Intervalo de decisão no Pacaembu. O Santos de Robinho, Neymar e Marquinhos tinha o título do Campeonato Paulista 2010 ameaçado pelo Santo André, que igualou o 3 a 2 santista no jogo de ida. O técnico Dorival Júnior cuspia fogo para alertar os jogadores pelo placar perigoso. Porém, foi interrompido pelo som de uma narração com sotaque típico de manezinho da Ilha. Foi quando o treinador percebeu que faltava um atleta entre os 11 que recebiam a bronca. Era Marquinhos, que achou um cantinho, abriu o aplicativo de rádio para saber do andamento do Avaí diante do Joinville. Recebeu bronca dobrada. Mas festejou mais tarde de forma dupla: o Paulistão em campo e o Catarinense do time do coração.
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Por mais que tenha vestido outras 10 camisas ao longo da carreira, é a do Leão que veste bem. Não à toa o traje azul e brance foi a primeira camisa e será a última como profissional do futebol. Marquinhos é conhecido no futebol como meio-campista, o jogador que sabe bater na bola, que cobra falta e escanteio. Porém, é reconhecido como avaiano por onde vai. É mais um à moda antiga que termina a carreira. Talvez o último 10 de décadas atrás. O craque-camisa que tem no escudo algo além de adorno no lado esquerdo do peito.
— Meu sonho era fazer um jogo no Avaí. Hoje o moleque sonha com a Europa, ou difícil um jogador ficar um tempão. Jogar pelo Cruzeiro ou pelo São Paulo, como o Fábio ou como aconteceu com Rogério Ceni, é fácil, porque ganha bem. Quero saber se ficariam se ganhassem o que ganho aqui. O jogador pensa em ir à Europa ganhar dinheiro. E tem que ir mesmo, mas voltar para o clube do coração. Fui e voltei para ajudar o Avaí. Queria voltar para ajudar. Pelo novo futebol, acho difícil um jogador ser referência como fui, assim como outros em outros clube. Hoje já tem de levantar a mão para o céu quando um faz mais de jogos.
Satisfazer os anseios do coração que pedia o retorno à Ressacada – e teve quatro voltas ao clube desde a primeira saída, ao Bayern Leverkusen, da Alemanha – foi apenas atitude de um eterno apaixonado pelo Avaí. Um sentimento que ultrapassa limites e gerou o único arrependimento da carreira: “enterrar” o Figueirense em uma comemoração de gol de seu time na época, o Grêmio. Marquinhos pediu desculpas.
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Até porque a representatividade do rapaz de Biguaçu ao Leão também tem parcela alvinegra. Se Marquinhos é Avaí, o que seria do clube azurra e do quase ex-meia sem o arquirrival? Nos últimos duelos entre os dois times, M10 foi um pouco mais que um jogador. Foi ingrediente. No mais recente, foi o nome mais falado e não jogou – e não perdeu a pequena vantagem pessoal: sete vitórias, 11 empates e seis derrotas.

— Eu agradeço ao Figueirense por existir, essa rivalidade legal, de enfrentar vários jogadores e enfrentar grandes jogadores, como Fernandes, que hoje é meu amigo, e Wilson. O Figueirense também faz parte, até porque joguei na base em 1997, mas principalmente por me fazer crescer pela rivalidade — confessa.
Por mais que entre em campo neste sábado, Marquinhos vai ficar sem completar uma marca, a dos 400 jogos com a camisa do Avaí. São 398 partidas até agora, horas antes do último chute na bola da carreira como atleta – se é que vai acontecer. Como se mais um jogo ou mais chute fizessem tanta falta quanto a que o Galego vai deixar no futebol.
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