Esta quarta-feira vai ser um dia de muitas lágrimas, abraços, sorrisos e despedidas na esquina das ruas Aquidaban e Otto Boehm, que liga o Centro aos bairros da zona Leste de Joinville. É o último dia de uma história que começou há 59 anos, quando Elvira Boehm Rother resolveu abrir um secos e molhados numa rua de chão batido quase sem casas. O bar e mercearia até teve um nome, mas ninguém lembra ao certo. Ficou conhecido mesmo como bar da dona Mausi.

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A amizade com os clientes e a vizinhança é a chave da resistência do estabelecimento comercial. Em meio a lojas de luxo, quase no Centro da cidade, o bar simplicidade. São ovos, temperos, frutas frescas, brinquedos artesanais, aviamentos, perfumes, bebidas, produtos de limpeza, biscoitos, pães… tudo num pequeno espaço, de frente para o trânsito intenso e agitado da esquina.

Quando percebeu que haveria de entregar o local, já que não tem como investir em uma reforma, necessária, urgente e cara: a neta de dona Mausi, Rogéria Greissy Braga decidiu entregar o ponto e partir para junto da mãe, que mora em Brasília.

Rogéria foi criada desde os seis meses de vida pela avó, cresceu entre os produtos do secos e molhados, brincou entre pilhas e mais pilhas de cadernetas nas quais eram anotadas as contas semanais dos clientes. Há alguns dias, quando definiu o dia 10 como o último do comércio, mandou fazer uma faixa e instalou na porta da frente do bar.

– Foi a maneira que encontrei para agradecer tanto carinho.

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Desde então, a cada cliente que entra uma emoção diferente toma conta dela e da ajudante, Dulce Schubert, que atende no local desde quando Rogéria era criança.

Produto da época

Cada geração que trabalhou no bar é reconhecida por alguns produtos. Dona Mausi fazia sorvete como ninguém. Muitos clientes andavam do centro até a mercearia para experimentar. Numa das fotos que Rogéria guarda com carinho, a avó aparece entre centenas de produtos de aviamentos, caixas, bebidas e bolsas penduradas. Naquela época, produtos coloniais eram tão comuns que ficavam quase escondidos entre as “novidades”.

Hoje, é exatamente o contrário. Rogéria é conhecida por vender ovos vermelhos graúdos, bonitos, aipim que derrete na primeira fervura, galinhas caipiras _ produtos coloniais que já não se encontra com facilidade nos mercados.

Durante algum tempo, o almoço da casa era saboreado com o aroma do frango assado e do churrasco oferecidos aos clientes. Nos fins de tarde vizinhas chegavam para tomar café, conversar, dividir os problemas e as conquistas do dia.

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– Essa é uma diferença grande. As pessoas vinham para cá, como se fosse um consultório sentimental -, diz Rogéria.

Ao fechar o bar no fim da tarde desta terça-feira, Rogéria coloca um ponto final nesta fase da vida da família em Joinville. Ela vai morar em Brasília onde está a mãe, uma irmã e outros dois irmãos, mais novos. Deixa muitos amigos e promete visitá-los a cada ano, quando virá á região para curtir as o litoral.

– Passa esse momento, mas a gente vai estar todo ano por aqui.