Em Israel, com os dedos ágeis, Doron Levner tecla com a mulher no Brasil – ele acredita que ela é sua mãe. Mesmo com uma distancia de mais de dez mil quilômetros, assunto não falta mas, as palavras são escassas – a comunicação nem sempre é compreensível. Ele fala em hebraico e está aprendendo a escrever em português, ela somente português. Há pouco mais de quatro meses o Facebook tem sido a principal fonte de comunicação entre Doron e sua provável mãe biológica Regina Lúcia da Silva, em São Paulo. Aliás, para os dois, a palavra “provável” não se aplica. Eles confiam nas semelhanças físicas, nas afinidades e nas peças que se encaixam da história contada por familiares.

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O encontro entre os dois só foi promovido graças ao empenho do grupo de quatro voluntárias, no Brasil. Elas, buscam por pessoas desaparecidas e, após conhecerem a história de Doron, não desistiram de procurar por Regina mesmo depois de se depararem com diferentes endereços e nos homônimos do nome comum de Regina. Após confirmarem os dados nas documentações e as semelhanças físicas, fizeram o contato entre as famílias.

A primeira conversa, foi tímida, truncada pelas diferentes línguas, mas o desejo de se conhecerem foi maior. Depois de 26 anos de afastamento, Doron e Regina ainda têm muito a conversar. Apesar de conversarem quase todas as noites pela internet, mãe e filho ainda não se conhecem pessoalmente. Dentro de seis meses, Doron quer ir ao Brasil para encontrar com a mãe biológica, para isso reveza seu tempo com aulas particulares de português.

Com um jeito tímido, sentado ao lado de sua mãe adotiva Nurit Levner, no confortável apartamento onde mora na cidade de Givat Shmuel, arrisca algumas frases em um português com um sotaque carregado.

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– Sempre procurei pela minha mãe. Agora estou feliz – garante Doron com um sorriso largo, mostrando seus dentes brancos em contraste com a pele morena.

Pelas fotos é possível perceber as semelhanças físicas entre eles. Mas, para Doron a descoberta da mãe biológica não é o fim de uma longa busca. Ele ainda quer conhecer o pai: Sandro Formas. Sobre o passado, sabe que a mãe Regina, trabalhava em uma fazenda no interior de Pernambuco. Quando engravidou do proprietário das terras foi mandada embora da fazenda. Regina foi morar na casa de parentes do pai da criança, até o nascimento do bebê.

Adoção

Em Israel, no ano de 1988, Nurit Levner, fazia parte do Kibutz – uma tradicional comunidade em Israel, quando resolveu adotar uma criança. Professora de artes plásticas, jovem e solteira, tinha o desejo de ser mãe. Pediu então ajuda a uma amiga no Brasil que conhecia um advogado. Ele fez toda a intermediação na adoção de Doron, na qual foram pagos cerca de mil dólares pela criança. Nurit recebeu Doron no aeroporto em Tel Aviv, com apenas um mês de vida.

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Em um livro personalizado com fotos de momentos marcantes ela registra trechos da vida de seu filho adotado. Com orgulho mostra o álbum que retrata toda infância e adolescência de Doron. Uma delas chama atenção e Doron explica que ele tinha 13 anos e o momento é um ritual, chamado de “Bar Mitzvá”, fundamental para os judeus, quando o adolescente passa a ter as mesmas obrigações religiosas dos adultos, tornando-se responsável pelos seus atos e transgressões.

Sobre sua adoção, Doron conta que soube quando criança. Aos três anos de idade sua mãe já falava para ele de onde veio. Nurit sempre atenciosa e carinhosa acompanhou o filho na busca pela mãe biológica. Ela não nunca teve medo de perder o amor do filho.

– Vou estar sempre ao lado dele e sempre vou ajudá-lo no que precisar – diz Nurit.