A segunda-feira (15) marcou os 100 dias de guerra na Faixa de Gaza. Apesar do noticiário reservar cada vez menos espaço para o conflito que se intensificou em 7 de outubro de 2023, os bombardeios e a ofensiva terrestre de Israel seguem violentos, e pelo menos 23 mil pessoas morreram, principalmente crianças, jovens e mulheres.

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O governo brasileiro fez 11 voos de repatriação e resgatou 1.525 pessoas e 53 animais domésticos. Pelo menos duas famílias de palestinos que vivem na Grande Florianópolis estão empenhadas em trazer seus familiares. A intenção é incluir o nome de 19 pessoas na lista do próximo voo do governo. Para isso, no entanto, terão que ser vencidas questões burocráticas junto aos governos do Brasil, de Israel e do Egito.

O corretor de imóveis Ahmad Khaled, 36 anos, morador de São José, na Grande Florianópolis, conta que passou o nome de duas irmãs e de 13 sobrinhos para a representação da embaixada do Brasil em Ramalá, na Cisjordânia. Ahmad é filho de brasileiros e mora com os pais, os quais enfrentam problemas de saúde e precisam de cuidados. A apreensão é grande:

— Temos buscado todas as formas de contato, porém, até o momento não tivemos respostas. Nossos familiares perderam tudo, estão num campo de refugiados e desesperados com a situação — conta o corretor, que mora há quatro anos em São José.

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“Buscamos um vislumbre de esperança”, diz jovem que sonha em deixar a região

Ahmad está preocupado com a situação dos parentes, como da irmã Salem, 24 anos, e do marido dela, Majed Saleh, 25 anos.

Com a ajuda de Ahmed, o NSC Total conseguiu um vídeo gravado pelo casal de arquitetos no campo de refugiados. Na gravação, eles que se casaram uma semana antes do começo da guerra, contam que perderam a casa e foram deslocados de Gaza para as cidades de Deir al-Balah, Khan Yunis e Rafah.

Veja o vídeo:

— Não conseguimos viver uma vida feliz em nossa casa, que foi completamente destruída. Não me sobrou nem um pedaço de pano para me aquecer —, conta Salem.

Ao lado do marido, a jovem arquiteta continua:

— A destruição aqui não pode ser imaginada pela mente humana. Não há mais casas, ruas ou infraestrutura. Mesmo o abrigo em que vivemos atualmente não protege uma pessoa do frio. Com a falta de alimentos e de roupas, não há vida. Buscamos um vislumbre de esperança — diz.

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“Esperamos que o governo Lula consiga negociar um novo voo”

Shahla Othman, coordenadora, do Comitê Catarinense de Solidariedade à Palestina, diz que está tentando contato com a Embaixada do Brasil, mas sem retorno.

— Desde a última semana de dezembro enviamos mensagens para uma pessoa responsável pela documentação no escritório do órgão e as mensagens não foram visualizadas, diferente do que sempre acontecia — conta.

Para ajudar, foram acionadas organizações como o Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz) e o Comitê Nacional de Solidariedade à Palestina.

— Seguimos na expectativa que o governo do presidente Lula consiga negociar um novo voo para trazer outros palestinos — diz Shahla.

Ampliar o leque para outras pessoas refugiadas

Ainda não há previsão do novo voo para repatriamento, mas as articulações estão ocorrendo para que a listagem chegue em tempo e as prioridades obedecidas.

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Bruna Kadletz, diretora da Organização Círculos de Hospitalidade, observa que ainda são poucas as pessoas refugiadas no Brasil reconhecidas como palestinos oriundos de Gaza. Para a ativista, seria importante abrir uma frente política que considerasse o direito das pessoas — como aquelas casadas ou com outro grau de parentesco — que levasse em conta a relação com o refugiado já vivendo no Brasil.

— Isso com certeza ajudaria muito em todo o processo — diz.

A cada dia, 250 palestinos são mortos

A guerra começou em 7 de outubro, com um ataque de milicianos do Hamas em solo israelense a partir da Faixa de Gaza, resultando em cerca de 1.140 mortes, na maioria civis, segundo dados israelenses compilados pela AFP. O último voo da Força Aérea Brasileira chegou ao Brasil em 23 de dezembro de 2023.

Em nota, o Fundo das Nações Unidas (Unicef) confirmou nessa quarta-feira (17) a terrível realidade: cerca de 700 mil crianças estão sem escola na Cisjordânia e outras 625 mil na Faixa de Gaza. No norte de Gaza, centenas de milhares de famílias permanecem isoladas e inseguras, com infraestrutura e serviços essenciais, como hospitais e saneamento básico, totalmente dizimados.

A população vive no risco constante de passar fome, contrair doenças, sofrer ferimentos e morrer. Há ataques constantes a casas, escolas, hospitais e abrigos de norte a sul, as ordens de transferência não podem oferecer segurança.

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“Faz-se necessário, mais do que nunca, que os líderes mundiais garantam um cessar-fogo agora. A cada hora que passa, mais e mais crianças estão pagando o preço do fracasso da política com suas vidas e seu futuro. Até que o cessar-fogo seja garantido, não haverá lugar seguro em Gaza”, diz a nota do Unicef.

Conforme estimativa da Oxfam, rede global que presta auxílio humanitário, 250 palestinos são mortos por dia em Gaza, maior número já observado em qualquer outro conflito no mundo no século 21.

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