O anúncio daduplicação da BR-280, entre São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul, por parte do governo federal, completa nove anos nesta sexta-feira e os moradores e usuários da rodovia têm poucos motivos para comemorar. É que as obras iniciadas há cerca de três anos em dois dos três lotes previstos avançam muito lentamente e devem continuar assim nos próximos meses.
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O lote 1, por exemplo, que compreende um trecho de 36 km entre Araquari e São Francisco do Sul, sequer saiu do papel e não tem data programada para que a ordem de serviço seja dada. Esse é o panorama de uma das principais rodovias do Norte do Estado, por onde trafegam diariamente cerca de 15 mil veículos.
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em Santa Catarina, em um ano, a obra avançou aproximadamente 5% nos lotes 2.1 e 2.2. Se mantiver esse ritmo, os trabalhos serão concluídos no prazo de 16 anos, algo inimaginável para uma rodovia que está no limite, dizem as autoridades.
O trecho mais adiantado é do lote 2.2, com 19,52% dos trabalhos finalizados. No local, as escavações de dois túneis estão quase prontas. O túnel esquerdo tem 849 metros escavados de um total de 1.070 metros, e o túnel direito, 832 metros escavados de um total de 1.040 metros. Em outros pontos do trecho de 23,8 quilômetros de extensão, é feito o trabalho de terraplenagem por parte da empresa Cetenco Engenharia.
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Repasse de R$ 14 milhões está garantido
Segundo o engenheiro Antônio Carlos Bessa, chefe de serviço do DNIT em Joinville, nesta semana foi autorizado o repasse de R$ 14 milhões para o lote, o que deve manter o trecho em obras por pelo menos mais três meses.
– Temos capacidade para faturar entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões por mês, mas devido ao limite de recursos, temos de diminuir o ritmo para evitar a paralisação da obra – explica Bessa.
No lote 2.1, os recursos disponíveis para este ano giram em torno dos R$ 27 milhões, mas os trabalhos avançam lentamente no trecho entre a BR-101 e Guaramirim. A empresa Sulcatarinense executa serviços de terraplenagem, de sinalização, serviços geotécnicos, proteção ambiental e paisagismo. Neste trecho, 17,63% dos trabalhos estão concluídos. Existe a perspectiva de novos repasses para os dois lotes em obras na rodovia ainda neste ano, mas não se sabem valores e prazos.
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– Hoje, os recursos são insuficientes para darmos o ritmo adequado à obra – diz Bessa.
Sobre o lote 1, entre São Francisco e Araquari, o engenheiro informa que não há qualquer planejamento para o início da obra.
O trecho mais problemático
O lote 1, entre o Porto de São Francisco do Sul e o viaduto sobre a BR-101, em Araquari, sequer saiu do papel nesses nove anos. Mesmo com a licitação feita e o valor do contrato definido em R$ 341,9 milhões, os trabalhos por parte da Construcap Engenharia e Comércio ainda não começaram por causa da ordem de serviço, que sequer foi assinada.
O contrato de duplicação prevê, entre outras obras de adequação, a construção de marginais com ciclovias e passeios e interseções em dois níveis (viadutos). No ano passado, a empresa Sotepa ficou encarregada de fazer o levantamento para a elaboração dos processos de desapropriação.
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A estimativa é de que pelo menos 500 propriedades precisem ser indenizadas para a duplicação. Segundo a assessoria do DNIT, foram realizados mutirões de desapropriação para os três lotes de duplicação da rodovia nos dias 30 de março, 25 e 26 de abril.
Concessão é vista como alternativa
Com poucos recursos em caixa para tocar a obra, uma solução para a duplicação da BR-280 é a concessão da rodovia a um grupo privado. Estudos para isso são feitos pelo governo federal, com o suporte do governo do Estado. No fim de março, entretanto, essa possibilidade recebeu uma ¿ducha de água fria¿.
Conforme informou à epoca o colunista de ¿AN¿ Jefferson Saavedra, a concessão da BR-280 foi adiada para 2018, com remotas possibilidades de licitação. Quando o pacote de concessões de rodovias federais foi lançado em junho de 2015, a meta era conceder a BR-280, entre São Francisco do Sul e Porto União, ainda em 2016.
