"É o trabalhador brasileiro que não segue a sina e, mesmo no desespero, devolve o dinheiro que encontrou na esquina". A frase, que faz parte da música Heróis Invisíveis, do rapper Fábio Brazza, pode servir de resumo para a história de Ariel e Kenede.

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A última quarta-feira (17) era o terceiro dia de trabalho na nova empresa em que o gari, Roberto Kenede Silva de Souza, de 34 anos, natural de Belém do Pará, estava trabalhando. Ele estava fazendo a limpeza da Rua Theodoro Holtrup, no bairro Vila Nova, quando achou uma carteira com R$ 2,6 mil em uma das vagas de estacionamento da rua, em frente a um restaurante de comida japonesa.

Logo em seguida, Kenede, como gosta de ser chamado, não pensou duas vezes e foi atrás do dono do dinheiro para devolver. Ele entrou no restaurante e abordou Roque Ariel Boeira, de 38 anos, dono do local e da carteira encontrada.

Em primeiro momento, Ariel pensou que o homem estava ali para pedir algum favor ou algo parecido. Mas para a surpresa do empresário, Kenede lhe perguntou se ele havia perdido a carteira. Então, após apalpar os bolsos e sentir a falta do item, veio a sensação de espanto.

– Quando eu vi a carteira na mão dele foi como se eu tivesse entrado em estado de choque. O que mais me impressiona é que ele me deu a carteira, aí quis dar uma recompensa e ele recusou. A única coisa que ele pediu foi um copo d’agua, porque naquele dia estava muito quente, e logo depois saiu apressado – lembra o empresário.

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Ariel conta ainda que a atitude do gari lhe impressionou pelo fato que parecia ser algo extremamente rotineiro para Kenede e que ele saiu rapidamente pois não queria deixar o posto de trabalho por muito tempo, já que está começando no cargo.

– Esse dinheiro eu iria pagar uma compra de peixes que fiz para o feriado da Semana Santa e para o meu restaurante. Ia acabar com o meu dia quando não encontrasse mais a carteira, mas não foi – revela Ariel ,com alegria.

Ariel quis saber o que motivou o gesto de honestidade do gari e a resposta veio para causar mais perplexidade ainda.

– Eu só fiz isso porque é o certo a ser feito, sem querer algo em troca. Foi o que eu aprendi com meu pai e minha mãe. Não seria justo ficar com o dinheiro de uma pessoa que às vezes pode ser que está passando por uma dificuldade, uma doença na família ou algum outro problema. Já perdi dinheiro e sei o quanto faz falta. Quem vai me recompensar é Deus – afirma o gari.

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Kenede é filho do seu José e da dona Maria. Veio de Belém do Pará há quase três anos para tentar uma vida com melhores condições no Sul do país. Mora sozinho e procura fazer um dinheiro extra com alguns trabalhos informais para pagar sempre em dia a pensão de um filho que ficou no Norte.

Mesmo sem querer aceitar algo em troca, Kenede ganhou alguns presentes como alguns almoços de graça no restaurante japonês. Após achar um valor com quase dois meses do trabalho como gari e devolver a quantia, a honestidade lhe rendeu uma ótima história, a sensação de dever cumprido e mais uma grande amizade.