O pequeno Adrian saiu de casa no último fim de semana com uma missão: participar de uma corrida noturna no Centro de Blumenau. Por se tratar de um menino de 10 anos, já era um grande feito que muita gente grande não consegue. Mas ele ainda protagonizou uma cena comovente. O garoto, diagnosticado com autismo, estava prestes a desistir da prova, a poucos metros da linha de chegada, quando o público mostrou o poder do esporte e a importância do apoio.

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A professora e a mãe de Adrian entraram na pista, na Rua das Palmeiras, e começaram a incentivá-lo até que surgiu uma terceira voz: a do público. Aplausos e gritos apoiaram o menino para que ele fosse até o final. O vídeo feito pela avó coruja mostra que o gesto foi como uma injeção de ânimo no neto (assista abaixo).

— Ele me disse que não ia conseguir. E eu disse que sim, que ele conseguiria. Aí olhei para a professora, ela olhou para mim, falou para pegar na mão dele. Percebi todo mundo batendo palma, ele deu um pico na corrida e encheu meus olhos de lágrima. Foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, o melhor presente de Dia das Mães, eu nunca vou esquecer — conta Lene Ferreira do Nascimento.

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Adrian é um dos oito integrantes de um projeto voluntário chamado Correr para incluir. Criado há pouco mais de um ano, o propósito é simples: permitir que todos sintam a energia proporcionada pelo esporte, independente da condição física. Elaine, de 34 anos, foi atropelada quando era criança. Kevin, de 14, tem paralisia cerebral. Lucas, 31, perdeu as pernas em acidente de trabalho. Maria Eduarda, 17, Carlos Peixer, 53, têm síndrome de Down.

São histórias diferentes, desafios diferentes, mas todos se cruzam nas pistas de corrida. Ali o objetivo não é ver quem chega primeiro, e, sim, incluir quem por algum motivo acreditava que não poderia correr, conta a professora à frente do projeto, Bárbara Lemfers. Isso, aliás, não é só sobre pessoas com deficiências, mas também idosos e pessoas obesas.

Para a educadora física, a iniciativa é sobre pertencimento. Quem pode, corre sobre as próprias pernas; quem não pode é levado no triciclo. Ninguém fica sozinho.

— Isso para mim é um bem muito valioso. Espero que o projeto cresça e não acabe. Não tem dinheiro no mundo que vai pagar isso, jamais — diz, emocionada, Bárbara.

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A professora não está sozinha na missão e conquistou uma rede de apoio. Cada um ajuda como pode, inclusive a comunidade. Os triciclos que o Correr usa para participar de provas vieram de doações e ações solidárias. Os condutores dos triciclos também são amigos e até outros professores de educação física. É um trabalho coletivo.

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Ejanira da Costa conta que Elaine tinha apenas 10 anos quando foi atropelada na calçada, sofreu traumatismo craniano, perdeu movimentos e a fala. Ela e o marido se dedicam desde então às sessões constantes de fisioterapia da filha e outros tratamentos. A satisfação está nas pequenas conquistas e na alegria no rosto da jovem a cada corrida de triciclo:

— É uma alegria sem tamanho ver a felicidade dela. É muito emocionante vê-la interagindo na sociedade.

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O sentimento é reciproco para a mãe do jovem Kevin, de 17 anos. Fabiane Neves diz que no vaivém de médicos, tratamentos e tarefas obrigatórias, a corrida é um momento de alívio.

— É tudo tão pesado, o que ele vive por causa do tratamento, que isso aqui é diversão. É a oportunidade dele participar de igual para igual — pontua.

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