Dez dias após a morte de Sofia Pereira, de apenas 4 anos, por conta da dengue, o Pronto Atendimento (UPA) de Barra Velha, onde ela havia sido atendida, passou por uma inspeção surpresa do Ministério Público (MPSC) e Conselho Regional de Medicina (CRM). A família de Sofia alega negligência médica, já que a levou três vezes ao PA, foi liberada para casa e, na última consulta, a pequena não resistiu e morreu por conta de complicações causadas pela dengue.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Joinville e região no WhatsApp
— Várias situações foram elencadas com o objetivo de buscar a melhoria no atendimento da saúde em Barra Velha, com pleno atendimento das normas previstas no Conselho Regional Federal de Medicina, garantindo, assim, ao cidadão, respeito aos seus direitos fundamentais — cita o Promotor de Justiça Renato Maia de Faria.
Dezoito minutos separaram morte de pai e filha por suspeita de dengue em Joinville
A fiscalização aconteceu na manhã de quarta-feira (10). Após a visita, o MPSC fez uma lista de adequações as quais a prefeitura de Barra Velha deve atender. A mais urgente é a indicação de um profissional que assumirá a responsabilidade técnica do PA. O governo municipal tem 48 horas para fazer a nomeação, sob pena do pedido de interdição da unidade de saúde.
Continua depois da publicidade
Dengue em Santa Catarina
Os prazos para as demais adequações foram maiores. Em 10 dias, o município deve fazer a instalação do laboratório de análises clínicas e 15 dias para a contratação dos médicos.
Os apontamentos foram feitos pelo CRM como exigências mínimas para o seguimento dos trabalhos. Foram, ainda, enumeradas a necessidade de uma sala de isolamento, a melhoria no nível de segurança dos programas para preenchimento de prontuários, além da necessidade da estruturação das seguintes comissões, exigência feita em outras vistorias e não cumpridas pela administração pública:
- Revisão de Prontuários
- Revisão de Óbito
- Controle de Infecção em Serviços de Saúde
— Ministério Público tem zelado pela melhora da saúde na cidade, especialmente depois da tragédia que aconteceu recentemente. Precisamos não apenas resolver um problema específico e que vem sendo investigado, mas sim o problema de todos os cidadãos barravelhenses, para que isso não volte a ocorrer — comenta o Promotor de Justiça
Continua depois da publicidade
Após a inspeção, Maia de Faria se reuniu com o prefeito interino de Barra Velha, Daniel Pontes da Cunha. Na oportunidade, foram apresentados todos os apontamentos necessários para a melhoria da gestão e da estrutura do Pronto Atendimento.
O membro do MPSC informou que o chefe do Executivo municipal se mostrou comprometido em solucionar os problemas enumerados dentro dos prazos estabelecidos pela Promotoria de Justiça. Caso isso não ocorra, uma ação civil pública poderá ser ajuizada com o objetivo de alcançar melhoria da estrutura, gestão e atendimento do Pronto Atendimento de Barra Velha.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que prontamente recebeu e atendeu as solicitações das equipes do MPSC e CRM durante todo o procedimento, oferecendo todas as condições necessárias para que o trabalho da equipe fosse desenvolvido. Além disso, o prefeito interino, Daniel e a Secretaria de Saúde se comprometeram a atender as solicitações dos órgãos para melhorar o atendimento emergencial na cidade de Barra Velha.
Nos próximos dias, a prefeitura deve apresentar as mudanças adotadas para melhor atender a população da cidade e reforça que busca a cada dia oferecer um atendimento de saúde de qualidade, em especial nesse momento crítico que estamos passando por causa da dengue.
Continua depois da publicidade
Mãe se revolta com o caso
Além do luto, a mãe da criança, Ana Maria, está com o sentimento de revolta após a morte da filha. Isso porque, segundo ela, o caso teria sido negligenciado pelo médico que a atendeu no Pronto Atendimento de Barra Velha.
A pequena Sofia teve os primeiros sintomas no dia 27 de março e foi levada ao PA da cidade. Mesmo tendo recebido a pulseira de prioridade no atendimento, a unidade estava cheia de pacientes e a família demorou para receber a assistência. Após medicada, Sofia foi liberada.
Por conta da piora, a família realizou um teste particular de dengue, que deu positivo. No dia seguinte, a menina estava com inchaço nos olhos, rosto e barriga e foi novamente levada ao PA. Lá, sem exames, o médico disse à Ana que Sofia tinha gastroenterite bacteriana.
— Esse médico não pediu exame, não receitou remédio na veia, nada. Deu remédio comprimido, pomada —, diz a mãe, que achou estranho o diagnóstico, já que a filha nunca teve um quadro de doença semelhante.
Continua depois da publicidade
No outro dia, Sofia piorou e foi levada novamente ao PA de Barra Velha. Por conta da gravidade do quadro, a menina foi encaminhada a um hospital de Jaraguá do Sul, onde ficou internada. A criança não resistiu e morreu na unidade no dia 31 de março.
— O médico de Jaraguá falou que se ele [médico do PA] tivesse pedido exame para ver que tipo de dengue ela estava, podia ter salvado ela. Fui para casa confiando nele — lembra Ana com revolta.
Após o caso, a prefeitura da cidade exonerou o secretário de Saúde, Rogério Pinheiro, dois dias após a morte de Sofia. Além disso, o município afastou também preventivamente o médico que atendeu a menina, com objetivo de investigar a conduta médica. De acordo com informações da prefeitura, a decisão foi tomada em conjunto com o ex-secretário para que as atividades de investigação promovidas pela cidade não sofram interferências.
Leia também
“Aliviado”, diz defesa após vereador cassado de Joinville sair de presídio
FOTOS: Saiba como está o Jorge, cachorro jogado de ponte em Joinville
Vídeo impressionante mostra dois caminhões desgovernados juntos em área de escape na BR-376