Com 520 alunos, a APAE de Florianópolis é a maior do Estado e uma das mais prejudicadas pela queda nos repasses do governo do Estado. Segundo a presidente da instituição, Elizabeth Donato das Neves, também haverá diminuição nos valores repassados pela prefeitura e as doações também têm caído em função da crise financeira. Outro grande baque foi em relação à Feira da Esperança, evento beneficente realizado anualmente para arrecadação de fundos. Desde 2014, a Receita Federal tem restringido a doação de mercadorias apreendidas, que costumava ser a maior fonte de arrecadação e garantia uma reserva financeira às APAEs.
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Para 2016, as doações não estão garantidas em função de ser ano eleitoral, mas a APAE luta na Justiça para garantir os produtos. Sem eles, não há garantias de que os funcionários receberão o 13º salário em dia. Desde o começo do ano, a instituição já precisou demitir dez trabalhadores e hoje conta com 148, ao todo. Caso precise fazer novas demissões, a presidente afirma que não há dinheiro em caixa para pagar as rescisões. Apesar disso, ela garante que o atendimento não foi prejudicado até aqui, embora não saiba por quanto tempo conseguirá manter a situação.
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— A última coisa que nós queremos é que o atendimento seja prejudicado, mas, na atual situação, com a falta de recursos, não posso garantir até quando poderemos oferecer o que estamos oferecendo até hoje — afirma Elizabeth, citando trabalhos com neurologia, fonoaudiologia, psiquiatria, fisioterapia e terapia ocupacional.
Panorama semelhante é visto do outro lado da ponte. Em São José, já ocorreram duas demissões e novas matrículas estão congeladas. Para a diretora Adriana Fidelix, caso o dinheiro do governo estadual tivesse sido repassado conforme as recomendações do TCE, o atendimento poderia ser ampliado, zerando a fila de espera.
— Com certeza a gente estaria admitindo e atendendo o corpo técnico. Temos fila de espera e hoje não temos como dar o transporte adequado para alguns alunos — afirma.
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Para Márcia Pamplona Weber, diretora-financeira da APAE de Palhoça, o dinheiro represado pelo governo do Estado poderia ser utilizado na ampliação do número de vagas — hoje fixada em 280 alunos.
— Claro que faz falta. A gente poderia melhorar muita coisa, ampliar a APAE, melhorar as salas. Hoje se trabalha com a equipe mínima necessária — diz.
Todo esse esforço para garantir a continuidade do atendimento tem afetado também a vida pessoal dos funcionários. É o que conta Neide Aparecida de Oliveira Folster, diretora da APAE de Santo Amaro da Imperatriz. Segundo ela, a queda nos repasses em 2016 chega a quase 30%, o que faz com que tenha eventos beneficentes quase todo fim de semana, entre feijoadas, rifas, almoços e até guarda em estacionamentos.
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— Não estamos aguentando trabalhar tanto. Além da jornada semanal, tem que ficar trabalhando quase todo fim de semana. Temos família — desabafa Neide.
Única opção para muitos
Sustentadas por repasses governamentais e doações, a APAE é a única opção para muitos pais de crianças portadoras de algum tipo de deficiência mental ou física, em especial para as de baixa renda. Exemplo é Gregório, de 11 anos, portador da Síndrome de Angelman, problema genético que provoca atraso severo do desenvolvimento funcional e quase ausência da fala. Segundo a mãe Marta Inês Dias, a evolução foi visível desde que ele começou a frequentar exclusivamente a APAE de Florianópolis, há dois anos e meio. Antes, ele frequentava escolas regulares, porém apresentava poucas melhoras.
— Ele tomava de seis a oito medicamento por dia, o que afetava muito o sistema nervoso central. Eu, literalmente, via meu filho o dia inteiro chapado. Depois que passou a frequentar a APAE, ele toma apenas apenas duas medicações e teve uma estabilização do comportamento. Tudo isso graças a um trabalho pedagógico dirigido — conta a mãe, uma encarregada administrativa aposentada de 53 anos.
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