Após 46 dias, a ocupação da sede do Ministério da Cultura (MinC) em Santa Catarina, em Florianópolis, por manifestantes contrários ao governo do presidente interino Michel Temer (PMDB) deve terminar nesta segunda-feira, às 12h. Em uma manifesto divulgado no Facebook, o grupo Ocupa Minc SC afirma que vai atender a um pedido de desocupação do local feito pela superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). O escritório do MinC no Estado é localizado no prédio histórico da Alfândega, no Centro da Capital.
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No manifesto, com data de sábado, os participantes afirmam que vão se manter mobilizados contra o governo Temer, em ações pela cidade. O pedido para que deixassem o local foi entregue na noite de sexta-feira.
O grupo itinerante formado por estudantes, artistas e movimento sociais ocupa o local desde 19 de maio. Inicialmente, protestavam contra a extinção do ministério – ocupações semelhantes foram realizadas em outras sedes regionais do MinC. A ocupação foi mantida mesmo com a desistência do presidente interino de incorporar a pasta ao Ministério da Educação.
Leia a íntegra do texto sobre a saída dos manifestantes:
MANIFESTO OCUPA TUDO: Do MinC à cidade inteira em luta contra o golpe
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Primeiramente: Fora, Temer!
Em vista do pedido de desocupação emitido pela superintendência do IPHAN para a Ocupa MinC SC, o presente manifesto visa registrar a realidade construída pelo movimento e, sobretudo, asseverar a continuidade da luta de resistência em Florianópolis contra o golpe e em defesa da democracia. Uma luta digna, horizontal, organizada e pacífica, permeada de arte e de cultura.
Diante do governo interino ilegítimo e golpista de Michel Temer, a Ocupa MinC SC, em consonância com dezenas de ocupações por todo o país, instalou-se no prédio que abriga o escritório regional do Ministério da Cultura e o IPHAN em 19 de maio de 2016. A concentração de cidadãos, cidadãs e grupos organizados da sociedade civil demonstrou que o espírito da época é de insurreição diante das injustiças históricas que marcam o país desde sua colonização e cuja reprodução se manteve imune às transformações políticas formais. A Constituição Cidadã conquistada em 1988 não é senão um projeto, cuja realização cumpre às gerações que herdam a democracia e em respeito à qual a ocupação do MinC e a luta política nela consolidada são marcos históricos.
Os 43 dias de ocupação fizeram-se de não menos que 50 assembleias, 34 oficinas, 40 rodas de conversa, 20 aulas públicas, 17 debates, 20 atos políticos diretos, 30 espetáculos musicais, 19 espetáculos teatrais, 17 apresentações de dança, 18 sessões de cinedebate, 10 reuniões de coletivos externos, 20 ensaios artísticos, 4 exposições, 1 festival de arte e cultura, 2 sarais e 1 revirada cultural. Contamos com a presença de professores, professoras e estudantes de todos os níveis de ambas as universidades públicas da cidade, bem como vários sindicatos e uma ampla gama de movimentos sociais incluindo, MST, MNPR, MPL e outros.
Se o retorno do Ministério da Cultura pode ser o principal indicador dos impactos alcançados pelo movimento em nível nacional, efeitos locais de mobilização social, organização popular, aproximação entre diversos movimentos sociais e a oferta ininterrupta de atividades culturais e formativas à população de Florianópolis foram resultados que merecem o mesmo destaque. Logramos uma articulação da sociedade civil de caráter e dimensão inéditas na história da cidade, a qual é somente o estágio germinal de uma sociedade justa e igualitária em vias de formar-se.
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Mais que um movimento de protesto e resistência, a Ocupa fez-se um espaço de concentração e invenção de novas formas de sociabilidade e de organização política. O individualismo e a competitividade historicamente impostos às relações sociais estão sendo rejeitados e abrem espaço a novas formas. Negamos o modelo representativo de deliberação e demonstramos a viabilidade de uma sociabilidade construída horizontalmente, sem lideranças autoritárias e sem decisões unilaterais, sustentada pelos princípios de pluralidade, diversidade e transversalidade. Para além das reivindicações legítimas de restituição da democracia no país, a Ocupa contribuiu com a conformação de novos paradigmas sociopolíticos que a continuidade da luta consolidará. Agradecemos imensamente cada doação e a cada pessoa que de alguma forma tenha contribuído com a construção da Ocupa. Foram muitas, muitas, muitas pessoas que, de várias maneiras, OCUPARAM conosco. O agradecimento é, também, um convite para continuarmos juntos a ocupar outros espaços – contra o golpe e por nenhum direito a menos. Seguimos com resistência e criatividade.
Sairemos do MinC para ocupar a cidade. Inúmeros movimentos, organizações, coletivos, grupos e indivíduos de Florianópolis que lutam pela derrubada de Temer unificaram-se mediante a Ocupa MinC e formam hoje uma rede consistente de fortalecimento mútuo e de aspirações claras. Longe de provocar a desarticulação, a saída do prédio marca um novo estágio do movimento Fora, Temer! Floripa: descentralizado, o movimento irá a todas as partes. GOVERNO GOLPISTA NÃO PASSARÁ!
NENHUM DIREITO A MENOS!
#FORATEMER #OCUPATUDO #ÉNOSSO
Com amor, energia, esperança, vigor e luta permanente,
Ocupa MinC SC
Florianópolis, 2 de julho de 2016