Minha escola iniciou um projeto muito interessante: o do ensino médio integral (em tempo integral). Não, caro leitor, ainda não estou falando sobre o novo ensino médio, esse que o governo federal anda fazendo propaganda, que retirou algumas disciplinas essenciais do currículo geral e deixou aos alunos a incumbência de escolher o que eles querem estudar (esse, aliás, é um assunto para outro texto). O projeto da minha escola é outro: aqui, as disciplinas são trabalhadas de forma integral, não há mais uma caixinha para cada matéria – até porque, na vida real, as coisas não são divididas em química, física, biologia: estão todas juntas, de modo integrado – daí vem a proposta integral.

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Apesar de a proposta ser excelente, a maioria esmagadora dos alunos é formada por meninos. Por onde andarão as meninas da mesma idade que moram nas proximidades da escola? Será possível que os pais acreditam que apenas os garotos merecem essa oportunidade?

Algumas hipóteses permeiam minha mente. A primeira delas é que as meninas estão em casa durante o dia, cuidando dos irmãos menores e limpando. Sim, esta ainda é uma realidade na vida das filhas nas famílias: assumir as funções de dona de casa. Há problema nisso? Não haveria, se o mesmo se aplicasse aos filhos homens. Mas quando a aluna é privada de uma educação mais significativa para trabalhar nos afazeres domésticos, o espírito antimachismo que vive em mim não consegue segurar os berros escandalizados.

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Outra hipótese (esta, não tão hipótese assim) é que as famílias estejam preocupadas em deixar suas meninas o dia todo na escola, longe da supervisão dos olhares paternos e maternos. Isso demonstra que a família não confia na educação que deu às suas meninas e reforça aquele ditado horroroso que diz que é necessário cuidarmos das cabritas porque os bodes estão à solta (desculpem-me a grosseria).

Uma terceira opção seria dizer que as meninas não tiveram interesse na proposta. Mas, com toda minha experiência, com todas as coisas que eu ouço das meninas com quem eu converso (e eu converso muito com os alunos), eu duvido que essa recusa tenha partido delas.

Estamos em 2017. É uma obviedade, eu sei, mas preciso repetir esse fato até acreditar, porque, mesmo com todos os avanços femininos conquistados nos últimos tempos, às vezes não acredito no que vejo. Que ano é mesmo?

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