, seu quadro de saúde foi piorando a cada dia.  

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No dia 4 de dezembro, Norma voltou a se sentir mal e foi levada ao hospital. Algumas horas após ser internada no mesmo quarto do marido, ele faleceu. No dia seguinte, Norma teve uma pequena melhora, mas logo o quadro se agravou. Ela foi internada na UTI e, poucos horas depois, também não resistiu.

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A despedida

Por conta das regras sanitárias rígidas em enterros das vítimas da Covid-19, Denise conta que, além da dor da perda, teve que enfrentar outro sofrimento: o de não poder se despedir. 

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Quando a gente perde um ente pra Covid, a gente não consegue se despedir. Porque a imagem que eu tenho na minha cabeça é o caixão lacrado, passado papel filme e um porta-retrato deles. A gente não teve nem a possibilidade de dar um último beijo, um último abraço, um último adeus – lamenta Denise. 

A neta de Norma e Ailton atualmente mora em Blumenau, no Vale do Itajaí, longe de todos os parentes. Para ela, os avós eram os responsáveis por manter a união da família: 

— O vô e a vó eram a base da nossa família. Eu moro em uma cidade, meus pais em outra, meus irmãos moram em outra e meus tios em outra. Então, as reuniões eram sempre na casa dos meus avós. Depois dessa perda, tentar manter essa tradição é algo difícil, mas queremos que continue. Manter a família unida.

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