Elas viajam cerca de dois meses para ter seus filhotes na tranquilidade da costa catarinense. As aparições de baleias-francas registraram número recorde em 2012 (pelo tempo de observação) e, com elas, começa a crescer também o turismo especializado. Na Praia do Rosa, o movimento dos observadores de baleias neste ano já equivale a 57% da baixa temporada do ano passado.

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Neste ano, elas vieram em peso. Em apenas dois dias, foram vistas 103 baleias na região que vai de Florianópolis a Torres, Norte do Rio Grande do Sul. O número é um recorde, segundo o Projeto Baleia Franca (PBF) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Desde 2002, não era vista uma quantidade tão grande dos animais no mês de julho. E a temporada apenas começou. As baleias costumam aparecer até novembro.

– Sem dúvida, a expectativa é grande para os próximos meses. O número de baleias cresce em Santa Catarina em média 14% a cada ano – explica Karina Groch, bióloga e diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca.

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Estas visitas estão impulsionando o crescimento turístico das regiões por onde as gigantes do mar descansam. Imbituba já despertou para o investimento em estrutura turística para a avistagem dos animais. Há cinco anos, criou o Núcleo de Turismo Sustentável da Praia do Rosa, que reúne donos de pousadas, restaurantes e empresas especializadas na observação de baleias.

Oportunidade para a baixa temporada

Segundo a coordenadora do núcleo, Suzana Stocker Deutrich, empresários e comerciantes trabalham juntos para melhorar a qualidade dos serviços prestados no local. Só em julho deste ano, 200 turistas visitaram a Praia do Rosa com o objetivo de observar as baleias. O número representa 57% do registrado entre julho e novembro do ano passado.

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-SC), Mário Lobo Filho, avalia que o perfil de turistas de observação de baleias é interessante para a economia catarinense: exigentes, interessados em serviços de qualidade e de alto poder aquisitivo. Entretanto, segundo sua avaliação, é uma atividade turística que ainda precisa avançar na parte de divulgação.

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Atividades econômicas se unem à gestão ambiental

Ameaçada de extinção, a baleia-franca quase desapareceu do litoral catarinense na metade da década de 1970. A espécie começou a ser preservada e monitorada há 30 anos com a criação do Projeto Baleia Franca (PBF).

– O crescimento do número de baleias é resultado de conciliar a educação ambiental ao desenvolvimento da região – avalia a diretora do projeto, Karina Groch.

Segundo ela, o retorno da espécie teve ajuda de políticas de preservação, que incluem educação ambiental. Toda atividade econômica que interfira na área de preservação, como navegação de embarcações e até construção de rodovias, precisa atender a requisitos básicos previstos pelas leis ambientais.

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A chefe da APA da Baleia Franca/ICMBio, Maria Elizabeth Carvalho da Rocha, diz que o relacionamento entre as atividades econômicas e a gestão ambiental é essencial para a proteção das baleias.

– Com exceção da Península Valdés, na Patagônia, o trabalho que se faz aqui é pioneiro – diz.

Um exemplo é o Porto de Imbituba, que, embora fora da APA, ajuda no monitoramento desde 2009. O programa contribui na formação de material científico inédito.

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Caça foi proibida em 1930

O Projeto Baleia Franca (PBF) tem registros de caça e morte de baleias em Santa Catarina datados de muito depois dos acordos internacionais que proibiam a caça, estabelecidos em 1930.

Entre 1954 e 1973, há informações oficiais de 45 mortes de baleias-francas na região. Mas, baseado em relatos de caçadores, o PBF estima que o número seja muito maior, de até 350 mortes entre 1950 e 1973.

Os locais mais comuns para o abate dos grandes mamíferos eram a praia da Armação da Lagoinha, em Florianópolis, e em Imbituba.

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A gordura servia para a produção do óleo usado na iluminação no século 19 e fabricação de argamassa para a fabricação de igrejas e fortalezas. As barbatanas estruturavam espartilhos.