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Seria uma forma de ampliar a duplicação no trecho de 74 quilômetros entre São Francisco e Jaraguá do Sul. A concessionária seria paga pela pedágio. Em março, portaria do governo federal estendeu a análise dos estudos técnicos das empresas interessadas na concessão para até o dia 31 de dezembro.
Colisões frontais são o grande vilão
A demora no repasse de verbas é um problema recorrente para o avanço das obras, mas não é a pior parte dessa história. Os acidentes que ocorrem na rodovia deixam graves sequelas e, muitas vezes, tiram a vida de pessoas. Para se ter uma ideia do que isso representa, em nove anos, foram registrados 6.737 acidentes no trecho entre São Francisco e Jaraguá, com 171 mortes e 4.857 feridos.
Segundo dados da PRF, desde o anúncio das obras na rodovia, o ano mais trágico em termos de acidentes foi o de 2014, com 34 mortes no trecho – um dos piores acidentes ocorreu no dia 30 de julho, quando cinco funcionários da BMW bateram de frente contra uma caminhão. Os anos com menos mortes foram os de 2008 e 2013, com 14 registros de vítimas fatais cada.
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Para amenizar a situação, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realiza campanhas educativas com o objetivo de conscientizar os motoristas que trafegam pela região. As campanhas incluem palestras em empresas e blitze em pontos estratégicos. Outras soluções são a colocação de tachões sobre a pista – o que dificulta as ultrapassagens entre veículos, por exemplo; a colocação de placas de sinalização com os limites de velocidade permitidos; e também o monitoramento por meio de radares portáteis.
– Intensificamos a fiscalização e também adequamos o trecho com itens de segurança para baixar o número de acidentes. É uma tarefa difícil, principalmente porque a rodovia passa por áreas urbanas muito movimentadas – explica o inspetor Edilson Mario da Costa, chefe do núcleo de policiamento e fiscalização da BR-280 na região de Joinville.
Atualmente, Edilson conta com 12 agentes para fiscalizar o trecho, que se alternam em turnos de 24 horas de trabalho, para fiscalizar 77 quilômetros da rodovia. De acordo com o inspetor, os trechos mais perigosos e que costumam ter acidentes fatais são dois: entre os km 20 e 30, em Araquari, e entre os km 50 e 60, em Guaramirim. Neles, a principal ocorrência é a de colisões frontais, causadas por ultrapassagens, seguida por colisões transversais – quando um veículo tenta entrar na pista e bate lateralmente – e atropelamentos.
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– As pessoas se arriscam muito, tanto as que dirigem veículos quanto as que transitam às margens da rodovia. A duplicação ajudaria a baixar esses números, porque praticamente não teríamos mais colisões frontais, e os atropelamentos se reduziriam bastante com a construção de passarelas – pondera.
Proposta de pista adicional perde força
O governador Raimundo Colombo anunciou, durante passagem por Joinville no mês passado, que teria recursos assegurados para a construção de uma terceira pista em um trecho da BR-280. A ideia da pista adicional, com cerca de 11 quilômetros de extensão entre os trevos de acesso a Balneário Barra do Sul e o bairro Itinga, é do prefeito francisquense Renato Gama Lobo. No entanto, ainda não há projeto pronto.
– É uma ideia ¿maluca¿ que tenho desde antes de ser prefeito e que é uma forma de minimizar o sofrimento das pessoas que vivem e dependem da BR-280. Ela mudaria a vida de milhares de pessoas na região metropolitana de Joinville – defende.
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Ele afirma que a proposta também surgiu por causa da demora na duplicação da rodovia. Segundo o prefeito, a obra tem dado dez passos para frente e outros 20 para trás, estendendo cada vez mais o prazo para conclusão. Desta forma, ele optou por tentar colocar em prática a construção da terceira pista para amenizar o problema.
De acordo com Renato, o governador acenou positivamente para realizar a obra, mas ainda é necessário o projeto que está sendo preparado pelo governo do Estado e pela Secretaria de Infraestrutura.A intervenção na rodovia seria mais simples do que a duplicação porque o acostamento viraria pista de rolamento, sem a necessidade do licenciamento ambiental.
Renato Lobo diz que ainda não há valores orçados de quanto custará a obra, mas já houve informações de que o custo giraria em torno de R$ 20 milhões. Em Joinville, Colombo afirmou que os recursos seriam liberados do caixa do Porto de São Francisco do Sul. A construção da terceira pista ainda precisaria da aprovação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). (colaborou Hassan Farias)
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