As manifestações ocorridas neste domingo no entorno do estádio do Maracanã se prolongaram até a noite, até a situação se normalizar por volta das 23h. Pela manhã, em passeata de 5 mil pessoas pautada pelo bom humor, havia poucos mascarados, pessoas levavam bandeiras de partido sem serem hostilizadas e as reivindicações eram claras: contra a privatização do estádio, pela reabertura do parque aquático e a reconstrução da pista de atletismo destruída na reforma do Maracanã para a Copa.
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No fim da tarde, o clima era outro: não havia bandeira de partidos, muitos estavam encapuzados, vestidos de preto e havia animosidade contra a imprensa. Pouco antes do início do jogo, um grupo jogou pedras, garrafas e coquetéis molotov contra a polícia, provocando o confronto. Pelo menos três PMs e seis manifestantes ficaram feridos.
A manifestação marcada para a tarde reuniu 2,5 mil pessoas e também seguia pacífica, com apoio dos moradores, que balançavam bandeiras pelas janelas. Acompanhada por forte policiamento, o grupo deveria caminhar para a Praça Afonso Pena, onde ficaria a mais de dois quilômetros do Maracanã.
Subitamente, os manifestantes entraram na Rua São Francisco Xavier, um dos principais acessos ao estádio, causando corre-corre entre os PMs que formavam o cordão de isolamento à frente da passeata. A estação do metrô no local foi fechada. A 400 metros do Maracanã, foram impedidos de avançar por forte barreira policial.
A vinte e seis minutos do início do jogo, um grupo começou a atacar os PMs com pedras e garrafas. Um homem lançou coquetel molotov que chegou a incendiar a calça de um PM. Policiais que formavam a barreira e repórteres se refugiaram em um posto de gasolina. Os manifestantes continuaram a lançar bombas caseiras.
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– Sai daí ou vai morrer todo mundo – gritou um policial para os que estavam no posto.
No meio da confusão, foi possível ouvir a comemoração do gol do Brasil
Homens do Choque e o caveirão (veículo blindado da polícia) seguiram para o ponto do confronto. Os manifestantes foram dispersados com tiros de bala de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Em meio ao cenário de guerra, com barulho de bombas e muita fumaça, que fazia policiais e manifestantes sentirem-se mal, foi possível ouvir o grito da torcida em comemoração ao gol de Fred para o Brasil contra a Espanha, antes do segundo minuto da final da Copa das Confederações.
Na entrada da área VIP do Maracanã os convidados e autoridades se queixavam que chegaram a sentir o cheiro das bombas de gás lacrimogêneo a pelo menos um quilômetro do estádio. Alguns chegaram a ter de ir ao banheiro antes de se dirigir à área nobre do Maracanã.
Quando a polícia avançou, os manifestantes se dividiram em três grupos. Parte seguiu pela Avenida Maracanã em direção à Praça Varnhagen, e colocou fogo em barricadas na Avenida Maracanã. Outros dois grupos fugiram em direções opostas da Rua São Francisco Xavier. A polícia passou a caçar os manifestantes pelas ruas da Tijuca e Maracanã. Alguns conseguiram abrigo em prédios. Na Rua Paula Britto, os PMs apreenderam 17 coquetéis molotov.
Pelas redes sociais, o grupo Anonymous Rio pedia que moradores filmassem a ação policial e liberassem o sinal do wi-fi, para que manifestantes pudessem compartilhar imagens na internet. A manifestação foi acompanhada por representantes da OAB e da Defensoria Pública, a convite da PM.
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– Infelizmente a confusão partiu dos manifestantes, que jogaram bombas de gás e pedras contra os policiais – disse Henrique Guelber, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública, segundo mensagem transmitida no Twitter do Comando de Operações Especiais (COE) da PM.