O ano era 1993. Chovia em São Paulo no dia em que Ayrton Senna conquistou sua última vitória em casa, no circuito de Interlagos. Contra Prost e Damon Hill, Senna largou atrás e fez do asfalto molhado do seu país em aliado para tomar a ponta e chegar em primeiro.

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Após a bandeirada, em uma das cenas mais emocionantes da história da Fórmula 1, o brasileiro vê seu carro cercado por fãs que invadiram a pista na reta oposta do circuito e foram comemorar com ele. Local, onde os carros vêm acima dos 300 km/h e precisam reduzir pela metade a velocidade antes da curva do Lago. Reta ao lado do Setor G da arquibancada, um dos mais populares e que reúne fanáticos.

Vinte e poucos anos depois, o setor que abraçou Senna é onde dois blumenauenses têm lugar cativo. Débora e Filipe Longen são apaixonados pela velocidade. Ela, a irmã mais velha, aprendeu a ser fã de Senna com o pai. Ele, o mais novo, pegou o gosto através da irmã.

– Meus pais contam que, quando eu tinha uns dois anos, eles sempre iam para o sítio de uns amigos nos fins de semana e passavam a noite toda jogando baralho. E eu sempre ficava acordada junto, mas para ver as corridas que passavam de madrugada. Não lembro disso, mas mostra que os carros correndo sempre chamaram minha atenção – conta Débora, hoje aos 28 anos e pronta para assistir de perto ao seu sétimo GP.

Irmãos vão a SP desde 2012

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Ela foi pela primeira vez a Interlagos em 2004, voltou em 2011 e, desde então, marca presença no autódromo anualmente no Setor G. Em 2012 ela ganhou a companhia do irmão Filipe, 22, fiel companheiro na velocidade. Fórmula 1, Fórmula Indy, Stock Car, corridas de kart… A velocidade é a paixão dos Longen.

– Estar lá é incrível. A sensação, sabe? Ouvir o ronco dos carros, sentir o cheiro – diz Filipe.

Sensação, aliás, é uma palavra forte nessa história. Mais forte que visão, por exemplo. Débora e Filipe mantém um outro detalhe em comum: ambos nasceram com deficiências visuais e enxergam cerca de 20%. Algo que os atrapalha? Na verdade, não.

– O carro é rápido para todo mundo, né? Não dá para enxergar muita coisa mesmo – brinca o rapaz.

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Para eles, mais do que estar lá e assistir a corrida, o ambiente de um GP é o que os motiva a viajar até São Paulo todo ano. Como fazem parte de uma torcida organizada do Setor G, reencontram em Interlagos amigos do Brasil inteiro com quem mantém contato pela internet. Lá no final da reta oposta, também conseguem uma das melhores visões do circuito, com alguns segundos a mais de visibilidade nos carros quando eles desaceleram para a curva.

Irmãos acumulam histórias em Interlagos

Entre tantas idas ao GP, do Brasil, a dupla acumula histórias e amigos. Conhecem os jornalistas que cobrem a Fórmula 1, participam de fóruns sobre o esporte na internet e conseguem até alguns acessos especiais nos dias de prova para conhecer um pouco mais dos bastidores das corridas. Em todo este tempo, no entanto, ainda não conseguiram ver um brasileiro ganhar em Interlagos.

– Queria ver um piloto brasileiro vencer no Brasil, não por torcida minha, mas porque não estive lá nos anos em que Massa ganhou a corrida (2006 e 2008), e deve ser muito legal sentir a torcida toda unida gritando por ele. Também gostaria de conhecer a área dos boxes de Interlagos, por onde já passaram tantos campeões. E sonho em ir a algum GP fora do Brasil. Queria muito ir nas corridas do Canadá, Itália e Bélgica -conta Débora.

Não com um brasileiro, mas no domingo os irmãos têm a chance de assistir um título ser decidido no Brasil. E a torcida estará dividida. Nenhum deles é fã ferrenho, mas Débora espera por uma vitória de Lewis Hamilton, enquanto Filipe quer Nico Rosberg:

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– Gosto do Rosberg pela personalidade, o Hamilton é mais sério.

Independentemente do resultado da corrida, o que se sabe é que Débora e Filipe vão novamente se encontrar com Interlagos e com a velocidade em mais um fim de semana que ficará em suas lembranças, seja pelos carros ou pelos amigos do Setor G no fim da reta oposta. Lá, o coração dos dois vibra com o ronco dos motores.