Depois de lançar a autobiografia no último dia 10 de setembro, quando completou 38 anos, Gustavo Kuerten admite a possibilidade de levar a carreira vitoriosa para as telas de cinema. Tricampeão de Roland Garros, o manezinho da Ilha revela a intenção de apresentar sua trajetória para novas gerações em outras formas:

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? Ao lado da família e fãs, Guga lança autobiografia em São Paulo

Se seguir os rumos da autobiofragia, a produção cinematográfica terá traços de emoção e superação, cobertos por episódios que jamais serão esquecidos pelos brasileiros. A autobiografia, intitulada Guga, Um Brasileiro, que terá lançamento em Florianópolis em 16 de outubro, mostra os segredos e, principalmente, o trabalho da família Kuerten e das pessoas que ajudaram o tenista catarinense a chegar ao topo. Com o irmão mais novo, Guilherme – que nasceu com microencefalia e paralisia cerebral -, Guga garante que aprendeu demais sobre a vida:

– O Gui uniu a família. Cada melhora dele era comemorada demais. Ele que definiu a minha filosofia de vida – conta.

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Aldo Kuerten, pai do tenista, faleceu quando ele ainda era criança, mas deixou uma lição muito importante: sempre jogar com raça e determinação.

– O meu pai conseguiu transmitir a imagem para os filhos de super-herói. E ele estava sempre envolvido no esporte. Bocha, tênis, basquete, vôlei. Isso criou o nosso interesse imediato ao esporte.

Outros acordes para os filhos

Gustavo Kuerten sempre gostou de cantar e tocar violão. Hoje, o tricampeão de Roland Garros é obrigado a aprender novos acordes para agradar uma plateia bem exigente: os filhos Maria Augusta, dois anos, e Luiz Felipe, um ano.

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– Cantar é todo o dia, mas a música é diferente. O que faz sucesso lá em casa é a Galinha Pintadinha, Balão Mágico e outras musiquinhas que a Guta gosta.

Este final de semana de Guga foi em São Paulo, acompanhando a Copa Davis. Na próxima terça-feira, ele estará em Florianópolis, onde lança a sexta edição da Semana Guga Kuerten.

? Confira a entrevista completa com o tenista:

Diário Catarinense – No prefácio do livro, sua mãe, Alice, diz que reviver o passado deu um ressignificado a sua vida. Fazer a biografia fez você valorizar e lembrar as pessoas que passaram na tua trajetória?

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Guga Kuerten – Primeiro foi prazeroso vivenciar a história. Tiveram situações em que eu era muito garoto e outras que não tinha nascido, como histórias do meu pai e mãe que descobri com o livro, que me trouxeram alegria e a indicação dos motivos para eu virar um atleta. E como foi criado o meu caminho no esporte. Quando eu boto a lupa para analisar os detalhes da carreira, tem pelo menos umas 50 situações em que o Larri, a mãe, o Rafa e o Gui foram fundamentais. O meu pai que falou com o Larri aos meus sete anos para ele me treinar. E a minha mãe foi atrás de patrocínio. Esses exemplos me incentivam muito.

DC – Como foi a experiência de fazer o livro?

Guga – Encontrei um cara legal para escrever o livro, o Luís Colombini. Ele interpretou bem a nossa família e transmitiu o que contava de forma muito certeira. Me envolvi de cabeça no projeto e nas últimas quatro semanas foi exaustivo, por que queríamos lançar no dia do meu aniversário. O prazo de entrega estava chegando. Parecia que eu estava em uma preparação para Roland Garros (risos).

DC – A biografia é sua, mas muitas partes são dedicadas a sua família. Isso é uma demonstração da importância deles para o seu sucesso?

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Guga – O livro traz detalhes de muita importância. O meu irmão (Rafael) abdicou do tênis para estudar, algo que no futuro ajudou muito porque ele coordenou a minha carreira. A minha mãe, desde o início, com uma frente de batalha muito forte. O Larri também, principalmente para formar uma cabeça vitoriosa. Para mim sempre foi difícil pensar na vitória e aceitar perder. Ele conseguiu me ajudar muito. Para dar certo era necessário a ajuda dessas pessoas e não teria acontecido sem eles. A presença do Gui e do pai me deixaram preparados para o desafio que estava para vir. Até os 15 anos não conseguia sonhar em ser um grande campeão e ídolo mundial. E esse papel formatei a partir de outras pessoas. O Larri foi importante. Outros atletas brasileiros me ajudaram muito. Vendo o sucesso do Oscar Schmidt, Ayrton Senna, e muitos outros que agora vou esquecer, eles me ajudaram a entender que um brasileiro podia vencer americanos e europeus. O meu livro traz bastante coisa da minha família por causa disso.

DC – Em uma partida hipotética entra Aldo Kuerten e a lenda do tênis John McEnroe, quem venceria?

Guga – O pai ganharia de lavada: 6-2/6-1 para o ele. Poderia ser até na grama esse jogo (risos).

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DC – A tua garra em quadra vem do teu pai?

