A revelação de que uma ex-gerente-executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras alertou a presidente Maria das Graças Foster de irregularidades na estatal fez com que líderes da oposição pedissem, nesta sexta-feira, a substituição imediata do comando da estatal.
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– É inadmissível que não se promova uma mudança radical na Petrobras. Se não há participação direta (no esquema), há o crime de omissão, de conivência e de cumplicidade. Não há como tolerar essa passividade do governo com relação aos gestores da Petrobras – afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), também afirmou que Graça perdeu as condições de permanecer no posto.
– Ela vai se transformando numa presidente fraca, que não tomou medidas para conter os desmandos na Petrobras – disse.
Reportagem do jornal Valor Econômico publicada nesta sexta-feira afirma que a atual diretoria da Petrobras foi informada de irregularidades em contratos da petroleira antes do início da Operação Lava-Jato, que apura um esquema de desvio de recursos para o pagamento de propina a políticos. Segundo a publicação, a geóloga Venina Velosa da Fonseca, que entre 2005 e 2009 foi subordinada ao ex-diretor Paulo Roberto Costa – preso pela Polícia Federal e em acordo de delação premiada com a Justiça -, apresentou denúncias de malfeitos à diretoria da petroleira, inclusive com e-mails encaminhados a Graça Foster.
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– As denúncias são gravíssimas e provam, com os e-mails, que a Graça foi alertada sobre as irregularidades. Há muito tempo ela deixou de ter condições mínimas de dirigir a empresa. A oposição tem insistido que a presidente da República renove a diretoria da Petrobras, para que a empresa possa ter um comando sem histórico de relação com as denúncias – avaliou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).
O líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), endossou o coro.
– É um enredo estarrecedor. Não há mais qualquer desculpa para a permanência de Graça Foster na presidência da Petrobras. Se tiver o mínimo de juízo, a presidente Dilma tem a obrigação de demitir sua protegida e toda a diretoria da empresa. Se não o fizer, vai sinalizar que também faz parte da quadrilha que saqueou a Petrobras – afirmou em nota.
O líder sugeriu que Venina passe a ter proteção policial.
– Estamos falando de uma quadrilha que não tem limites. O fato de Graça Foster já saber das denúncias não nos surpreende. Isso já havia ficado claro nos depoimentos de Paulo Roberto Costa. No entanto, o depoimento de Venina pode agregar novos detalhes aos processos que já estão em andamento na Justiça, fortalecendo as provas contra agentes públicos e políticos que sequestraram a Petrobras – concluiu.
Relatório paralelo da oposição pedirá o indiciamento de Graça Foster
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) vai pedir o indiciamento da presidente da Petrobras, Graça Foster, no relatório paralelo que a oposição apresentará na CPI Mista da estatal na próxima semana. O tucano – incumbido pelo PSDB, DEM, PSB, PPS e Solidariedade de produzir um parecer alternativo ao do deputado Marco Maia (PT-RS) – informou que a denúncia de que toda a diretoria foi alertada sobre o esquema de corrupção agrava a situação de Graça Foster.
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Na quinta-feira, Sampaio avisou que pretende pedir o indiciamento daqueles que considera envolvidos de forma comprovada no esquema, como o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef, o ex-deputado André Vargas (cassado na quarta-feira), o deputado Luiz Argôlo (SD-BA), além de empresários que fizeram a delação premiada. Por falta de provas, ele não pretende incluir na lista de indiciamentos a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O relatório do petista apresentado nesta semana poupa empreiteiros e políticos.
A oposição considera que a nova informação compromete ainda mais a situação de Graça. Para os parlamentares, a presidente da Petrobras já havia mentido quando disse que não sabia sobre as denúncias de pagamento de propina a funcionários da Petrobras pela companhia holandesa SBM Offshore.
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Confira a nota divulgada pela Petrobras na noite de quinta-feira:
“A Petrobras esclarece que, em relação à matéria publicada no Valor Pro de 11/12/2014, sob o título ” Diretoria da Petrobras foi informada de desvios de bilhões em contratos”, instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento.
O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 03 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da companhia. Porém, a demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica, vindo a ocorrer em 2013. O resultado das análises foi encaminhado às autoridades competentes.
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Em relação aos procedimentos na área de Bunker, após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.
Como mencionado em comunicados anteriores, a Comissão Interna de Apuração constituída para avaliar os processos de contratações para as obras da RNEST concluiu as apurações e encaminhou o Relatório Final para os órgãos de controle e autoridades competentes.Assim, fica demonstrado que a Companhia apurou todas as informações enviadas pela empregada citada na matéria”.
* Estadão Conteúdo