Transformadora e criativa, a geração Millennial tem dispensado algumas cartilhas que pareciam escritas em pedra. André Tamura, 33 anos, e Gabriela Tamura, 30, casal de empreendedores da WeGov, empresa de inovação para o setor público, são um ótimo exemplo. Misturam trabalho com vida pessoal numa boa, convivem 24 horas por dia sem dramas (e apaixonados) e investem na capacitação de um setor desacreditado que parece perder cada vez mais credibilidade. O esforço transformador tem dado certo: o escritório instalado na Acate, na SC-401, em Florianópolis, virou referência nacional na área. Entre o trabalho e o amor, o segundo veio antes.
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Juntos desde 2012, André, formado em Economia e ex-funcionário da indústria de automação, e Gabriela, formada em Administração Pública, começaram a trabalhar juntos quando ele foi desligado da antiga empresa às vésperas do casamento.
– Pensei: e agora? Vou arrumar um emprego ou vou empreender? Aí me juntei à empresa onde a Gabriela trabalhava, que já fazia eventos para o governo, e começamos a fazer projetos internos nessa empresa, tipo uma encubação. Inserimos novos temas, que tem a ver com o mundo das startups, do empreendedorismo, mas no setor público. Como o design thinking e outros métodos de trabalho superinovadores para os servidores – conta ele, complementado por Gabriela, sobre o embrião da WeGov.
A ideia é provocar uma mudança de olhar e de método de trabalho e estimular mais transparência no setor público. Pelo ineditismo do serviço que oferece, a WeGov cresceu bastante em apenas um ano e meio de vida.
– A maioria das empresas do segmento mantém o governo do jeito que está: elas dão cursos mais tradicionais, sobre como se fazem as leis, por exemplo. Nossa referência é o setor privado, a gente pega cursos que dão certo e traz para o governo – conta André.
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Sobre o fato de trabalhar capacitando um segmento desacreditado, eles defendem:
– A gente tende a equiparar pelos maus. Mas tem muita gente no governo com essa ansiedade: ¿eu quero fazer, mas por onde começo?¿ Além dos cursos e eventos, a gente criou uma rede de pessoas interessadas em melhorar o governo por dentro. E essa rede se ajuda. Recebemos feedbacks que nos deixam emocionados, de equipes que conseguiram modificar culturas internas.
Hoje, um dos cursos carro-chefe são os treinamentos para redes sociais – o próximo, marcado para 8 de julho, será voltado para, entre outros temas, esclarecer o que pode e não pode durante as eleições.
– Eu fazia as redes sociais do governador e a gente só levava bronca. Isso era 2010, 2011, o Orkut ainda existia (risos). Nosso primeiro evento surgiu daí: afinal, como a gente faz isso para governo? – relembra Gabriela sobre o assunto que até hoje não conta com cartilhas prontas, mas a empresa se vale da elaboração de uma espécie de ¿linha editorial¿ construída com os agentes caso a caso, dependendo da instituição.
Os desafios são muitos, mas talvez o principal seja justamente falar de inovação em instituições que estão desacreditadas e desmotivadas.
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– O governo ainda não consegue agir diferente mesmo que as pessoas não tenham ¿más intenções¿. O desafio é transformar o olhar dos servidores em relação ao próprio trabalho e da população em relação ao governo.
Junto com outras iniciativas como o portal catarinense de educação política Politize!, de Diego Calegari, a WeGov representa, talvez, uma tendência de empreendedorismo que une inovação, política e altas doses de idealismo.
– Buscamos vislumbrar um futuro melhor, que ninguém sabe muito bem o que é. Propomos aos órgãos uma nova forma de se relacionar, com mais transparência. Se não fosse esse idealismo a gente estaria oferecendo os mesmos cursos de sempre e ganhando mais dinheiro – respondem, complementando as ideias um do outro.
Se depender dos pais e da premissa de que futuro resulta daquilo que fazemos no presente, Laura, a primeira filha do casal, esperada para setembro, viverá em um mundo muito mais bacana.
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