A paralisação dos caminhoneiros, que durou 10 dias no fim de maio, mudou a rotina das pessoas e evidenciou a dependência da sociedade por determinados recursos e serviços. Serviu ainda para que a população encontrasse alternativas para enfrentar a escassez de alimentos, serviços, combustíveis e transporte. Alguns blumenauenses viram no momento de crise a oportunidade para mudar e adotar novos meios de mobilidade.

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O casal Jim Clayton Teske e Larissa Gidsicki Teske foi afetado com a falta de combustível nas bombas. Eles encontraram na bicicleta o meio ideal para se locomover, não somente pela economia, mas também pela questão ambiental.

– A gente já tinha o hábito de todo o domingo alugar bicicletas e pedalar, então quando surgiu a paralisação, pensamos em pegar novamente para ir trabalhar durante a semana, com isso fazendo economia de combustível e também usando um veículo não poluente. A Larissa até questionou: “E quando acabar, o que vamos fazer?”. A decisão foi continuar – afirma Jim, apontando que a atitude serve como atividade física.

Para Catarina de Fatima Gewehr, especialista em psicologia dos desastres e emergências, durante a crise foi preciso tocar a vida com outras estratégias, que não são habituais, como andar de bicicleta, pegar carona e ônibus.

– A crise foi ruim, mas as pessoas tiveram nela uma oportunidade de descobrir coisas novas e nessa descoberta vão poder dar um tom, que pode ser boa e evoluir para um bem-estar global. Além disso, essa mudança permitiu tirar a cidade do anonimato do cotidiano – pondera Gewehr.

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O advogado Jim afirma que ao mudar a rotina e deixar o carro de lado conseguiu perceber o meio ao redor e observar mais a cidade em que vive:

– No período da paralisação tivemos mais um pouco de contato com as coisas em volta, de carro passa rapidinho e não se aprecia a paisagem. De bicicleta foi possível ver as lojas, árvores e praças.

O consultor comercial Tiago André Fischer notou a corrida por combustíveis nos postos no início da paralisação e não quis entrar nas filas. Ele decidiu ir para o trabalho a pé e manteve a caminhada na rotina após o fim de paralisação, por entender que além de economia, também se favorece como atividade física.

– Em alguns períodos precisei de carona ou Uber, mas grande parte das vezes foi a pé que fiz os 3,5 quilômetros da minha casa até o meu trabalho. Para mim foi tranquilo fazer o trajeto e o interessante que fico mais disposto pela manhã. Já fazia caminhada depois do trabalho, agora indo e voltando, já consigo unir o útil ao agradável – afirma Fischer.

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Para a especialista em trânsito Márcia Pontes, algumas pessoas aproveitaram o momento de crise para refletir o quanto são dependentes dos veículos motorizados e com isso se lembraram das formas mais primitivas de mobilidade: a caminhada e a bicicleta.

– Quem sabe as pessoas redescubram também a cidade onde vivem. Talvez este episódio também sirva para os gestores repensarem a mobilidade, não somente para os carros – cita Pontes.

Especialista aponta nível de consciência para mudanças

A especialista em psicologia dos desastres e emergências Catarina de Fatima Gewehr alerta que como o ritmo do processo da vida é tão acelerado, a tendência é que as mudanças sejam momentâneas, mas é possível sim continuar com essa experiência de forma plena.

– A experiência humana é complexa, a crise é uma oportunidade, mas ela por si só não é garantia de que as modificações que ela produz sejam permanentes. O que faz que seja permanente é o nível de tomada de consciência sobre a situação que gerou a crise. Por exemplo, as pessoas vão começar a pensar que se for de carro vai poluir, mas quer respirar um ar mais leve. Com isso, ela vai mudar não por causa da crise, mas porque aprendeu algo definitivo, que vai mudar o comportamento – reflete.

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Casal decidiu compar bicicletas próprias

Jim e a Larissa decidiram comprar bicicletas para eles. Planejam continuar a ir para o trabalho, fazer compras e visitar outros lugares pedalando.

– Muitas vezes é necessário uma dificuldade para sair da zona de conforto e a paralisação nos forçou a isso – afirma o casal.