Por falta de conhecimento técnico, busca de melhor remuneração ou má-fé de gestores, alguns fundos ou autarquias de previdência de servidores públicos de Santa Catarina estão tendo perdas milionárias. Estes exemplos servem de alerta para quem busca aplicar seus recursos em fundos de investimento.
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O prejuízo da São José Previdência, fundo dos 2.271 servidores da prefeitura de São José, na Grande Florianópolis, é um dos maiores do país proporcionalmente ao número de participantes. A autarquia deveria ter um patrimônio de R$ 114 milhões, mas tem disponível, hoje, apenas R$ 38 milhões, o que indica perda de R$ 74 milhões – 64,9% do total.
O último prejuízo, ainda não apurado totalmente, é da ordem de R$ 40 milhões em aplicação em fundo da liquidada Corretora Diferencial. A SJ Previdência não consegue movimentar, também, aplicações de R$ 4 milhões no fundo Security, e de R$ 1,102 milhão no fundo Prev Trust. Em 2008, a São José perdeu R$ 30 milhões no fundo Atrium.
Fundos de pensão no país buscam maior rentabilidade
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Os fundos de pensão brasileiros devem seguir normas de segurança e transparência do Banco Central, mas têm meta atuarial para atingir (rendimento real descontada a inflação), que este ano é de 6%. Como a meta é elevada frente à taxa Selic, que hoje está em 7,25% ao ano e remunera os títulos do governo, muitos gestores da área de previdência aplicam em fundos que pagam mais do que os tradicionais e mais seguros do Banco do Brasil e da Caixa, e em renda variável.
No mercado, há oferta de fundos de maior risco, mas que pagam taxas maiores. A Diferencial Corretora, onde foram aplicados R$ 40 milhões do fundo de São José, teve liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central no ano passado por praticar preços fora do padrão de mercado em benefício próprio e de terceiros. Há informações de que o mercado sabia de problemas na Diferencial e que ela oferecia um percentual ao gestor que decidia aplicar no seu fundo.
Outros fundos de previdência em SC também perderam dinheiro. O da prefeitura de Florianópolis teve, em 2004, um prejuízo de R$ 18 milhões em aplicação, no Banco Santos, instituição que foi liquidada.
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A Fundação Celos, dos funcionários da Celesc, perdeu R$ 44 milhões em 2008 ao investir na usina hidrelétrica da Cebel, de Roraima, porque a construtora não tinha renovado o seguro e uma chuva levou a barragem.
Segundo o secretário de Administração e Previdência, Gustavo Miroski, dos R$ 18 milhões perdidos em Florianópolis, foram recuperados R$ 12 milhões, por isso as perdas atualizadas somam R$ 33 milhões.
Estudo vai apontar alternativas
O prejuízo na SJ Previdência é um dos maiores problemas herdados pela prefeita Adeliana Dal Pont, que assumiu a administração no mês passado. Ela recomendou ao novo presidente da autarquia, Constâncio Krummel Maciel Neto, e ao diretor adjunto, Luis Fabiano de Araujo Giannini, a contratação de uma auditoria para apurar os prejuízos e as irregularidades, caso houve, e tomar todas as providências contra os responsáveis.
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A prefeita solicitou estudo para definir como esses recursos poderão ser repostos no fundo nos próximos 30 anos para que a prefeitura não tenha que pagar tudo de uma vez. As últimas perdas, a partir de 2010, ocorreram na gestão de Djalma Berger, quando a SJ Previdência era presidida por Telmo Padilha, que não foi localizado pela reportagem. A primeira, em 2008, foi do prefeito Fernando Elias.
Fundo dá como certo perda de R$ 13 milhões
Segundo Maciel Neto, o fundo da Diferencial foi aberto em junho de 2010 e logo no mês seguinte, julho, a SJ Previdência fez a primeira aplicação, de R$ 15 milhões. Em 2011 e 2012, foram feitas mais aplicações, até um mês antes de a corretora ser liquidada pelo BC, em agosto de 2012.
Conforme Gianini, está certo que, desse fundo, São José perdeu R$ 13 milhões, relativos à participação do banco BVA, também em liquidação. A carteira tem parte de títulos do Banco Panamericano (quebrado), empresas privadas e títulos do governo. Em função do perfil, quase nada deverá ser recuperado dessa aplicação no fundo Diferencial.
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– Hoje, a São José Previdência é superavitária, apesar das perdas. Temos R$ 38 milhões em caixa e estamos conseguindo pagar os nossos 170 inativos e 34 pensionistas – informa Maciel Neto. No que prestar atenção ??
Especialistas apontam cinco pontos que devem servir de parâmetro para a escolha de um fundo de investimento:
1 – Taxa de Admnistração: Se o valor for muito alto, o seu retorno poderá ficar abaixo de um investimento sem risco, como a poupança. Com a taxa Selic baixa, mesmo os fundos de renda fixa e DI podem perder para a inflação. Ferramentas na web ajudam a comparar fundos.
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2 – Composição da Carteira: Busque informações mais detalhadas sobre o fundo. Procure saber se ele investe em papéis prefixados ou pós-fixados. Caso ele invista em CDBs, analise se o banco que os origina está indo bem. Os fundos mais seguros só têm títulos públicos e CDBs de bancos de primeira linha.
3 – Histórico do Gestor: Alguns tipos de fundos, como o multimercados e o de ações, exigem mais talento do gestor. Mesmo que um bom histórico passado não seja garantia de bons resultados futuros, é importante analisar as decisões passadas da pessoa que decidirá onde aplicar os seus recursos.
4 – Benchmark: É um indicador usado como referência de performance. Os fundos de renda fixa costumam usar a taxa DI. A meta é sempre obter resultados iguais (100%) ou superiores. Não invista em fundo que renda menos do que 95% do benchmark.
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5 – Relação entre os personagens: Busque informações sobre o gestor, o administrador, o custodiante e a empresa que faz a auditoria. Quanto mais estes quatro personagens atuarem de forma independente, mais segurança o investidor terá.
Esta reportagem foi uma sugestão de um leitor que preferiu não ser identificado.