Ao fazer uma série de pinturas com os olhos vendados entre 1959 e 1962, Tomie Ohtake estava buscando ultrapassar seus próprios limites por meio da intuição. Foi também levada pela intuição que, aos 98 anos, ela decidiu vir à Capital especialmente para a abertura de sua exposição nesta quinta-feira à noite, na Fundação Iberê Camargo (FIC).
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Andando em cadeira de rodas e com dificuldades físicas e de fala próprias da idade avançada, Tomie conferiu Pinturas Cegas na companhia de filhos, netos e amigos que viajaram juntos. A mostra estreou em abril de 2011 no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Naquela ocasião, a artista japonesa naturalizada brasileira viu reunida, pela primeira vez, a série de pinturas que hoje pertencem a coleções particulares no Brasil. A FIC é o segundo museu a receber a mostra.
Segundo parentes, a decisão de vir à Capital foi tomada pela própria Tomie quando sentiu que era um momento para aproveitar a oportunidade de ver novamente suas antigas telas.
– Ela pinta todos os dias. E, apesar das dificuldades de movimentação, está muito lúcida – disse o filho Ricardo Ohtake.
Nesta quinta-feira à tarde, Tomie já havia passado pelo museu. Depois de ver a montagem da exposição de suas pinturas abstratas no 4º e último andar da FIC, seguiu o passeio pelos andares inferiores. No terceiro, conferiu a retrospectiva sobre a artista Ione Saldanha (1919 – 2001), nascida em Alegrete. Mas foi a seguir, no segundo andar, que ela passou a maior parte do tempo.
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Diante da mostra com obras de Iberê Camargo (1914 – 1994), parou para olhar quadro por quadro as pinturas de paisagens, naturezas-mortas e dos famosos carreteis do artista nascido em Restinga Seca.
Perto das 20h, uma sorridente Tomie voltou à FIC para a abertura das três exposições. Quando chegou, virou a estrela da noite. Foi saudada pelo público, que se aglomerou ao redor dela, e logo levada ao elevador, que a transportou para o último andar. Lá, passeou novamente pela exposição Pinturas Cegas, sempre sorridente e contemplativa.
Tomie explica como dosa razão e intuição em seu processo artístico:
– Um trabalho artístico como a série Pinturas Cegas tem um componente intuitivo e de gesto que é tudo. Porém, em meus trabalhos de outras fases, a razão ocupa uma posição destacada. Justamente esse balanço entre intuição e razão acaba sendo uma das questões importantes no meu trabalho.
Autora de obras abstratas que apresentam composições com manchas e cores diluídas, Tomie confirma a validade desse tipo de pintura que nega a figuração:
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– A abstração é uma presença em muitas diferentes correntes de arte, portanto, a cada momento, aparece de um jeito, de acordo com o período que ela se situa. Isso quer dizer que o seu vigor continua a existir, de acordo com a época.
Tomie Ohtake – Pinturas Cegas
Apresenta série de obras que a artista pintou com os olhos vendados. Visitação de amanhã até 12 de agosto.
Para ver
Visitação a partir de sexta-feira (15/06), às terças, quartas, sextas, sábados e domingos (12h às 19h) e quintas (12h às 21h). Entrada gratuita.
Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000), em Porto Alegre, fone (51) 3247-8000. Estacionamento no local, entre R$ 5 e R$ 10, conforme o tempo de permanência. Mais informações no site www.iberecamargo.org.br.
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