Aos cem anos, a gaúcha Cora Vieira Loguercio encontrou a tranquilidade em Porto Alegre. Depois de ter nascido em Hulha Negra e vivido em Bagé e Pelotas com o marido e os seis filhos, mora hoje em um amplo apartamento na Avenida Venâncio Aires, com a filha Mara, de 65 anos. Das lembranças mais remotas da infância, destaque para a simplicidade com que a vida era levada nos anos 1910, quando nasceu.

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– Eu brincava no pátio, corria, pulava corda. Eu e meus irmãos aprontávamos muito. Essa era a nossa alegria – relembra Cora.

Em um tempo em que o novo parece ter virado a palavra de ordem na hora de mobiliar uma casa, Cora tem orgulho de ter ao seu redor móveis que pertenceram a seus pais e seguem em perfeito estado. Na sala, cadeiras e um banco de madeira compõem um conjunto que já passa dos 90 anos de fabricação. No quarto com vista para a Redenção, cama e armário comemoram 74 anos de idade “sem nunca terem dado um probleminha”, confidencia a filha Mara.

E não são só os móveis que resistiram aos anos. Da tapeçaria que decora a casa aos retratos que remetem à infância e ao namoro com o pai de seus filhos, “o Doca”, a casa de Cora é o que os franceses chamariam de “pièce de résistance” (peça de resistência) aos dias atuais e ao consumo desenfreado.

– Encontra-se muita coisa antiga nessa casa, desde os móveis até eu mesma – brinca Cora, com o humor afiado que lhe é característico.

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Com lucidez ímpar e afinação de corista, Cora passa as tardes cantando músicas que a levam de volta à juventude, como O Cigano, de Altemar Dutra: “Um dia eu em Andaluzia ouvi um cigano cantar. Havia no canto a nostalgia de castanholas batidas ao luar”.

A nostalgia não estava só na música do cigano em Andaluzia, mas também nas lembranças de Cora.