Havia sentido na sensação causada por Apenas o Fim (2008), filme que o brasiliense radicado no Rio Matheus Souza lançou aos 20 anos a partir da colaboração de amigos, segundo conta, com o dinheiro de uma rifa de whisky. Não se pode dizer o mesmo de Eu Não Faço a Menor Ideia do que Tô Fazendo da Minha Vida, seu aguardado segundo longa. A história da estudante de medicina deslocada (Clarice Falcão), que passa o tempo exercitando, junto a um amigo (Rodrigo Pandolfo), atividades que lembram diferentes profissões, não tem o frescor do título anterior, além de possuir uma afetação que dá a sensação de se estar diante de algo pouco espontâneo, fake. É tudo muito “fofo” – muitas vezes forçadamente -, para usar uma palavra usada à exaustão pelos personagens do filme e por sua equipe no debate da manhã seguinte.
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Entretanto, não deixa de ser positiva a sua escolha para abrir a mostra competitiva de longas-metragens brasileiros em Gramado 2012. Com seus defeitos, Eu Não Faço… é uma tentativa interessante de dar conta do vazio existencial de pelo menos duas gerações: a do diretor e a de seus pais, que têm participação fundamental na construção dramática. Por se tratar de uma comédia romântica palatável, também dá conta de unir o caráter autoral e a capacidade de dialogar com um público amplo, algo que está no cerne da permanente crise de identidade do festival. E, talvez mais importante do que tudo isso, apresenta momentos de inspiração tanto de texto (o roteiro de Matheus Souza tem tiradas divertidas) quanto de interpretação (filha de João e Adriana Falcão, Clarice é uma Mallu Magalhães de belos olhos azuis cujo talento aparece em diversas sequências, a exemplo daquela em que seu desabafo diante do pai culmina numa reversão de expectativas surpreendente e estimulante).