Guga – O meu pai conseguiu transmitir a imagem para os filhos de super-herói. E ele estava sempre envolvido no esporte. Bocha, tênis, basquete, vôlei. Isso envolveu o nosso interesse imediato ao esporte e sentíamos que ele era uma paizão imbatível. Naquela época era diferente. Não existia referências mundiais. Naquela época, para ter um ídolo internacional era muito difícil, não se passava os jogos na TV. O meu ídolo era o número 1 de Florianópolis, que nem era profissional. Esses caras para mim eram quase de outro planeta. Fui assistir ao vivo um tenista profissional com 16 anos quando fui para Roland Garros pela primeira vez. Internamente, na cabeça, montei uma imagem de conquista no esporte.

DC – O teu pai incentivou muito você e seu irmão a praticar esportes. Como você será com seus filhos? Incentivará eles para o esporte de alto rendimento?

Guga – Eu acho que o esporte é uma veia de educação e de caráter muito importante. Claro que sou suspeito para falar porque vivi na pele o esporte. Eu acredito muito que é uma iniciação excelente para a vida e começa a dialogar com algumas sensações que a vida vai te apresentar mais cedo ou tarde. São coisas necessárias para formar o caráter. Disciplina, a tolerância, o respeito com os outros colegas, a interação de um grupo, força de vontade. Acho que o esporte tem capacidade de ensinar isso de forma natural e lúdica. E quero que meus filhos possam curtir isso. Me deram essas condições quando criança e essa é a intenção com meus filhos. Mas não penso a longo prazo não. A vida não é tão controlável assim. Não vou pensar em colocar a Maria Augusto ou o Luiz Felipe para jogar profissionalmente. Eles tem que caminhar com as próprias pernas. Além disso, eu gosto do esporte e acho que é um ambiente muito saudável.

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DC – Qual a maior lição que o teu irmão Guilherme te ensinou?

Guga – O Gui me ensinou muito. Mas o principal dele era acordar e já estar feliz. Tem situações em que buscamos algo grande e depois que conquistamos já não serve mais.O Gui dava, de uma forma evidente para a gente, uma demonstração de felicidade com o mínimo possível. Com uma palavra, um gesto, uma palma. Era pouco. Um mínimo que trazia uma felicidade não só para ele, mas para todos. Ele era o nosso professor, me ensinou a ser humilde. A perceber que não vivemos sem a ajuda de outras pessoas. A união familiar que ele trouxe também. Cada melhora dele era comemorada na família. Ele que definiu a minha filosofia de vida. Foi através dele que montei a minha visão de vida.

DC – Muitos atletas brasileiros quando estão no auge preferem sair de suas cidades para morar em grandes centros do país, pois facilita em acertos comerciais e outras coisas. Por que você nunca deixou Florianópolis?

Guga – O meu envolvimento com Floripa é total. Eu chego a falar no livro que aconteceu todo esse desenvolvimento na minha carreira porque eu estava em Florianópolis. Seria muito difícil eu conseguir administrar o meu sucesso depois de Roland Garros se não estivesse em Floripa. Me sentia protegido. Na cidade me enxergam como um amigo, um manezinho. Durante a minha carreira voltava para casa e depois saía me sentindo invencível. Era uma formatação que funcionava muito bem. Depois de ir ao limite, com a pressão de jogo, voltava para Floripa sem energias e depois saía renovado. Na época, a cidade era ainda mais pacata. Um respeito muito grande que as pessoas tinham. O DC mesmo que sempre respeitou a minha privacidade, mesmo no auge. Nunca passou pela em minha cabeça morar em outro local. Florianópolis foi muito importante para o meu sucesso. Eu tenho muito apego pela cidade e me identifico com os locais da cidade e a maneira de viver do manezinho e com os símbolos da nossa cidade. Aqui é o local onde tudo está ao meu favor. Tem praia para dar uma desopilada, caminhar de pé descalço.

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DC – Você já pensou em fazer um filme ou documentário?

Guga – Já tive muitos convites, do livro antes de lançar esse também. Eu acho que é o que ira acontecer. Um documentário da minha carreira, ou mesmo um filme. Quem sabe daqui a três anos. Acho natural depois de sair o livro.

DC – A biografia do tenista Rafael Nadal mostra um atleta que vence muito por causa da força mental. Você também era assim. Cabeça forte também vence jogo? Guga – Sem dúvida. Eu acho que o que mais identifica eu e o Nadal como jogadores é a força mental, de superação e batalha. E Roland Garros é o local onde mais se exige essa característica. Em ambos é evidente a capacidade de enfrentar jogadores melhores e vencer, é gostar do desafio e achar prazer. E isso é desde os meus 15 anos. E não é só natural. Isso é aprendido e treinado. A crença mental é o diferencial de um campeão. Acho que é obrigatório para um tenista que quer estar no topo. Ele tem que confiar em si mais do que qualquer outra coisa.

DC – Você sempre gostou de violão e de cantar. Continuas arriscando algumas notas?

Guga – Cantar agora é todo o dia, mas a música é diferente. O que faz sucesso lá em casa é a Galinha Pintadinha, Balão Mágico e umas outras musiquinhas em inglês que a Guta gosta. Isso é muito legal, é uma lembrança forte do meu pai também e traz uma interação muito boa para a família.

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