A família mais unida e ouriçada da TV brasileira vai dizer adeus em 2014. Após 13 anos no ar, Lineu, Nenê, Bebel, Agostinho, Tuco e companhia vão se despedir em 23 episódios, que estreiam em 10 de abril.
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A 14ª temporada de A Grande Família promete ser especial para o público e, principalmente, para a equipe. A difícil decisão de encerrar uma das séries nacionais mais longevas veio de forma planejada e consensual entre elenco, autores e direção. Mesmo assim, emociona.
– É uma sensação que vai ser única nas nossas vidas e carreiras. Vamos entrar em outro estágio. Não sei como será viver sem esses personagens. Como viver sem a Dona Nenê, que já habita em mim – afirmou Marieta Severo, intérprete de Dona Nenê, na coletiva que apresentou a última temporada da série, na segunda-feira (17/3), no Rio.
– Essa ficção está tão incorporada que já faz parte da gente, já habita em mim de uma forma avassaladora. Como é ficar sem isso? Nada é parecido. Em 14 anos, a gente já se encontra mais entre nós do que com nossa própria família – completou a atriz.
Para Guel Arraes, diretor de núcleo, a trama deixará saudade:
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– Conseguimos programar o final de forma muito madura. A gente fica triste porque vai acabar. Por outro lado, deixar saudade é um bom indicativo de que esse programa foi muito feliz para todos nós.
Confira a trajetória da série em fotos:
Fórmula de longevidade
Desde 2001 no ar, a série, que retrata de forma bem-humorada o cotidiano de uma família tipicamente suburbana brasileira, foi se reinventando nas histórias, mas sempre mantendo o ritmo e o apelo popular. Para a equipe, era um desafio manter a qualidade. Por isso, todos destacaram a satisfação e o orgulho por mantê-la no ar durante tantos anos.
– Quando comecei esse programa, briguei porque achava que não passava de 17 episódios. Já passamos dos 400 – enfatizou Guel.
– E você nos chamou para 12 – brincou Marieta, que aproveitou para elogiar a qualidade do texto. – É um programa que, a cada ano, começa com um frescor, com um estímulo novo – afirmou.
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Coesão e comprometimento de toda a equipe foram a fórmula do sucesso do seriado na análise de Marco Nanini, que interpreta Lineu:
– Somos um elenco que soube atravessar e vencer a rotina. Felizmente esse grupo vai deixar saudade. Estamos felizes por terminarmos bem, sem problemas. Isso é um presente que os profissionais recebem e que eu agradeço a todos aqui.
O desafio maior é fazer aquela que deve ser a mais emblemática temporada da série, justamente por ser a última:
– Escrever os últimos 23 episódios é ao mesmo tempo uma honra, uma responsabilidade e um certo susto. A gente vai fazer a última temporada daquela que talvez seja a série mais importante da TV brasileira. É assustador, obviamente – confessou Mauro Wilson, um dos escritores.
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As lágrimas de Guta
Guta Stresser, a Bebel, era a mais emocionada na coletiva de imprensa Nas primeiras palavras de Guel Arraes, a atriz já começou a chorar.
– Vou passar o ano inteiro chorando. Passa um filme na cabeça. Esse foi o meu primeiro trabalho. Isso mudou a minha vida.
O medo de interpretar um mesmo personagem por tanto tempo existe, mas não abala a satisfação de estar em uma série tão popular.
– Em nenhum momento nesses 13 anos pensei em não fazer mais o papel. É lógico que a gente pensa que vai ficar estigmatizado. Mas a força de interpretar a Bebel é muito maior do que qualquer medo.
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Como Pelé e Coutinho
Sentados em lados opostos, Guta Stresser e Pedro Cardoso quase não se olharam durante a coletiva. A situação deixava no ar a desconfiança de resquícios do desentendimento vivido pelos dois em 2012 – quando teriam discutido durante as gravações.
Discreto durante todo o evento – quase não falou – Pedro desmontou qualquer dúvida de que a situação ficou no passado:
– Tive uma imensa felicidade de encontrar a Guta. Em 14 anos tivemos situações que resolvemos imensamente bem, ela é minha grande parceira. São coisas raras, como Pelé e Coutinho.
– Resta saber quem é Pelé e quem é Coutinho, né, Pedro? – de pronto, a atriz interveio – Com certeza, você é Pelé e, eu, o Coutinho – brincou o ator.
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Ao final, Guta comentou mais sobre a relação com Pedro:
– Aquele desentendimento entre eu e o Pedro, nem nenhum outro drama que a gente (o elenco) viveu nesse tempo todo abalou o nosso imenso amor e alegria de fazer esse programa e esses personagens – disse Guta, complementando que Pedro Cardoso sempre foi um ídolo para ela.
Versão original da série começou em 1972
A Grande Família (1972 – 1975) foi a primeira comédia de costumes exibida na Globo. No início, o seriado – inspirado na série norte-americana All In The Family, produzida pela Rede CBS a partir de 1971 – foi escrito por Max Nunes e Roberto Freire e dirigido por Milton Gonçalves. Em 1973, Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa adaptaram o seriado à realidade nacional. Em abril daquele ano, a família ganhou características brasileiras e foi morar num conjunto habitacional do subúrbio. Os novos roteiristas abordavam os problemas e as ansiedades da classe média, como o aumento do custo de vida, a alta dos aluguéis e a falta de perspectivas para a juventude. O resultado da mudança foi imediato, e em dois meses a audiência do programa subiu.
Para Oduvaldo Vianna Filho, A Grande Família era uma ironia das dificuldades vividas pelo povo e uma crônica da família brasileira. O autor diz que o seriado apresentava uma “democratização do fracasso”, não no sentido da derrota, mas da solidariedade com “pessoas que, sem estar no topo, enfrentam e vencem as situações da vida”.
Participações especiais
O fim de A Grande Família começou a ser delineado na temporada passada, quando Lineu (Marco Nanini) e Nenê (Marieta Severo) saíram a viajar em um barco. O público entrará em uma viagem no tempo para acompanhar dois momentos marcantes dos Silva.
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Num primeiro, um retorno a 1974, ano em que Lineu e Nenê se conheceram. No outro, 20 anos mais tarde, o início da relação entre Bebel (Guta Stresser) e Agostinho (Pedro Cardoso).
No tempo presente, crises pessoais marcarão a trama. Os desejos dos personagens vão ser revelados – como o de Nenê, que adoraria ser mais que uma mãe e dona de casa. Ela recorre a uma analista para resolver essas suas questões existenciais. Surgirá a primeira participação especial. Caberá a Eva Wilma fazer a analista.
Outro conflito será vivido pelos pais. Agostinho e Lineu, enfim, vão inverter os papeis, cabendo ao primeiro o posto de chefe da família. E Bebel vai querer aumentar a família.
Grazi Massafera será outra que participará da trama. A atriz interpretará uma dançarina de casa noturna e suposta mãe biológica de Lineuzinho, o bebê pré-adotado por Nenê e Lineu.
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Maria Clara Gueiros volta a viver Lurdinha e deve ter uma participação constante na série. Também devem fazer uma visitinha para os Silva Gregório Duvivier, Bruno Mazzeo e Álamo Facó.
*A jornalista viajou a convite da TV Globo.
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