Dezenas de moradores de rua ocuparam as escadarias da frente da Catedral Metropolitana em Florianópolis na manhã desta segunda-feira (20) em protesto contra o fechamento com tapumes da área debaixo da marquise do prédio do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra).

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A estrutura fica na Rua Tenente Silveira, no Centro, e servia de abrigo para diversas pessoas, conforme o Movimento População de Rua. Desde sábado (18), o local está isolado.

De acordo com o psicólogo Gabriel Amado, do Instituto Arco-Íris, organização não-governamental de defesa dos direitos humanos, o espaço era uma alternativa para quem não encontra vaga em albergues e casas de acolhimento do município. Conforme o movimento População de Rua, atualmente 480 pessoas não têm onde morar na capital.

– Os membros do movimento População de Rua acolhem quem chega, muitas vezes desorientado, e voluntários também. As ações (da prefeitura), em vez de ampliar a garantia de direito para essa população, principalmente no início do inverno, com chuva e frio, usam de higienização, que não resolve a situação, só empurra para o lado – criticou o psicólogo.

Conforme Gabriel Amado, os moradores estão sendo criminalizados em Florianópolis com o uso distorcido de informações do movimento de rua.

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– Acabam usando pesquisas que a própria população em situação de rua fez, onde dizem que 88% das pessoas são usuárias de drogas, seja lícita ou ilícita. A primeira droga mais usada é álcool, a segunda é cigarro. Agora, eles dizem que 88% é dependente química, o que é distorcido, com o propósito de criminalizar a população de rua, de reduzir à droga – comentou Gabriel Amado.

Contraponto

A prefeitura informou que o município dispõe de 200 vagas para pernoite, distribuídas em sete espaços, entre albergues, casas de acolhimento e a Passarela da Cidadania. Nesta última, são oferecidas três refeições ao dia para até 150 pessoas.

Por meio de sua assessoria, o Deinfra informou que os tapumes foram instalados para um trabalho de manutenção que deve durar quatro meses. Nesse período, além de limpeza, o espaço também deve receber uma pintura.

Sem ter para onde ir

Depois de ficar desempregado em abril, Amilques Rodrigues, de 39 anos, se viu sem ter para onde ir e encontrou abrigo embaixo na marquise do Deinfra.

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– Não dei vencimento em aluguel, em me manter, me vi na rua, perdido. Ali (na aba do prédio) eu consegui me alimentar, dormir tranquilamente, ter meus pertences mais protegidos, foi onde eu comecei a caminhar, organizar as ideias. Ali, me encaminharam para o POP (Centro Pop), pra Passarela Nego Quirido, acabei indo para o albergue, já estou trabalhando e em breve não estarei mais em situação de rua – contou.

Conforme a secretária de Assistência Social de Florianópolis Maria Claudia Goulart, a prefeitura ampliou no ano passado o atendimento a moradores de rua.

– Abrimos a passarela da cidadania com abrigo provisório não só nos dias de frio, mas diariamente. Temos oferta de alimentação, espaço de higienização de roupas, banho. Só este ano, a prefeitura já concedeu cerca de 600 passagens pras pessoas retornarem para o município de origem – explicou.

A estudante Adrielli dos Santos, de 18 anos, depois de ter sido roubada e não ter para onde ir, vinha passando a noite embaixo da marquise do prédio do Deinfra nos últimos cinco meses.

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– Eu saía do colégio à ia pra lá, depois vinham as pessoas com doações de alimento. Eu fiquei muito triste, ali era minha casa, a casa de muitos que estavam ali há anos e também não acreditaram quando foi fechado – afirmou.