Apesar da imagem positiva que os estrangeiros levaram do Brasil, a Copa apenas minimizou deficiências que o país ainda deve encarar.

Continua depois da publicidade

Interessa a todos, e não só aos envolvidos em alguma atividade relacionada com a Copa, o retrato do Brasil oferecido pelos estrangeiros em pesquisa do DataFolha. Os visitantes que estiveram aqui durante o Mundial deixaram recados claros a governantes e líderes políticos e empresariais para que o país não seja hipnotizado apenas pelo alto índice de aprovação de muitos itens avaliados. O primeiro, e o mais importante, é o que ratifica na amostragem a certeza de que os estrangeiros sentiram-se bem acolhidos. Ao responderem sobre o que o Brasil tinha de melhor, destacaram como preponderante o próprio povo, pela hospitalidade, simpatia e amabilidade. A conclusão de que 95% sentiram-se bem recebidos tem o reforço de outro dado impressionante: 69% disseram que gostariam de morar no Brasil.

Na sequência de abordagens específicas, também são positivas as avaliações de questões relacionadas com segurança, aeroportos e transporte urbano. O resultado mais comemorado mostra que a organização geral da Copa foi considerada ótima ou boa por 83% dos pesquisados. Os indicadores justificam o entusiasmo dos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o êxito do Mundial. Mas há advertências no diagnóstico deixado pelos estrangeiros.

A primeira é a desaprovação dos preços em geral nas cidades-sede, com clara indicação de que, tanto na alimentação como nos hotéis e nas tarifas aéreas, os turistas registraram abusos. Também merece atenção a baixa avaliação dos serviços de comunicação de telefonia móvel e internet. São falhas que, antes mesmo da Copa, já eram apontadas. Em relação aos preços, levantamentos feitos às vésperas do Mundial mostraram, em muitos casos, valores que caracterizavam atitudes oportunistas. Quanto às comunicações, a Copa apenas ampliou deficiências que o brasileiro enfrenta no seu dia a dia.

Atividades e itens do setor privado desaprovados pelos visitantes exigem avaliação de cada área, como os preços da hotelaria e da aviação, para que os exageros de minorias não comprometam a boa impressão que os estrangeiros levam do Brasil. Nas comunicações, o constrangimento pelas notas desfavoráveis reforça desafios que têm sido menosprezados pelas concessionárias e pelos organismos públicos encarregados de fiscalizar o setor e zelar pela qualidade dos serviços.

Continua depois da publicidade

É importante que se faça uma ressalva. Não há como pretender que uma amostragem com a visão estrangeira signifique a resolução de questões da segurança, da mobilidade urbana e dos aeroportos. Sem o efeito dos mutirões, a visão interna, de quem depende rotineiramente de estruturas e serviços públicos para tocar a vida, não seria tão condescendente. E esta é a realidade cuja melhoria depende mais da capacidade de enfrentamento dos governantes do que da Copa e de seus legados.