Após anunciar e corrigir a própria informação poucas horas depois, a Polícia Militar voltou atrás mais uma vez e bateu o martelo: o incêndio ocorrido na madrugada da última quarta-feira em uma base localizada no Bairro Santa Catarina, em Lages, na Serra, foi um atentado criminoso, e não um acidente.

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Desta vez, a confirmação é definitiva, tanto que, na manhã desta sexta-feira, três pessoas foram presas e apresentadas à imprensa como prova viva da nova versão. Ainda que as prisões tenham sido feitas apenas dois dias após o ataque, é inegável que as informações controversas causaram um certo desconforto entre a PM e a imprensa.

Num primeiro momento, logo após o incêndio, a instituição divulgou uma nota tratando o fato como o 112º ataque no Estado e elevando para 37 o número de cidades com registros, o primeiro em Lages e que interrompia, assim, uma trégua de 48 horas em relação ao último caso, ocorrido na madrugada de segunda-feira, com o incêndio de um carro particular em Joinville, no Norte.

Mas na mesma manhã, depois que veículos de comunicação do Brasil inteiro divulgaram o episódio de Lages, a PM emitiu uma nova nota descartando o atentado e considerado o incêndio um acidente. A justificativa era de que os policiais e o Instituto Geral de Perícias (IGP) não encontraram um único indício de crime no local, e a hipótese mais provável era a de que o fogo havia iniciado pelo botijão a gás em virtude de um acidente cuja causa seria apurada.

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Ocorre que, no fim da tarde, durante a limpeza do local, foram encontrados fragmentos de uma garrafa pet que levantaram a suspeita dos policiais. O perito criminal Marcelo da Silva, do IGP foi, acionado novamente e recolheu o material. Tratava-se de dois pequenos pedaços de plástico bem retorcidos e que apresentavam um forte cheiro de combustível. O material foi encaminhado ao Instituto de Análise Forense do IGP, em Florianópolis, que vai analisar se o odor é de algum produto inflamável. Marcelo espera que o laudo seja concluído em até 30 dias.

– Ainda era madrugada quando fui ao local do incêndio pela primeira vez. Havia muita fuligem e água. Depois, no fim da tarde, fui chamado pelos bombeiros, voltei lá e recolhi os vestígios encontrados durante a limpeza. Foi o único fato novo na perícia. Não foram localizados outros indícios ou sinais de arrombamento. Provavelmente algo aceso foi jogado pelo vidro da janela ou pelo basculante e caiu sobre a mangueira do botijão, provocando o incêndio. Agora é impossível coletar digitais para comparar com as dos suspeitos -, diz o perito criminal do IGP.

Incêndio provocado para pegar moral com o crime organizado

O comandante da Polícia Militar em Lages, tenente-coronel Adilson Moreira, reforça as informações do perito do IGP. Tão logo soube dos vestígios encontrados à tarde no local do incêndio, Adilson passou a manter contato com a Divisão de Investigação Criminal (DIC) da Polícia Civil e com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

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Um inquérito foi instaurado na DIC e o delegado Márcio Schütz orientou o comandante da PM para que ficasse atento a um Gol que havia sido furtado na noite anterior ao incêndio, no Centro da cidade. A suspeita era de que este veículo teria sido utilizado no crime.

A DIC e o Gaeco tinham informações de que uma mulher de 25 anos, esposa de Aparecido dos Santos, o Neguinho, principal suspeito de ter incendiado dois ônibus na cidade de Gaspar, no Médio Vale do Itajaí, no início da onda de ataques, no fim de janeiro, estaria em Lages. Ela não tinha antecedentes criminais, mas a suspeita era de que estivesse em Lages, onde tem familiares, para atuar no tráfico de drogas.

Para o delegado Márcio Schütz, foi ela quem planejou o ataque à base da PM e convidou sua irmã, de 55 anos e com passagens por tráfico, e mais um homem, de 31 e considerado o maior ladrão de carros da cidade, para praticarem o crime. O carro furtado na noite anterior ao incêndio foi localizado pela PM a 50 metros da casa onde ela estava, no Bairro Santo Antonio, com duas garrafas plásticas em seu interior.

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Os três suspeitos foram presos na manhã desta sexta-feira por mandados de prisão temporária de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco e com a possibilidade de serem convertidos para preventiva. Segundo o delegado, a mulher de Aparecido teria confessado que só resolveu incendiar a base da PM para pegar moral com a cúpula da facção criminosa que coordena os atentados no Estado e da qual o marido, preso na quinta-feira em Brusque, é um dos líderes.

Os três suspeitos foram conduzidos ao Presídio Regional de Lages e responderão por furto de veículo, formação de quadrilha, participação em organização criminosa e incêndio criminoso.

– Em Lages existem membros dessa facção criminosa, mas são poucos. No Presídio Masculino a disciplina é rigorosa e eles não têm contato. Qualquer bandido que queira vir para Lages praticar crime é bom pensar duas vezes, pois a polícia vai pegá-lo -, diz o delegado.

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