Dois incidentes de explosão de tanques de fermentação em cervejarias registrados em menos de 30 dias em Blumenau acenderam um alerta para a segurança dos equipamentos. Empresários do setor cervejeiro contam que não há fiscalização de órgãos públicos sobre a segurança específica dos tanques, que cabe às empresas monitorar a manutenção e a condição dos maquinários.
Continua depois da publicidade
Nas vistorias anuais que faz aos estabelecimentos, o Corpo de Bombeiros verifica se há tanques com possibilidade de acúmulo de pressão. Nesses casos, os fiscais solicitam um documento chamado de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Esse atestado deve ser assinado por um engenheiro responsável que precisa ser contratado pela empresa para verificar a situação e garantir a segurança dos reservatórios.
No caso da Oktobier, a última inspeção feita pelos bombeiros foi no dia 28 de junho. Já no caso da Container, a outra cervejaria em que houve incidente, a vistoria foi feita quatro dias antes da explosão, em 8 de outubro. Nos dois casos, os estabelecimentos estavam regulares em relação à segurança, segundo os bombeiros. Após as explosões não foram feitas perícias oficiais no local.
Segundo a corporação, isso costuma ser feito apenas após incêndios, explosões ou em ocorrências com vítimas. Conforme o tenente Rodrigo Gonçalves Basílio, da Seção de Atividades Técnicas (SAT) do Corpo de Bombeiros de Blumenau, os tanques devem receber uma atenção maior nas próximas vistorias anuais, que em função da repercussão podem até ser antecipadas nos estabelecimentos em que houve os incidentes.
O primeiro caso de explosão em tanque de fermentação ocorreu há um mês, na cervejaria Oktobier, que funciona no mesmo prédio do Madrugadão Lanches, no bairro Itoupava Norte. Na ocasião, uma válvula de segurança não teria funcionado para controlar um acúmulo, o que causou a explosão do tanque. O vídeo do momento repercutiu nas redes sociais, mas ninguém ficou ferido.
Continua depois da publicidade
O proprietário da Oktobier, Jalmei Garcia, explica que o problema ocorreu no manômetro, equipamento que controla a saída de gás, e na válvula de segurança. Ambos não teriam ativado quando deveriam. Após o incidente, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) pediu informações sobre o equipamento à cervejaria.
O tanque de 4 mil litros danificado no incidente foi recuperado e agora a empresa trabalha na busca por válvulas com maior resistência. Um treinamento da equipe também está sendo feito para que os funcionários acompanhem mais de perto os níveis de pressão nos tanques.
– Também contratamos um engenheiro que, assim como já acontece com a caldeira, vai vistoriar periodicamente os tanques e garantir a segurança. Vamos fazer um plano de segurança para que isso nunca mais aconteça – garante Garcia.
Explosão danificou veículo próximo
O segundo caso foi registrado na sexta-feira, na Cervejaria Container, no bairro Itoupava Central. Um laudo ainda está sendo elaborado para apontar a causa do incidente. Não houve registro de feridos, mas a explosão danificou até um vidro de um carro que estava próximo do local.
Continua depois da publicidade
O sócio-diretor da Container, Daniel Reginatto, explica que depois do caso o estabelecimento está revendo e trocando as válvulas para evitar novos problemas do tipo. Para os tanques, porém, ele explica que não há uma normativa específica a ser seguida.
Associação pretende revisar padrões
O presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli, afirma que depois dos incidentes a entidade pretende revisar os padrões de segurança do trabalho.
O corpo técnico da instituição deve auxiliar na elaboração de um documento que possa regularizar o sistema de proteção. A construção de uma dupla válvula de segurança é um dos avanços cogitados pela associação.
– O próprio mercado acaba controlando isso, mas vamos buscar um debate com os próprios fabricantes para reforçar esta questão e fazer um documento para tentar revisar (os padrões de segurança) – conta Lapolli.
Continua depois da publicidade
O cervejeiro explica ainda que para quem faz cerveja em casa não há risco de explosão desse tipo porque ela só ocorre nos tanques de fermentação em que há uso de pressão, exclusividade da produção industrial.
Relembre os casos
::: Tanque com chope explode dentro de lanchonete na Itoupava Norte, em Blumenau
::: Segundo tanque de chope explode em Blumenau em menos de um mês
Empresas devem ter plano de manutenção
O professor da área de processamento da Escola Superior de Cerveja e Malte, Honorato Pradel, explica que os tanques sofrem grande aumento na pressão interna durante a fermentação do chope. Caso algum mecanismo de controle não funcione, uma válvula de segurança abre e alivia essa pressão.
Nos casos registrados em Blumenau, a suspeita do professor é de que tenha havido falta de controle durante a operação. Como não há fiscalização de um órgão específico, a responsabilidade para garantir a segurança dos equipamentos, segundo ele, compete às empresas.
Continua depois da publicidade
– O que precisa ser feito é que empresas tenham um bom plano de manutenção, verifiquem dispositivo de controle, que os instrumentos de leitura de pressão sejam sempre aferidos e calibrados, e feitas vistorias periódicas para não ter a infeliz notícia de que falhou na hora em que ele precisaria ter trabalhado – afirma.