Não falta disposição a Pedro Nunes da Silveira, ou Vô Pedro, como é chamado pela família. Com 99 anos recém completados – ele fez aniversário no último sábado (29), o ex-pedreiro morador do Campeche, em Florianópolis, chama a atenção ao andar de bicicleta pelas ruas do bairro, relembrar histórias com detalhes e opinar sobre os mais variados assuntos com lucidez que impressiona.

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Do alto de quase um século de experiência, ele se mostra pessimista com o futuro da humanidade e dá um recado de alerta aos mais jovens.

— Depois de tudo o que eu passei, enfrentando a miséria e a fome, queria durar mais 100 anos para ver o que vai acontecer com o mundo. Mas esse planeta não vai longe. Ele vai se acabar — comenta, lamentando a destruição dos recursos naturais e se mostrando preocupado com as crianças num possível futuro com escassez de água e de comida.

— O que vai ser daqui a 50 anos? Como é que vai ser essa terra? Me sinto muito chateado com esse troço — completa.

Ao mesmo tempo em conserva a mente ativa, acompanhando atentamente ao noticiário e refletindo sobre os problemas da atualidade, o homem de 99 anos faz questão de manter o corpo ocupado.

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De bicicleta, ele costuma dar voltas pelo bairro: compra pão e paga as próprias contas na lotérica. Sem graves problemas de saúde, toma apenas um remédio para conter o glaucoma e outro para ansiedade.

— Hoje eu estou aqui porque nunca fumei, nunca bebi e nunca fui de farra. Fui um homem que só trabalhou. Aprendi aos 12 anos, na construção civil — relembra.

"É um milagre eu estar aqui"

Natural de Santo Antônio da Patrulha (RS), Vô Pedro teve a infância marcada pela morte do pai durante o confronto entre ximangos e maragatos em 1923, no Rio Grande do Sul. Ele tinha apenas três anos de idade e, pouco depois, ficou gravemente doente, chegando a ser desenganado pelos médicos.

— Pra mim, é um milagre eu estar aqui, pelo trabalho que eu passei. Na verdade, eu poderia ter morrido 50 anos atrás, quando levei quatro facadas numa briga. Também quase morri afogado, mas continuo vivo também graças à fé em Jesus — comenta, destacando que não acredita em religiões.

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Vô Pedro
(Foto: Gabriel Lain / Diário Catarinense)

Vô Pedro conta que trabalhou praticamente toda a vida na construção civil, até quando não foi mais possível. Já em Florianópolis, para onde se mudou há aproximadamente 35 anos, abriu uma mercearia no Campeche e só parou de trabalhar quando passou dos 90. Hoje, o comércio continua aberto e é conhecido como "Mercearia do Vô".

— Isso aqui é um paraíso. Lugar melhor eu não encontrei. Pena que o homem não sabe zelar pelo que tem — opina.

Pai de sete filhos, com 22 netos e 15 bisnetos, ele não se cansa de contar as histórias que viveu aos familiares e amigos, e faz questão de lembrar a quem o encontra, falando alto e com o dedo indicador levantado:

— Vocês deveriam me ouvir.