Com o aumento na taxa de juros e o fraco desempenho da bolsa de valores nos primeiros sete meses do ano, aplicações consideradas conservadoras voltam a atrair atenção de investidores.
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Quem aplicou na caderneta de poupança, por exemplo, se deu melhor até agora.
Apesar de uma leve recuperação em julho, o Ibovespa, principal termômetro do mercado de ações, tem sentido a saída de investidores do país e caiu mais de 20% no primeiro semestre. É o pior resultado desde 2008, quando estourou a crise econômica mundial. Não é de agora, no entanto, que a renda variável perde para a renda fixa. Comparação realizada pelo economista Samy Dana, da Fundação Getulio Vargas, mostra que o rendimento médio do CDI (taxa de juros usada pelos bancos nas operações de empréstimos entre si), que remunera a renda fixa, teve desempenho melhor do que o Ibovespa em diferentes momentos desde o início do Plano Real.
– Com o cenário internacional confuso, a bolsa caindo e o juro subindo, a poupança se torna muito atraente – afirma Debora Morsch, gestora da Zenith Asset Management.
Com a alta da Selic em julho de 8% para 8,5% ao ano, a caderneta de poupança, isenta de Imposto de Renda, pode ser mais competitiva do que outras aplicações de renda fixa atreladas ao CDI, como o CDB e fundos DI.
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O descolamento das taxas do CDI e da Selic – que costumavam ser similares – tem complicado os investimentos renda fixa. Atualmente, a rentabilidade do CDI é de cerca de 96% da taxa Selic.
As aplicações de renda fixa tradicionais são tributadas de 15% a 22,5% sobre os rendimentos, conforme o prazo da aplicação. Se o investidor encontrar uma alternativa com remuneração de 98% do CDI, terá retorno líquido equivalente a 75% da Selic depois de seis meses. Na caderneta de poupança, ganharia 70% da Selic, sem IR.
Considerado um bom aliado da bolsa, o longo prazo não mostra bom desempenho no mercado de ações. Com uma crise americana e europeia no caminho, os rendimentos decepcionam. Investidor que aplicou R$ 1 mil no índice Ibovespa cinco anos atrás teria hoje R$ 810,59, desvalorização de 19%. Levando em conta a inflação no período, a perda chegaria a quase 38%. Para especialistas, no entanto, o índice é somente um retrato parcial da bolsa, concentrado nas ações mais negociadas.
– É preciso diversificar para que os ganhos superem eventuais perdas. Para agosto, não existe ainda tendência definida. Apesar de o Fed ratificar a manutenção dos estímulos financeiros à economia americana, não definiu o prazo em que as medidas serão mantidas – diz Hamilton Moreira Alves, estrategista do BB Investimentos.
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De acordo com Valter Bianchi Filho, da Fundamenta Corretora, a queda no índice inibe o interesse de pequenos investidores, sem muito conhecimento do mercado de renda variável, mas as perspectivas para o futuro são boas.
– O mercado já assimilou o menor crescimento do país e já está mais seguro em relação ao controle da inflação. O ambiente internacional agora terá um impacto maior – avalia.
Desconfiança afeta ações
Resultado do desempenho desastroso do mercado de ações no primeiro semestre, 25 das 65 empresas que fazem parte do índice Ibovespa estão com valor de mercado menor do que seu patrimônio líquido. A comparação é uma das medidas utilizadas por especialistas para avaliar se uma ação está “cara” ou “barata”. Abaixo de 100%, significa que a companhia está subvalorizada.
– É uma métrica, e não uma medida certeira. De qualquer maneira, preço baixo não significa que o papel esteja em conta. Se as empresas estão desvalorizadas é por algum motivo. As empresas de Eike, por exemplo, passam por uma crise de credibilidade. As estatais também. Não à toa, a Eletrobras está há anos nessa lista. Não adianta comprar papel barato se a ação nunca vai subir – alerta Valter Bianchi, da Fundamenta Investimentos.
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Nem empresas consideradas bem geridas pelo mercado passam ilesas. A gaúcha Gerdau enfrenta a queda no preço das commodities, o que acaba refletido no valor da ação.
Considerados investimentos seguros em tempos de crise, ouro e dólar foram as opções que mais se valorizaram em julho. O ouro subiu 9,73% no mês, enquanto a moeda americana à vista, referência no mercado financeiro, teve alta de 2,11%, beneficiando os fundos cambiais. O ouro, outro ativo que se destacou em julho, tem rendimento negativo de 11,42% no ano.
– Quando há um movimento de estresse na bolsa ou no câmbio, o ouro tende a valorizar no curto prazo. Para o pequeno investidor ganhar dinheiro, vai precisar conhecer o mercado – explica Leandro Rassier, agente de investimentos e educador financeiro.
Oásis na bolsa
Entre as ações que mais valorizaram, veja quanto ficaram em 31 de julho passado R$ 1 mil investidos em 31 de julho de 2008
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Ambev R$ 6.426,08
Grendene R$ 5.286,25
Souza Cruz R$ 4.182,26
Coelce R$ 3.637,52
Natura R$ 3.074,36
Baixas e sem atração
Na Bovespa, mais de um terço das empresas têm valor de mercado menor do que o patrimônio líquido. Confira algumas ações
Eletrobras 11%
OGX 23,4%
MMX 39%
Usiminas 46%
Petrobras 61%
Gerdau 83%
A quantidade de cadernetas poupança com valor acima de R$ 1 milhão mais que dobrou nos últimos cinco anos até 2012, conforme dados do Fundo Garantidor de Créditos (FGC ). Essas contas passaram de 3.822 em 2008 para 8.556 no fim do ano passado.