Nas manhãs de sol, o professor aposentado Kazuyuki Takemura, 65 anos, senta-se em uma cadeira no quintal de casa, no bairro Vila Nova, em Joinville. Logo um cachorro akita de pelagem creme vem pular em seu colo, pedindo para brincar. Nas últimas semanas, no entanto, ele não é correspondido na empolgação, e, por isso, deita-se ao lado da cadeira, em silêncio.

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Desde maio, Takemura sabe que está com câncer no pâncreas e, depois que começou a fazer quimioterapia, perdeu peso e forças para corresponder à agitação de Riki Maru, seu akita de quatro anos. Riki ainda não sabe, mas precisará, em breve, deixar o quintal no Vila Nova para começar uma nova vida em outra casa, com outra família.

Riki era um filhotinho com menos de 40 dias quando deixou a casa da mãe para ser adotado pelo casal. Agora, pesa pelo menos 30 quilos e, quando fica em pé, ultrapassa a altura do tutor. Não que Riki goste de exibir seu tamanho sobre duas patas: é o jeito que ele tem de dizer que gosta de alguém. Por mais que goste do homem que o adotou, agora ele não pode mais demonstrar desse jeito.

Por orientação médica, Takemura precisa evitar estes contatos expansivos com o cachorro, sob o risco de machucar um corpo já debilitado pela doença. Como este também era um dos motivos da felicidade do japonês, estão os dois – homem e cachorro – sentindo as dores da separação.

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Quando Takemura sai de casa para ir às sessões de quimioterapia, Riki chora e se recusa a fazer qualquer coisa a não ser esperar. Com isso, seus belos pelos cor de creme também começaram a cair por causa de uma doença de pele provocada pelo estresse.

Se a placa amarela de vende-se em frente ao muro não pode ser decifrada pelo cachorro, a mudança no comportamento de seus tutores parece fazer sentido. Foi muito rápido que Takemura e a mulher, Emy, precisaram aceitar que a dorzinha no estômago que ele sentia em abril tornaria-se uma doença intransponível.

Embora tenha sido feita uma cirurgia de emergência e do tratamento, os médicos não deram esperanças e avisaram que a expectativa de vida para ele variava de seis meses a um ano. Por isso, o retorno para São Paulo, que parecia impossível quando eles se mudaram para Joinville há sete anos, tornou-se a solução para que estes últimos dias sejam ao lado da família.

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– Agora, ele passa a noite pensando no que fazer com o Riki, e não consegue dormir de tanta preocupação – conta Emy.

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Auxiliados pela protetora dos animais Marli Piekarski, eles buscam uma casa e novos tutores para Riki – alguém que entenda o amor e os laços que criam-se entre um homem e seu bichinho. Tratado como filho nestes primeiros anos de vida, talvez seja difícil para ele no início da adaptação, que está sendo acompanhado pelo educador canino Edy Sales.

– Ele precisa de espaço, de uma casa com quintal. Além disso, quem o adotar vai precisar entender que ele precisará passar por uma adaptação – avalia Marli, que está avaliando a casa e o perfil dos interessados para garantir que Riki será bem cuidado e que, principalmente, não caia nas mãos de criadouros irresponsáveis.

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Mas o casal Takemura não deu a ele este nome à toa: em japonês, Riki Maru quer dizer garoto forte. Quem estiver preparado para adotá-lo, pode entrar em contato pelos telefones (47) 3439-2257 ou (47) 9665-9554.

Relacionamento precisa ser mantido

Quando ficou sabendo que precisará se separar de Riki, Kazuyuki Takemura achou que era melhor começar a se afastar do cachorro, preparando o animal para o desapego. A primeira providência do educador canino Edy Sales, no entanto, foi desfazer essa decisão.

– É digno da parte dele se preocupar assim com o Riki, mas o carinho e o cuidado precisam continuar enquanto puder, respeitando, claro, os limites que a doença impuseram. O cachorro não entende a doença, mas sintoniza com aquela energia e, por isso, vai querer ficar mais próximo do tutor – avalia ele.

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No período em que Riki for acompanhado pelo educador canino, ele será ressocializado, quer dizer, aprenderá a conviver com outros desafios e situações que sua vida no quintal não permitiram. Como tornou-se muito grande e pesado, o cachorro dos Takemura não se acostumou a passear – para ele, colocar a coleira significa que é hora de tomar vacina.

– Ele acabou por se tornar um cachorro inseguro, que não conviveu com outras pessoas, outros cachorros e com o dia a dia de uma rua. Tem muita energia acumulada, mas é carinhoso quando confia – afirma Edy.