Por Maurício Cattani, NSC TV

No posto de saúde Arão Rebello, no bairro Velha Central, há oito meses não tem vacinação. O cartaz logo na entrada alega problema técnico no equipamento. A geladeira que armazena doses de vacinas está sem funcionar. A situação preocupa quem precisa de atendimento.

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– Nós estamos com essa geladeira com problema, não é de agora, já é desde o ano passado. Com a campanha da vacinação, nós poderíamos estar sendo atendidos aqui e não podemos, temos que ir para o AG da Velha, onde a população tem que esperar de duas a três horas (para ser atendido). E aqui nós temos a geladeira sem usar e temos três vacinadoras – comenta a morada Gicelia Vogelbacher.

Outro ponto preocupante é o tipo de equipamento. A geladeira utilizada na unidade é de uso doméstico, o que não é recomendado pelo Ministério da Saúde. A mesma situação se repete em pelo menos outros cinco postos de saúde de Blumenau: Alfonso Balsini, na Velha Central; no Walter Reiter, no Passo Manso; Armando Odebrecht, na Itoupava Central; Glodoaldo Lino de Amorim, no Garcia, e Geraldo Schmidt Sobrinho, no Salto do Norte.

– Quando é muito frio, os vacinadores chegam a colocar papelão debaixo do freezer para a geladeira não negativar. E no verão, ela fica acima de 8 °C, e a gente perde vacina também. Então nós temos uma perda aqui de R$ 7.891,00 de vacina – conta a conselheira de saúde e vacinadora, Elfi Schumann da Silva.

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As vacinas são sensíveis às mudanças de temperatura, por isso em algumas salas de vacinação foram instalados termostatos para não perder o controle da temperatura. Das 47 salas de vacinação, 44 armazenam as doses em geladeiras de uso doméstico. Uma vacinadora, que não quer se identificar, fala do risco de usar geladeiras de uso comum:

– Toda hora a gente está preocupado olhando a temperatura porque sabe que essa geladeira não é o ideal. A unidade fecha às 16h30min. Às 16h venho olhar a temperatura, e às 16h30min, quando eu bato meu ponto, ainda venho olhar para ver se realmente a temperatura está adequada. É um risco para o paciente.

Sala de vacinação visitada pela reportagem conta com geladeira doméstica para armazenar as vacinas
Sala de vacinação visitada pela reportagem conta com geladeira doméstica para armazenar as vacinas (Foto: Beto Espercot)

As doses das vacinas precisam ser conservadas numa temperatura entre 2 °C e 8 °C. Se isso não acontecer, compromete as doses. Como o refrigerador não é o adequado, a temperatura sobe rapidamente. Vacinadores chegaram a perder parte de um lote, por conta do equipamento inadequado.

– A gente já solicitou as câmaras frias, inclusive a Vigilância sabe que precisa ser feito isso, que precisa ter essa câmara, mas até o momento, nós vacinadores não recebemos as mesmas. A gente não perderia mais as vacinas, e também não perderia mais dinheiro público – pondera a conselheira de saúde e vacinadora, Elfi Schumann da Silva.

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A perda das doses levou inclusive a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado (Dive-SC) a emitir, em maio deste ano, uma recomendação para a prefeitura de Blumenau. O documento diz que “em nenhuma hipótese o refrigerador tipo frigobar poderá ser utilizado para a conservação de imunobiológicos”. E acrescenta: “Não recomendamos o uso de refrigeradores duplex e frost free”.

Segundo o manual da Rede de Frio, o equipamento correto é uma câmara refrigerada específica.

– A gente sabe que deveria ser outro tipo de geladeira, uma câmara fria, uma coisa que desse mais segurança para a gente. A gente questiona, mas sempre ficamos sem saber da resposta porque que a gente está trabalhando com esse tipo de geladeira – afirma uma vacinadora, que não quer se identificar.

CONTRAPONTO

A reportagem procurou a Secretaria de Promoção da Saúde de Blumenau para questionar sobre o uso dos geladeiras domésticas. A administração municipal reconhece o uso de equipamentos inadequados, mas justifica que está fazendo um planejamento para trocar as geladeiras.

– Houve essa recomendação agora, a nível nacional, de que se use as câmaras frias. Lógico que a substituição para essas câmaras gera um custo elevado, em torno de R$ 1 milhão, para você adquirir e implantar câmaras frias no município. Já existe um planejamento, estamos vendo a melhor forma de conseguir adquirir esses equipamentos, se vai ser por meio de compra ou aluguel. Até o final desse mês a gente já deve ter uma posição da empresa, para estudar a melhor forma de adquirir esses equipamentos – afirma o secretário Winnetou Krambeck.

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Dive-SC reforça a importância do uso de equipamentos adequados de conservação

A reportagem procurou a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado (Dive-SC), que é responsável pela por receber as doses do Programa Nacional de Imunização e distribuir para os municípios de Santa Catarina. Em nota, a Dive-SC reforçou que as perdas físicas devem ser reduzidas com a utilização de equipamentos adequados, orientações e capacitação frequente dos profissionais que atuam na Rede de Frio, manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos de refrigeração, controle diário temperatura, de controle de lotes e validade das vacinas, entre outras ações.

O uso de geladeiras comuns para armazenar vacinas não é proibido. A reportagem questionou à Dive-SC se são registradas muitas perdas de lotes de vacinas. Em nota, o órgão respondeu que “o uso de equipamentos específicos para conservação de vacinas, reduz significativamente o número de perdas por exposição dos imunobiológicos, porém, vale ressaltar que as perdas podem ocorrer por outros motivos, como, por exemplo, interrupção no fornecimento de energia elétrica na rede, falha de equipamento e também por vandalismo, como é o caso de desligamento do disjuntor destas unidades de saúde”.

Uma resolução do Ministério da Saúde, de 2017, determina um prazo de adequação de dois anos, e isso ocorrerá em dezembro de 2019. Porém, existe a possibilidade da portaria estadual ser alterada.